MEIO AMBIENTE

Documento entregue ao STF destaca urgência para preservação de patrimônio natural em crescente degradação

No Supremo, Dione Moura (E) e Isabel Schimidt (D) entregam carta em defesa do Cerrado à chefe de gabinete Fernanda Silva de Paula. Foto: Rede Biota Cerrado

 

A relevância do Cerrado e a preocupação com o processo acelerado de devastação desse bioma estão no cerne da Carta de Brasília 2024 em Defesa do Cerrado. O manifesto foi protocolado. nesta quarta-feira (11), no Supremo Tribunal Federal (STF) e tem pesquisadores da Universidade de Brasília entre os 44 signatários, que representam redes e associações científicas e entidades do terceiro setor. O texto entregue no Dia do Cerrado evidencia a necessidade de atenção a “um dos biomas mais negligenciados do Brasil” e alerta para o “preço altíssimo” do desmatamento.

“É urgente que toda a sociedade brasileira se dê conta do patrimônio que está sendo tristemente perdido”, sentencia a carta, que cobra de gestores e tomadores de decisão ações efetivas para proteger e garantir racionalidade no uso dos recursos do Cerrado. Há ainda a manifesta apreensão pelos povos originários e comunidades tradicionais que dependem desse território natural. A carta pede respeito a essas populações e aponta que o conhecimento delas em parceria com a ciência pode apontar rumos para aliar atividades econômicas e preservação.

“Essa carta é uma tentativa de chamar atenção do STF para a importância do Cerrado e de se tomar ações efetivas para conservação e redução de incêndios”, diz a professora Isabel Schmidt do Departamento de Ecologia (ECL/IB). Ela foi uma das pesquisadoras presentes na entrega do documento a Fernanda Silva de Paula, chefe de gabinete do presidente do Supremo, o ministro Luís Roberto Barroso.

Queimada em vegetação do Cerrado. Nesta semana, fogo assolou a Chapada dos Veadeiros. Foto: Marcelo Camargo/Agência Brasil

 

Schmidt, que publicou artigo de opinião sobre os perigos dos desmatamentos no portal da UnB, lamenta que o Cerrado fique em segundo plano quando o assunto é preservação. “A gente vê muito a mídia e o próprio STF fazendo exigências para que se proteja a Amazônia e que se combata incêndios no Pantanal, mas muito pouca atenção é dada ao Cerrado.”

A diretora da Faculdade de Comunicação, Dione Moura, também esteve presente no STF e assina a carta como gestora regional da Associação Brasileira de Ensino de Jornalismo. Ela avalia que a ação busca “cumprir o papel de promover o engajamento público com a ciência pela conservação do Cerrado”. A docente, que também é coordenadora da Rede Biota Cerrado, manifesta o desejo pela integração dos três poderes “em prol da conservação do berço das águas que é o bioma Cerrado”.

A carta é assinada por outros gestores, pesquisadores e docentes vinculados à UnB. Entre eles, Antônio Aguiar, Fernando Oliveira Paulino, Guarino Colli, José Roberto Rodrigues, Reuber Brandão, Veronica Slobodian e Maria Júlia Martins Silva, diretora do Centro UnB Cerrado, ramo da Universidade em Alto Paraíso que deu suporte à ação de brigadistas contra o incêndio na Chapada dos Veadeiros, nesta semana.

RECURSOS NATURAIS, AMEAÇAS E PESQUISAS – Os recursos hídricos são um ponto essencial na busca pela preservação do Cerrado. A carta classifica o bioma como “coração das águas no Brasil” e alega que estão nele as nascentes de oito das 12 bacias hidrográficas do território nacional. A vegetação local de raízes profundas contribui para a infiltração da água no solo e para alimentar rios e aquíferos essenciais às populações e ao agronegócio.

O desmatamento, as queimadas e o avanço das fronteiras agrícolas colocam em xeque a existência dessa água e de outros recursos do bioma, apontado como a savana mais biodiversa do mundo. De acordo com museu virtual criado pela Rede Biota Cerrado, mais de 160 mil espécies de plantas, animais e fungos estão presentes no Cerrado, que ocupa mais de 24% do território brasileiro.

Área de restauração do Cerrado na Chapada dos Veadeiros. Foto: Daniel Vieira/Embrapa

 

“Hoje, metade do Cerrado está convertida a usos antrópicos, majoritariamente pastagens e agricultura”, explica Daniel Vieira, coordenador do projeto Restauração Ecológica, um dos cinco associados à Biota Cerrado. “O Cerrado tem pouquíssima área protegida – menos de 10% – e as áreas de reserva legal de propriedades somam apenas 20%”, diz.

O coordenador, vinculado à Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa), afirma que a diminuição de habitats é a principal ameaça à biodiversidade. “Quando se suprime a vegetação, espécies são extintas. No Cerrado, as regiões de relevo plano, sem restrições à mecanização, já estão muito desmatadas”, lamenta.

A UnB sedia a Rede Biota Cerrado, iniciativa que desde 2011 busca analisar a biodiversidade do Cerrado com atenção à conservação e ao desenvolvimento sustentável. A rede é integrada ao Programa de Pesquisa em Biodiversidade do Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação e tem a coordenação de Guarino Colli, professor do Departamento de Zoologia (ZOO/IB). Além dos estudos de restauração, projetos de inventários biológicos, manejo de fogo, mudanças climáticas e engajamento público com a ciência integram a rede.

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