Docente na Faculdade de Arquitetura e Urbanismo (FAU/UnB) desde 1987, Marta Romero recebeu na manhã desta quarta-feira (7) o título de Professora Emérita, das mãos da reitora Márcia Abrahão. O evento ocorreu no Auditório Jayme Golubov da FAU, campus Darcy Ribeiro, Asa Norte, na presença de autoridades, colegas de academia, alunos e ex-alunos. Além de Marta Romero e da reitora, compôs a mesa de honra o diretor da FAU, Caio Frederico e Silva.

A comitiva da homenageada foi composta por Andrey Rosenthal Schlee, diretor do Departamento de Patrimônio Material e Fiscalização do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan) e docente da FAU; por Liza Maria Souza de Andrade, também docente da FAU; por Valmor Pazos, técnico administrativo da FAU; Diana Lucia Moura Pinho, professora da Faculdade de Ciências da Saúde (FS/UnB); Leonor Bertone, docente aposentada do Departamento de Geografia (GEA/UnB); e Maria Celeste Dominici, arquiteta da Companhia de Planejamento do Distrito Federal (Codeplan).

Também estavam presentes o decano de Assuntos Comunitários, Ileno Izídio; a diretora da Faculdade de Comunicação (FAC/UnB), Dione Moura; o prefeito da UnB, Valdeci Reis, entre outros. A outorga do título foi aprovada pela Resolução 25/2024 do Conselho Universitário (Consuni).

MARTA & MARTITA – Responsável por apresentar a homenageada, a linguista e professora da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) Angela Kleiman compôs um retrato tenro e abrangente da mais recente emérita da UnB. Irmã mais velha de Marta, Angela confessou dilema ao preparar o discurso: pelo ponto de vista acadêmico, deveria construir fala racional, imparcial e objetiva, contudo, os laços fraternos forjaram um relato pontuado pela afetividade.

Um meio termo foi alcançado, quando concluiu que a trajetória profissional de sua irmã, a quem chama carinhosamente “Martita”, se entrecruza com o contexto de sua vida. Quando crianças, no Chile, as duas diferiam em interesses. Enquanto Angela ficava em casa, lendo, Marta explorava o mundo do lado de fora, quarteirão a quarteirão. Ao passo que investigava os limites crescentes do bairro, Marta formava amizades e, aos poucos, foi moldando suas visões políticas e sociais.

Ingressou na Universidade do Chile em 1965, para cursar Arquitetura e Urbanismo, e atuou na construção de casas para trabalhadores, em programa habitacional do governo de Salvador Allende. Com as mudanças políticas e a instalação de governos ditatoriais na América Latina, se viu em São Paulo, anos depois, onde concluiu a graduação pela Pontifícia Universidade Católica de Campinas (PUC). Tornou-se mestra pela UnB e doutora pela Universidade Politécnica da Catalunha e, desde os anos 1980, “milita politicamente pela preservação de Brasília contra os predadores ambientais”.

Inspirada por Paulo Freire, Marta deu guinadas epistemológicas e ontológicas que culminaram na “arquiteta e urbanista, pesquisadora e professora de uma arquitetura humanizada e humanizadora”, nas palavras de Angela. “Como irmã mais velha, que ingressou anos antes na academia, eu a inspirei. Hoje, ela reverteu esse sentimento de inspiração e admiração. Muito bom, muito bem feito, te mereces, Martita”, encerrou.

Durante a cerimônia, a docente da FAU Maribel Del Carmen Fuentes, conterrânea de Marta, recitou uma música da também chilena Julieta Parra, Me gustan los estudiantes, uma ode ao espírito dos jovens e à força revolucionária que carregam.

SOCIAL E AMBIENTAL – Marta Romero, em sua fala de aceitação, destacou grandes momentos de sua carreira, pautada, desde o trabalho de conclusão de curso, nas habitações de interesse social. Com o passar do tempo, somou a preocupação com o conforto ambiental e desenvolveu estudos sobre a relação entre ambiente construído e clima e intervenções nas edificações visando ao acondicionamento ambiental.

Esses dois pilares marcaram a atuação da docente, que, entre extenso currículo, tem contribuições para o Distrito Federal e Entorno, para a própria UnB, e também para construções voltadas para atendimentos de saúde em escopo nacional.

Em Brasília, trabalhou na Superintendência do Desenvolvimento do Centro-Oeste (Sudeco) e na Codeplan, realizando trabalho para regularização de Planaltina. Atualmente, toca o projeto de requalificação ambiental e de acessibilidade para o Zoológico de Brasília.

Na UnB, desenvolveu o projeto de urbanização do campus Darcy Ribeiro para implantação do Instituto de Ciências Biológicas (IB); o projeto de reabilitação climática do Instituto Central de Ciências (ICC) – até hoje usado e reeditado em razão do aniversário de 60 anos da UnB; os projetos das Faculdades UnB Gama (FGA) e Ceilândia (FCE); entre outros.

Já no cenário nacional, trabalhou para a humanização de equipamentos de saúde, com a construção da rede nacional de hemocentros coordenadores e com a avaliação pós-ocupacional de centros especializados em reabilitação.

Lecionou e orientou vários estudantes, sendo que muitos, hoje, são colegas de docência na própria FAU. É o caso, inclusive, de Caio Frederico e Silva, diretor da FAU, ex-orientando de Marta Romero na pós-graduação, e um dos autores da proposta de concessão de título de emérita à docente.

Ademais, formou laços acadêmicos com instituições de ensino estrangeiras, o que permitiu a realização de intercâmbios de estudantes em estágio pós-doutoral. Esteve também na gênese do doutorado em Arquitetura e Urbanismo da FAU e criou o Laboratório de Sustentabilidade Aplicada à Arquitetura e Urbanismo (Lasus/FAU).

Descrita como professora com habilidade ímpar para angariar recursos para a pesquisa, é bolsista do Conselho Nacional Pesquisa de Desenvolvimento (CNPq) desde 1994, o que refletiu no seu posicionamento destacado no Scientists AD Scientific Index 2021, onde figura entre os Top 10 mil cientistas mais influentes na América Latina.

“O Currículo Lattes de Marta Romero é impecável, longo. Além de inspiração, é testemunho do amor de Marta pela UnB. Ela é exemplo de dedicação, de liderança, e de contribuição inegável para a Universidade”, declarou Caio Frederico e Silva. Mesmo aposentada da UnB em 2022, a docente segue atuando na pesquisa.

Como a reitora Márcia Abrahão destacou durante o evento, títulos de Professor Emérito são destinados aos docentes que se destacaram na Universidade e que traçaram trajetória a ser tomada como exemplo pelos colegas. São profissionais que demonstram “competência acadêmica e compromisso com a sociedade, que é o papel da universidade”.

O legado de Marta Romero atesta o mérito da honraria. Nas palavras da homenageada, “a responsabilidade social do cientista consiste no retorno e na doação de seus sujeitos”.