Produtores de vinho encontraram na região do Distrito Federal e Entorno as condições climáticas ideais para a vitivinicultura, ou seja, toda a cadeia de produção de vinho – desde o preparo do solo e das videiras até a elaboração da bebida. Pesquisadores da Universidade de Brasília observaram este movimento e se uniram para fomentar essa produção, aliando conhecimentos científicos de diferentes áreas.
O projeto multidisciplinar Desenvolvimento de Tecnologias para o Fomento da Vitivinicultura no DF e Ride, conhecido como Vinhas Brasília, é coordenado pela professora Marcia Longen Zindel, do Departamento de Engenharia de Produção, e tem participação de pesquisadores dos cursos de Engenharia Agronômica, Turismo e Contabilidade.
Há integrantes com outras formações acadêmicas, como Vitivinicultura e Enologia, Ciência da Computação, Geografia, Direito, Administração, Gestão Pública, Química, Física e Letras. O projeto conta também com a participação de pesquisadores voluntários e alunos do curso de Turismo da UnB, que realizam atividades dentro da disciplina de Projeto Integrador.
O estudo teve início em novembro de 2021 e é financiado pela Fundação de Apoio à Pesquisa do Distrito Federal (FAP-DF). “Nós percebemos que alguns produtores de uva estavam desenvolvendo pequenas produções de vinho e fomentado o comércio local com degustações e eventos, e que o Governo do Distrito Federal estava incentivando a vitivinicultura (a FAP inclusive), então, nós tivemos a ideia de montar esse projeto juntos”, lembra a professora Marcia.
“No início foi bem desafiador porque são áreas diferentes que têm que interagir e convergir, é um desafio. Agora já passou porque o projeto está mais encaminhado”, avalia a docente.
MADE IN CERRADO – O terroir do Cerrado (ou seja, as informações referentes ao tipo de solo, temperatura, altitude e amplitude) reúne peculiaridades como solos diversos de boa drenagem, temperatura média anual entre 21 e 27 graus e grande amplitude térmica entre o dia e a noite. Este conjunto de características possibilita a produção de um vinho fino com alto padrão de qualidade.
As uvas de mesa mais plantadas na região são Niágara, Isabel e Vitória. Já as uvas finas mais plantadas são Syrah, Cabernet Franc, Cabernet Sauvingnon, Merlot e Tempranillo. A ideia é que, além de fomentar os negócios, o desenvolvimento da vitivinicultura incentive o turismo na região e movimente a economia local.
Diante deste cenário, o projeto busca mapear os processos produtivos, elaborar cartas de controle estatístico da produção, estabelecer um planejamento enoturístico da região do DF e Região Integrada de Desenvolvimento do Distrito Federal e Entorno (Ride) e, por fim, realizar um estudo detalhado da estrutura regulatória do vinho e produção vitivinícola no Brasil.
Para isso, o grupo vem pesquisando as melhores práticas de produção, por meio de métodos técnicos e científicos, com apoio e supervisão de especialistas na produção vitivinícola. Assim, os pesquisadores acreditam que será possível posicionar o produto desenvolvido no DF e na Ride de forma competitiva em relação a rótulos já consolidados no mercado.
“Essa é uma região de cultivo não tradicional, onde as condições do terroir ainda não estão bem definidas para a produção de vinhos finos, mas apresentam um potencial muito interessante. As plantas cultivadas nessa região não recebem os estímulos necessários para a produção de qualidade como as plantas cultivadas nas regiões tradicionais no Sul do país. Contudo, por meio do manejo fitotécnico, com o uso de reguladores de crescimento, os vitivinicultores conseguem fazer com que essas plantas completem seu ciclo produtivo com padrão de qualidade excelente", explica Márcio Pires, professor do curso de Agronomia da UnB. “Inclusive temos vinhos premiados de Goiás e do Entorno do DF”, completa.
PRODUTORES – Atualmente, 26 produtores já foram mapeados pela equipe do projeto. “Alguns deles ainda não estão registrados como vitivinicultores, mas como produtores artesanais de vinho”, explica Marcia Zindel. Para que as propriedades sejam reconhecidas como vinícolas elas precisam passar por um processo de certificação.
O professor Márcio Pires é o responsável pela interlocução com os vitivinicultores. “Fomos descobrindo os agricultores que topavam [participar do projeto]. Dessa forma, fomos estabelecendo o mapeamento das áreas produtoras no contexto do DF e da Ride. O segmento agrícola (viticultura), por assim dizer, precisa estreitar as relações com a academia (ensino, pesquisa e extensão), uma vez que a nossa missão é formar recursos humanos que sejam capazes de dar suporte técnico para o desenvolvimento da atividade”, avalia.
A vinícola Assunção, localizada em Pirenópolis (GO), é uma das associadas ao projeto Vinhas Brasília. Ela é comandada por Guilherme de Paula, que foi aluno de Márcio na UnB. Em 2015, ele iniciou o plantio de uva de mesa na propriedade; em 2017, passaram a comercializar suco de uva integral, no ano seguinte iniciaram o plantio de uvas viníferas (mais utilizadas na produção de vinho); e em 2020, passaram a produzir o próprio vinho.
“Esse projeto é muito importante para a gente desenvolver e coletar dados, principalmente. É muito novo o cultivo comercial na nossa região, então há pouca literatura e pesquisa. Essa parceria com a Universidade vai ser de suma importância para a gente conseguir se desenvolver, identificando as variedades que mais se adaptam à nossa região, por exemplo”, afirma Guilherme.
“É importante para os produtores terem acesso a essas informações. Estamos começando uma história nova agora”, conclui o agrônomo.
REGULAÇÃO – A advogada Renata Pissolatti Taumaturgo atua na equipe do projeto, que planeja apresentar uma proposta legislativa mais adequada para a realidade dos produtores da região.
“Nesse estudo a gente vai desvendando algumas normativas que já são aplicadas lá no Sul [do país] e que não são implementadas aqui na nossa região”, explica a advogada. Ela cita como exemplo as regras para produção de vinho colonial (feito com uva de mesa).
"A lei exige que ele [o produtor] produza o vinho com no mínimo 70% de uvas que ele mesmo produziu, ele tem que vinificar esse vinho na própria propriedade, não pode comercializar esse produto em grandes redes de supermercados, somente em feiras locais na própria região, etc.” A advogada avalia que algumas exigências são incompatíveis com a realidade de microempreendedores.
“A gente precisa, nessa proposta de alteração legislativa (caso a gente chegue nesse ponto), entender o que é cabível de sugerir para a realidade do DF e Ride, que pode, sim, ser uma realidade diferente do que existe no Sul [do país]”, afirma Renata.
Além disso, a iniciativa almeja apresentar uma proposta de registro formalizado ao Instituto Nacional de Propriedade Industrial, para a criação de uma Denominação de Origem Controlada para a região do DF.
“Muitas vezes os vinhos são reconhecidos pela região em que são produzidos. A região vende muito o produto. Essa perspectiva também é interessante ter no DF e Ride, porque isso fortalece o produto, fortalece a cultura do vinho", explica a advogada.
O projeto tem previsão de duração de um ano e, em apenas seis meses, os pesquisadores já executaram quase 40%. “Cada área está em uma fase diferente, mas em geral a gente pode dizer que 38% do projeto já foi executado”, afirma Marcia Zindel.
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