Reitores de 24 instituições de ensino superior lançaram, em 20 de agosto, na Universidade de Brasília, o Comitê Pró-Instituto Nacional do Cerrado. O evento, realizado no Centro de Apoio ao Desenvolvimento Tecnológico (CDT/UnB), marcou um passo estratégico para a criação do Instituto Nacional do Cerrado, iniciativa que pretende se consolidar como centro de excelência em pesquisa, inovação e monitoramento ambiental vinculado ao Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação (MCTI).
Durante a abertura do evento, a reitora da Universidade de Brasília, Rozana Naves, destacou o simbolismo de sediar o lançamento do Comitê e a relevância do esforço coletivo para transformar o Instituto Nacional do Cerrado em realidade. Ela ressaltou tanto a importância do bioma para o país quanto o papel da UnB e das demais universidades na articulação.
“Esse ato representa uma trajetória de mais de dois anos de trabalho coletivo, e a Universidade de Brasília tem muito orgulho de sediar este comitê, que atuará intensamente para tornar o instituto uma realidade. Que esse movimento consiga transcender nossas instituições e afirmar, no Brasil e no mundo, a defesa do Cerrado. Neste ano, em que o país lidera as discussões da COP 30, reforçamos que a luta pelo Cerrado é também uma luta por justiça socioambiental e pelo futuro vindouro”, afirmou a reitora Rozana Naves.
O presidente do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama), Rodrigo Agostinho, pontuou a urgência de avançar na criação do Instituto Nacional do Cerrado. “O Cerrado, com seus dois milhões de quilômetros quadrados, já perdeu mais de 50% de sua cobertura original e provavelmente teve mais de 80% de sua áreas degradadas. Estamos falando de um bioma que abriga pelo menos 1.061 espécies ameaçadas, sem contar as muitas ainda não avaliadas, dentro de uma biodiversidade estimada em mais de 320 mil espécies. Já passou da hora de termos esse instituto. Mas não basta criá-lo: precisamos valorizar a pesquisa, garantir orçamento e estrutura adequados para que ele cumpra sua missão. Contem com o Ibama. Estamos lutando para reduzir o desmatamento do Cerrado – já conseguimos uma queda de 22% recentemente.”
O presidente do Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio), Mauro Oliveira Pires, lembrou que a defesa do Cerrado exige tanto inovação científica e tecnológica quanto novas formas de desenvolvimento econômico que conciliem produção e conservação. “A presença de universidades, institutos de pesquisa e órgãos ambientais neste comitê já mostra que ele nasce com uma densidade social representativa e que dificilmente poderá ser desconsiderado. É fundamental termos um instituto nacional dedicado ao Cerrado, que conecte o conhecimento já produzido com alternativas econômicas capazes de gerar riqueza e, ao mesmo tempo, conservar o bioma”, disse.
A reitora da Universidade Federal de Goiás (UFG), Angelita Pereira de Lima, reforçou a importância de levar a pauta do Cerrado para a COP 30 e para a agenda política nacional. “O Brasil precisa do Cerrado, para a preservação ambiental, para o desenvolvimento sustentável e para que a economia pujante da região siga crescendo com responsabilidade e sustentabilidade.”
A articulação reúne universidades federais, estaduais, municipais, comunitárias e institutos federais que têm presença no território do Cerrado, além de entidades da sociedade civil. A proposta é unir esforços para enfrentar os desafios que ameaçam o bioma, considerado a savana mais biodiversa do planeta.
BIOMA – O Cerrado ocupa 22% do território brasileiro, com dois milhões de km² distribuídos por 12 estados. É conhecido como o Berço das Águas, por abrigar nascentes das quatro principais bacias hidrográficas da América do Sul: Amazônica, Araguaia/Tocantins, São Francisco e Prata. Também é território de comunidades indígenas, quilombolas, ribeirinhos, geraizeiros, vazanteiros e babaçueiras, que mantêm modos de vida e práticas de produção sustentáveis.
Apesar de sua importância estratégica para o Brasil e para o continente, o Cerrado está entre as 36 áreas de alta biodiversidade global mais ameaçadas. O bioma sofre com o desmatamento acelerado, a fragmentação dos ecossistemas, o aumento das temperaturas e a irregularidade das chuvas, fatores que impactam diretamente a agricultura, a segurança alimentar, a disponibilidade hídrica e a manutenção de serviços ecossistêmicos.
CARTA – Na carta compromisso assinada pelos reitores e reitoras durante o evento, as instituições destacam a urgência de construir um projeto nacional para o Cerrado. O documento estabelece que a criação do Instituto Nacional do Cerrado, vinculado ao MCTI, deverá funcionar como unidade de pesquisa e inovação dedicada à preservação, ao monitoramento e à regeneração da biodiversidade, das águas e do clima.
A articulação propõe também integrar universidades, centros de pesquisa, setor produtivo e sociedade civil no desenvolvimento de tecnologias adequadas às especificidades do bioma, com ênfase em inovação social. Outro ponto é a contribuição para a redução das desigualdades econômicas, sociais e regionais, fortalecendo a bioeconomia e a economia circular em atividades agrícolas e pecuárias. Por fim, o documento prevê o fomento a redes de cooperação e a captação de recursos, tanto em âmbito nacional quanto internacional, para apoiar pesquisas e projetos que garantam sustentabilidade.
O lançamento do Comitê acontece em um momento simbólico, próximo à realização da COP 30, em Belém (PA). Na avaliação dos signatários, fortalecer a pauta do Cerrado é essencial para o Brasil assumir papel de liderança global nas agendas de clima e biodiversidade, destacando a interdependência do bioma com a Amazônia.
FUTURO – Na carta, os dirigentes ressaltam que o compromisso com o Cerrado vai além da preservação ambiental: trata-se de garantir soberania nacional, segurança alimentar, hídrica e climática, além da proteção de comunidades tradicionais. “É um chamado à união de forças, saberes e vontades para que o Cerrado floresça como legado vivo às próximas gerações”.
Com a iniciativa, a Universidade de Brasília e as demais instituições reafirmam o papel da ciência e da educação superior como protagonistas na construção de alternativas para um desenvolvimento sustentável, capaz de conciliar produção agrícola, conservação ambiental e justiça social.
