ENSINO

Professor chileno Carlos Calvo Munõz participa de evento de extensão na UnB

 

Foto: Arquivo Pessoal


Serão três dias, de 27 a 29 de junho, e três grandes momentos do evento Diálogos Interculturais com Carlos Calvo Muñoz, que ocorrerá na Faculdade de Educação da Universidade de Brasília (FE/UnB). Calvo é professor na Universidad de La Serena, Chile, e participará de ciclo de conversas sobre pesquisa e extensão universitárias. O docente, que foi uma das primeiras pessoas a trabalhar com Paulo Freire, tem ampla experiência em mediação pedagógica e processos sociais e culturais relacionados ao aprender. Além disso, participa ativamente da discussão de políticas para a educação na América Latina.


As etapas do encontro serão: conversa sobre educação infantil; oficina interdisciplinar para discussão dos projetos de extensão e prática dos laboratórios e discussão sobre dialogicidade e educação na América Latina. O evento é realizado pela Faculdade de Educação (Laboratório Diálogos; Projeto de Extensão Semeadores de Investigação, Semillero; Projeto Autonomia e Projeto Alumiar) e pelo Instituto de Psicologia (Programa de Pós-Graduação em Psicologia e o Laboratório Ágora).


Segundo a professora Fátima Vidal Rodrigues, que organiza o encontro junto com a professora Sandra Ferraz, ambas da FE, o atual momento político suscita a necessidade de diálogo e troca de experiências e visões de mundo. “O mais importante é sentar para fazer uma interlocução mais plural, de discurso mais solidário, de compartilhamento e de escuta. Acho que, no Brasil, neste momento, estamos precisando disso: de mais escuta, de mais reconhecimento da diferença, de entendimento”, comenta.

 
Na avaliação de Calvo, a educação na América Latina está em profunda crise. “Os resultados escolares precários provam isso”, afirma. “Infelizmente, o modelo também inclui muitas universidades. As propostas que impulsionam as reformas que são implementadas na maioria dos países são apenas um retoque superficial que, embora muito caro, tem se provado inadequado e ineficiente”, critica.


Abaixo, três perguntas a Calvo:


Professor, em quê consiste sua proposta de "desescolarizar" a escola?


Calvo - A ideia germinal vem de Ivan Illich, que propôs "desescolarizar" a escola. No meu caso, eu senti que o que temos a fazer é recuperar a condição de educadora das interações escolares. O modelo para "desescolarizar" a escola é encontrado na etnoeducação e na educação informal. Educar é um processo de criação de relações possíveis, algumas das quais podem se tornar prováveis e, destas, algumas poucas poderão se realizar. Em vez disso, a escola se dá em um processo de repetição de relações preestabelecidas, e, por esta razão, o processo de aprendizagem fica estagnado e não flui. Ao educar, o aluno deve ter a curiosidade ativada com algum mistério; a escola, contudo, impõe uma resposta, que, embora seja verdade, acaba por não ter significado para o estudante, por são ser fruto de uma descoberta que ele tenha feito.  


O senhor pode comentar sobre a influência de Paulo Freire em sua formação como educador?


Calvo - Conheci Paulo Freire ao cursar o primeiro ano da universidade. Ele tinha acabado de chegar ao Chile, como exilado. Ele me ensinou sua concepção de ensino e como alfabetizar. Seu discurso em “portuñol” calou profundamente em mim, no fundo da minha curiosidade juvenil, por me mostrar que era possível educar de forma diferente do que eu conhecia e achava ser a única maneira de fazê-lo. Minha educação informal em casa, na escola e na rua me sugeriu que havia outras formas de educar, mas não conseguia perceber como poderia ser. Paulo Freire, que me impressionou bastante naquela época e o faz até hoje, não me constrangeu. Pelo contrário, ele me permitiu descobrir a dimensão política do papel do educador. (Saiba mais no artigo de Calvo “La presencia sutil del maestro: la influencia de Paulo Freire en mi formación”.)


O senhor desenvolve trabalho em educação infantil. Quais seriam os maiores desafios enfrentados pelos professores na educação de crianças?


Calvo - Permitir que o aluno aprenda brincando e possa ser direcionado ao longo do processo educativo. Estimular o espanto, a curiosidade, que lhe instigue a experimentar sem critérios preestabelecidos, de forma que a criança procure regularidades, constâncias, para construir padrões de explicações provisórios. Evitar escolarizar processos educativos, como por exemplo, colocar os pequenos para pintar em modelos já desenhados, ao passo que se poderia estimular essas crianças a criar o próprio desenho e etc.

 

Confira programação aqui:

27 de junho - segunda-feira

18h - Roda de conversa: Educação em e para os Direitos Humanos na Educação Infantil

Local: Sala Papirus, Faculdade de Educação, FE 1

 

28 de junho - terça-feira

14h - Interlocuções entre Fazeres de Pesquisa e Extensão: Oficina Vivencial
Local: Sala de Vídeo, Faculdade de Educação, FE 3

 

29 de junho - quarta-feira
18h - Diálogos Interculturais: Educação na América Latina
Local: Sala Papirus, Faculdade de Educação, FE 1