Fotos: Anastacia Vaz, André Gomes, Luis Gustavo Prado, Raquel Aviani/Secom UnB
Artes: Francisco George Lopes/Secom UnB
Marcando o sexagenário da Universidade de Brasília, celebrado neste 21 de abril, UnBNotícias apresenta, em parceria com a revista Darcy, depoimentos de gente que impacta e é impactada pela UnB. São pessoas que construíram a instituição e por ela foram (des)construídas, deixando suas marcas na sociedade. Trajetórias, experiências e vivências dentro dos campi mostram que o melhor que a UnB tem e produz parte de quem passa por aqui.
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Afinal, se a Universidade constitui um relevante espaço de formação de pessoas no ensino, na pesquisa e na extensão, é porque ela é feita de pessoas diversas, cuja bagagem de vida também transborda nos diferentes fazeres e saberes que se entrelaçam no ambiente acadêmico. Para que esses conhecimentos circulem, é preciso ter gente em cada campi, faculdade, instituto, departamento, curso, lotando escadarias, batendo papo embaixo das árvores, fazendo arte nos cantos dos subsolos, encontrando-se na porta da biblioteca para tomar um café e refrescar as ideias, celebrando a vida em cada parte da imensidão que é a UnB.
Conheça algumas dessas pessoas que hoje fazem a diferença na construção de uma sociedade brasileira mais qualificada, democrática, inclusiva, pensadora, crítica e acolhedora – tal qual preconiza a formação proposta pelos fundadores da Universidade Darcy Ribeiro e Anísio Teixeira. São elas a razão de a UnB continuar a ser, de maneira consistente, ao longo desses 60 anos, uma universidade atuante como sempre, necessária como nunca.
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Dinamam Tuxá, indígena do povo tuxá (BA) e doutorando da Faculdade de Direito
Minha relação com a UnB chega a ser familiar. Pelo fato de povos indígenas terem suas especificidades, muitas vezes encontramos barreiras de aceitação porque o público desconhece nossas realidades. Houve um processo de aprendizagem da própria Universidade para tentar compreender essas especificidades. Hoje temos a Maloca [Centro de Convivência Multicultural dos Povos Indígenas] como espaço de acolhimento específico para povos indígenas, mas que recebe quem queira conhecer um pouco mais das nossas realidades.
Busco conhecimento na Universidade para que possamos atuar de forma conjunta. Meu mestrado foi em Desenvolvimento Sustentável focado em terras indígenas. Hoje meu doutorado é no Direto, e busco mecanismos para aplicar o conhecimento da área de preservação juntamente com uma forma de poder lidar com os embates jurídicos. Essas oportunidades e esse acolhimento fizeram, para mim, com que a UnB se tornasse a maior instituição do Brasil. Além dessa grandeza, o que carrego comigo é o que a comunidade carrega consigo também: aqui formamos grandes pensadores e defensores de direitos, que contribuem muito para a minha luta e para a luta dos povos indígenas.
Nayra Paye, indígena do povo kaxuyana (PA) e graduanda em Geografia
Hoje estou presidente da Associação dos Acadêmicos Indígenas da UnB e fui colocada nesse espaço de luta pela própria composição do coletivo indígena. Nosso objetivo é suprir demandas de lutas e reivindicações do nosso coletivo e estamos bem atuantes nesse espaço de formação que é a Universidade de Brasília. Desde nosso ingresso até nossa formação plena e digna dentro do espaço da UnB, passamos por processos de luta, direitos e conquistas, que serão também aplicados em prol das sociedades.
Tenho para mim essa luta em prol das distintas sociedades e acredito que ela seja bem presente em sala de aula, debates, fóruns e espaços de educação, como a UnB, que nos permitem defender nossos direitos.
Murilo Mangabeira, ativista do movimento negro e egresso da graduação e do mestrado em Sociologia
Vim de Santa Maria da Vitória, no interior da Bahia, e entrei na UnB para cursar Sociologia em 2003. Graças à minha formação na Universidade, hoje sou professor e pude ensinar para turmas de ensino médio e para colegas coisas que não vi na minha formação escolar.
