PROJEÇÃO

Trio explora a relação entre natureza, infraestruturas ancestrais e contemporâneas na mostra

Foto: Luis Gustavo Prado / Secom UnB
Da esquerda para a direita, os arquitetos Eder Alencar, Luciana Saboia e Matheus Seco em frente ao Jardim de Sequeiro da UnB, uma das estratégias sustentáveis que será apresentada no pavilhão brasileiro durante a 19ª edição da maior mostra internacional de arte e arquitetura. Foto: Luis Gustavo Prado/Secom UnB

 

Entre 10 de maio e 23 de novembro, acontece a 19ª Mostra Internacional de Arquitetura – La Biennale di Venezia, na Itália, com participação de cerca de 90 países. O pavilhão brasileiro tem curadoria de três arquitetos formados pela Universidade de Brasília, que incluíram o projeto Jardim de Sequeiro como exemplo de estratégia sustentável.

 

>> Leia: Jardim de Sequeiro da UnB recebe prêmio internacional

 

Com a exposição (Re)invenção, os egressos Luciana Saboia, Eder Elencar e Matheus Seco, do grupo Plano Coletivo, assinam o projeto curatorial e expográfico que reflete sobre interações entre natureza, infraestruturas ancestrais e contemporâneas. A proposta dialoga com o tema central da Bienal: Intelligens. Natural. Artificial. Collective., liderada pelo italiano e curador-geral Carlos Ratti. 

 

“Desde o princípio quisemos que a curadoria fosse algo coletivo, pois é na inteligência coletiva que podemos pensar essa relação entre natural e artificial, entre as infraestruturas construídas e apropriadas e as infraestruturas naturais, como relevos, rios, fauna. Por isso, o projeto se tornou uma curadoria de pesquisas, com equipe interdisciplinar que inclui arqueólogos, antropólogos, arquitetos e muitos outros pesquisadores”, detalha Luciana Saboia, que também é docente da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo (FAU/UnB). 

 

CONCEITO – O equilíbrio entre o meio ambiente e as intervenções humanas está no cerne da exposição brasileira. Para isso, o primeiro ato da mostra baseia-se em recentes achados arqueológicos, do projeto Amazônia Revelada, que apontam para a ocupação milenar e sustentável da região por povos ancestrais, identificada por meio de figuras geométricas que marcam o subsolo da floresta amazônica e remontam a redes de estradas que conectavam povos e aldeias em períodos pré-colombianos. 

Sistema de Pesos e Contrapesos é exemplo de equilíbrio entre a natureza e as intervenções humanas. Imagem: Plano Coletivo / Cortesia Fundação
Sistema de Pesos e Contrapesos é exemplo de equilíbrio entre a natureza e as intervenções humanas. Imagem: Plano Coletivo/Cortesia Fundação Bienal de São Paulo

 

Vestígios do manejo de plantas comestíveis fazem parte de um conjunto maior de descobertas que mostram as alterações no território por populações indígenas muito antes da chegada dos colonizadores europeus. 

 

“Hoje, sabemos que os povos ancestrais da Amazônia se organizavam em populações muito maiores do que se imaginava anteriormente. As florestas da região são, em grande parte, resultado direto da ação humana, fruto de uma ocupação equilibrada e do manejo cuidadoso da vegetação, em contraste com o modelo predominante na Amazônia atualmente, que com frequência reduz a paisagem a um cenário de devastação”, pondera Matheus Seco, egresso da UnB e arquiteto do Plano Coletivo, apontando a palavra “equilíbrio” como fundamental no sentido geral da proposta curatorial. 

 

O segundo ato desloca o foco para o Brasil contemporâneo, explorando as relações entre arquitetura e infraestrutura, assim como as possibilidades de ressignificação da cidade a partir de uma curadoria de pesquisas, processos e práticas em arquitetura.  

 

O Jardim de Sequeiro da UnB é uma das estratégias integrantes da mostra que aponta para a intervenção humana sustentável. Com mais de 5 mil m² de área plantada ao ar livre, suas flores embelezam o vão central do Instituto Central de Ciências (ICC), edifício icônico do campus Darcy Ribeiro, na Asa Norte, com 730 metros de comprimento por 15 metros de largura. O projeto, idealizado pelo professor de paisagismo da UnB Júlio Pastore (FAV/UnB), utiliza capins nativos do Cerrado e flores tradicionais de ciclo curto para se manter perene mesmo sem irrigação durante o período de seca intensa da região.  

Descobertas arqueológicas de infraestruturas ancestrais no território amazônico são parte da pesquisa que conceituou a mostra brasileira. Foto: Diego Gurgel / Cortesia
Descobertas arqueológicas de infraestruturas ancestrais no território amazônico são parte da pesquisa que embasa o projeto da exposição brasileira. Foto: Diego Gurgel/Cortesia

 

“Enquanto a primeira sala mostra esse desenho urbanístico ancestral e a relação entre ocupação humana e natureza, a segunda traz estratégias contemporâneas que interrelacionam a apropriação social com maneiras para mitigar a exploração de ambientes. No contexto da emergência climática, propomos a reflexão de qual país queremos para o futuro”, acrescenta Luciana Saboia. 

 

PARTICIPAÇÃO BRASILEIRA – A seleção da curadoria para o pavilhão brasileiro na Bienal é feita pela Fundação Bienal de São Paulo, representante oficial do país nas mostras de arte e arquitetura de Veneza.

 

A escolha considerou o diálogo da proposta com o tema geral da Bienal, ao integrar diferentes áreas do conhecimento para refletir como as ocupações milenares e as intervenções contemporâneas moldam os territórios e as dinâmicas urbanas. 

 

(Re)invenção nos convida a aprender com as práticas ancestrais, explorando a simbiose entre humanos, terra e natureza como um caminho para um futuro mais sustentável”, afirma Andrea Pinheiro, presidente da Fundação Bienal de São Paulo. 

 

“Ficamos felizes que a curadoria seja de um grupo de Brasília e todos formados pela UnB. Essa é a segunda vez consecutiva que a UnB está representada com destaque na mostra, já que na última edição o professor Paulo Tavares (FAU/UnB) conquistou o Leão de Ouro de Melhor Participação Nacional”, conclui Luciana Saboia, em menção ao premiado projeto Terra, dos curadores Gabriela de Matos e Paulo Tavares. 

 

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