Minha vivência na UnB misturou duas coisas que hoje estão refletidas na minha atuação profissional: não apenas meu aprendizado, tanto na graduação quanto no mestrado, mas também minha valorização do conhecimento sobre relações raciais, que impacta diretamente no ensino de história e cultura africana e afro-brasileira. A UnB foi a porta para que, enquanto profissional, eu continuasse aprendendo e tivesse a exata noção de que minha atuação reverbera na sociedade, seja lidando diretamente com o público em geral, seja com os estudantes na função professor.
Nahiane Guimarães, quilombola do povo kalunga (GO) e extensionista do projeto Centro de Documentação Quilombola Ivo Fonseca
Meu contato com a UnB é por meio do projeto de extensão Centro de Documentação Quilombola Ivo Fonseca. Lá, eu e vários alunos, ex-alunos e quilombolas nos unimos para construir uma memória quilombola.
Se desde o início o projeto já era de suma importância para mim, passei a ver ainda mais sentido nele após ter meu filho. Meu pequeno Murilo e muitos outros descendentes quilombolas poderão entender um pouco mais da nossa história e se orgulhar de nosso povo e nossa cultura. Ser parte desse projeto na UnB, faz com que meu filho possa se orgulhar de a mãe dele ter sido parte da construção de um material tão rico e que enaltece a cultura do nosso país.
Maria Lúcia Martins, quilombola, egressa da Licenciatura em Educação do Campo e secretária Municipal de Igualdade Racial e da Mulher em Cavalcante (GO)
Quando entrei na Licenciatura em Educação do Campo, em 2012, era muito tímida. Minha passagem pelo curso me ajudou a aprender como articular mais nossas demandas, e isso impactou diretamente na minha carreira e em como pude ajudar a comunidade kalunga de onde vim. Já fui parte de organizações sociais da região e hoje sou secretária Municipal de Igualdade Racial e da Mulher em Cavalcante (GO).
A UnB teve um papel muito importante na minha formação enquanto ser humano e profissional. Durante meu curso, tive a oportunidade de conviver com várias organizações sociais e estar em contato com diversos projetos de extensão. Minha formação foi ampliada com um intercâmbio cultural que fiz durante a graduação juntamente com outro colega quilombola da graduação e um indígena do doutorado, e a convivência com pessoas de outras culturas e outros idiomas foi algo muito rico dentro da minha formação.
Aislan Pankararu, indígena do povo pankararu (PE) e egresso de Medicina
Vim do sertão pernambucano, mas hoje sou um pankararu espalhado pelo Brasil. O que aprendi na graduação da UnB, fez com que, aqui em São Paulo, onde trabalho, pudesse ajudar não apenas a sociedade em geral, mas a comunidade pankararu que aqui se instalou.
Tenho a oportunidade de executar as habilidades aprendidas no curso de Medicina em uma Unidade Básica de Saúde que atende não apenas esses indígenas, mas a população mais necessitada, devolvendo para o país aquilo que foi investido em mim.
Vercilene Dias, advogada e primeira quilombola mestra em Direito do Brasil, doutoranda do Programa de Pós-Graduação em Direito
A UnB foi uma das primeiras universidades a desafiar a sociedade a ser parceira na promoção de projetos de transformação social, de inclusão, ao trazer a proposta das ações afirmativas. Aqui temos ainda inclusão e permanência, dando oportunidades para que diferentes populações possam ocupar esses espaços.
Hoje, enquanto doutoranda, sou parte de uma universidade que tem fomentado as discussões com relação às populações quilombolas. Espero que o conhecimento adquirido nesse período de formação venha agregar ainda mais aos conhecimentos tradicionais, fortalecer a luta quilombola e ajudar na efetivação de direitos, políticas públicas.
Diogo Alcântara, egresso da turma de Comunicação Social – Jornalismo (2°/2004 – 1°/2008), responsável de crossmídia no Comitê Internacional da Cruz Vermelha (CICV)
Como aprovado na primeira edição do vestibular com sistema de cotas para negros na Universidade de Brasília – num 2004 em que debates sobre equidade e diversidade estavam longe de ser cotidianos –, abraçar essa política de ação afirmativa era um ato político per se. Não tinha ideia do que significava um quinto das siglas da UnB, mas já sabia falar sobre negritude, equidade e ocupação de espaços. Tive a felicidade de fazer parte de uma iniciativa que apoiava estudantes cotistas com autoidentificação, e também com iniciação científica e permanência.
Aprendi técnicas de textos jornalísticos, a contar histórias, a fotografar, a diagramar. Mas a estrutura de nos deixar livres para navegar por outros departamentos me levou à Ciência Política, às Relações Internacionais, à Economia, à História... Acho que esse repertório, combinado com técnica, fez de mim um bom jornalista.
Mas universidade não tem a ver com ensinar ofícios. Eu aprendi a ser jornalista, mas aprendi também a questionar, refletir, compreender, argumentar, enxergar diferentes perspectivas. Eu vivi a Universidade. E tenho certeza de que ela nunca mais deixou de viver em mim.
Marília de Moraes, egressa de Letras e editora de publicações da Editora UnB
A UnB sempre foi meu sonho. Desde pequena, meus pais, professores, falavam dela para mim e eu sempre quis muito ingressar em algum curso. Em 2005, fui aprovada no vestibular do curso de Letras-Tradução – Inglês. Sonhava em ser tradutora de livros. Apesar de ter ingressado muito jovem, com apenas 17 anos, sempre digo que nunca me arrependi da escolha, porque escolhi com o coração.
Em 2019, tive a alegria de ser aprovada no concurso público da Universidade e de me sentir parte permanente deste lugar que segue me encantando. Hoje sou editora de publicações e trabalho na Editora UnB, no meio dos livros. Meu sonho inicial se realizou a partir de uma trajetória cheia de experiências que me fazem valorizar ainda mais o que a UnB me proporciona hoje. O trabalho na Editora UnB me inspira a ser uma profissional melhor, a buscar ainda mais conhecimento e a oferecer ao público o melhor da universidade pública.
Vanessa Machado, egressa da graduação em Ciência Política, mestra e doutoranda em Ciências Sociais
Sou de Uberaba, em Minas Gerais, e meu primeiro contato com a UnB foi em uma simulação das Nações Unidas promovida pelo curso de Relações Internacionais. Quis vir para fazer esse curso, meu sonho era passar na UnB, e me senti estimulada pelas cotas para negros. Durante o pré-vestibular, decidi tentar Ciência Política, gostei do curso, e mais para o fim da minha formação, me aproximei do Centro de Convivência Negra. Quis continuar minha formação estudando a temática racial e encontrei na Sociologia um campo onde esse diálogo está mais consolidado.
Hoje sou servidora pública federal, e os temas que estudei no mestrado, como a Lei de Cotas e a formulação de políticas públicas, me influenciam como profissional e me dão um olhar especial sobre esses temas. Sinto que faço diferença na construção de políticas públicas e entrega de serviços públicos. Além disso, me acho mais apta e sensível para lidar com demandas sociais e frequentemente posso contribuir para aspectos relevantes de temas cruciais para a sociedade.
Pedro Brandão, egresso de Ciências da Computação e empreendedor
Eu já cheguei na UnB tendo certeza da área que queria seguir, mas ainda não tinha noção das aplicações possíveis da computação. A partir das minhas experiências na UnB, empreendi abrindo uma empresa de jogos com um colega, fruto do tema do nosso Trabalho de Conclusão de Curso. Percebi que não era com isso que verdadeiramente queria trabalhar, mas a experiência me inspirou a me mover por coisas que fazem sentido para mim.
Entrei na Câmara dos Deputados pouco depois e lá pude contribuir com iniciativas de impacto social voltadas para a transparência e para o aumento da participação popular. Atuei em hackathons e participei do desenvolvimento de ferramentas de participação, como o Wikilegis, que facilita a contribuição de cidadãos para as propostas legislativas.
Hoje, estou licenciado do meu cargo no serviço público porque senti vontade de explorar o universo das soluções descentralizadas em blockchain. Isso ainda é reflexo dos aprendizados de que vale a pena ir atrás dos nossos sonhos e procurar novas formas de causar mudanças positivas.
OUTROS DEPOIMENTOS – Para comemorar os 60 anos da Universidade, a edição 27 da revista Darcy, além de dedicar reportagens a resgatar o pioneirismo, a história e a produção científica de qualidade da instituição, reúne, na seção Ensaio Visual, fotografias e breves relatos de personagens que passaram pela Universidade e que transformaram e se viram transformadas por ela. Estudantes, docentes, técnicos e figuras públicas também partilham suas memórias sobre a instituição na série UnB 60 anos em 60 segundos, da UnBTV.
Confira depoimento de Cristiane Sobral para a série:
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