Esta sexta-feira (8) marca o Dia Mundial de Luta contra o Câncer, uma doença silenciosa que tem como importante variável o tempo para diagnóstico. De acordo com o Instituto Nacional do Câncer (Inca), a detecção precoce permite que a doença seja identificada em um estágio potencialmente curável, melhorando a sobrevivência e a qualidade de vida do paciente.
De olho neste fator tão importante, pesquisadores do Laboratório de Patologia Molecular do Câncer da Faculdade de Medicina da Universidade de Brasília (UnB) vêm trabalhando para desenvolver novos mecanismos que podem aprimorar o diagnóstico, acompanhamento e tratamento da doença.
Um dos projetos utiliza a chamada “biópsia líquida”, uma técnica menos agressiva do que o procedimento de biópsia tradicional, que consiste na retirada de um fragmento do tumor do paciente. “[Com a biópsia líquida,] o objetivo é tentar achar no sangue células que possam dizer se realmente a pessoa tem câncer, em que estágio e se ela está respondendo ao tratamento”, explica a professora Andrea Barretto Motoyama.
Outra iniciativa desenvolvida pela professora, com o auxílio de dois estudantes de mestrado, é voltada ao estudo de micro-RNAs – pequenas moléculas que permitem a comunicação entre uma célula e outra – e que podem ser úteis no diagnóstico do câncer de mama e de pâncreas.
Da equipe do Laboratório, a professora Leonora Vianna é médica patologista e atua em outra iniciativa, que investiga a prevalência dos tipos de HPV nas mulheres atendidas pela rede pública de saúde no Distrito Federal, junto com a professora Fabiana Pirani Carneiro.
Leonora explica que os chamados marcadores (substâncias que permitem o diagnóstico e o acompanhamento da doença) também estão no centro das pesquisas desenvolvidas no laboratório. A professora conta que são realizados trabalhos de avaliação dos marcadores para diagnosticar as lesões: “Os nossos marcadores seriam substâncias que nos permitiriam dizer a origem de um tumor (epitelial, linfática etc.)”. Segundo ela, quanto mais precisa for esta etapa de diagnóstico, mais efetivo será o tratamento da doença.
A professora Doralina Rabello integra a equipe do laboratório e trabalha principalmente com câncer oral. Seu grupo de pesquisa conta com dois doutorandos, três mestrandos e um estudante de iniciação científica.
Ela coordena o projeto Prospecção de marcadores moleculares para o câncer de cabeça e pescoço, que conta com recursos da Fundação de Apoio à Pesquisa do Distrito Federal (FAP-DF). O objetivo é identificar marcadores que possam trazer informações úteis para o diagnóstico precoce ou para direcionar o tratamento mais adequado para cada paciente.
OUTRAS FRENTES – Tornar o diagnóstico de câncer em mulheres mais rápido foi um dos objetivos da tese de doutorado do professor Gustavo Takano, recém-defendida no Programa de Pós-Graduação em Ciências Médicas e orientada pela professora Fabiana Pirani Carneiro.
Ele é médico patologista e, além de integrar a equipe de pesquisadores do Laboratório de Patologia Molecular do Câncer, é responsável técnico pelo Laboratório de Anatomia Patológica do Hospital Universitário de Brasília (HUB).
“Coletávamos o líquido cavitário [encontrado em cavidades do organismo] de mulheres (com ou sem histórico de câncer) e identificávamos de um jeito rápido e barato, com técnicas simples, o tipo de tumor”, explica Gustavo. O diagnóstico era feito por um algoritmo em apenas três passos.
O pesquisador lembra que, de acordo com a Lei n. 13.896/2019, que entrou em vigor em 2020, o paciente do Sistema Único de Saúde (SUS) com suspeita de câncer tem direito à realização de exames para o diagnóstico da doença em até 30 dias. “A gente tem trabalhado em reduzir o tempo desse diagnóstico”, afirma.
Além disso, o Estatuto da Pessoa com Câncer foi criado no ano passado, com o objetivo de garantir a oferta de um tratamento integral aos pacientes por meio do SUS, desde assistência médica, psicológica até atendimento e internação domiciliares.
“Isso para nós é muito interessante, porque na área de patologia molecular a gente tem essa obrigação de colocar as nossas pesquisas à disposição para tentar integrar ao SUS”, pondera Fábio Pittella, professor do curso de Farmácia na Faculdade de Ciências da Saúde.
No Laboratório de Patologia Molecular do Câncer, ele estabeleceu a linha de pesquisa em Epigenética do Câncer. “Nessa linha, nós trabalhamos diversos projetos de ciência básica, com o intuito de identificar marcadores moleculares para acompanhar o tratamento e prognóstico de pacientes”, explica.
No mês de outubro, a equipe de pesquisadores comemora os dez anos do laboratório: “A UnB está fazendo 60 anos, e eu vejo o Laboratório de Patologia Molecular do Câncer como uma manifestação daquele sonho inicial da criação da Universidade de Brasília, que era reunir profissionais de áreas diferentes, com expertises que se complementam", avalia Fábio Pittella.
Leonora Vianna ressalta que os trabalhos do Laboratório de Patologia Molecular do Câncer são feitos em colaboração com os laboratórios de Imunohistoquímica e o Multidisciplinar de Patologia (todos da Faculdade de Medicina da UnB), além do Laboratório de Anatomia Patológica do HUB.
A coordenadora Andrea Motoyama lembra que os pesquisadores do laboratório possuem parcerias externas locais (como Universidade Católica de Brasília), nacionais (como a Universidade Federal de Minas Gerais e a Universidade de São Paulo) e internacionais (Universidade de Barcelona e Universidade de Medicina e Odontologia de Tóquio).
PANDEMIA – A pandemia afetou não só as pesquisas desenvolvidas no laboratório, mas a própria dinâmica nos hospitais, como relata Gustavo Takano a partir de sua experiência no HUB.
“Foi muito pesado mesmo. Tivemos momentos em que o centro cirúrgico operava só pacientes de emergência oncológica, ou seja, pacientes com câncer que se você não operasse iriam morrer em breve, perderiam um membro ou ficariam paraplégicos, por exemplo. O resto não se operava.” A medida foi tomada para destinar leitos de UTI aos pacientes com quadros graves da covid-19.
Segundo ele, mesmo após o arrefecimento da pandemia, o atendimento aos pacientes de câncer ainda não foi normalizado. Agora, o problema não é mais a falta de leitos, materiais ou profissionais, mas de pacientes.
“O doente está com medo de vir ao hospital. Não quer mais fazer o exame preventivo, está com a ideia de que hospital é um lugar perigoso, que corre o risco de contrair a covid-19", lamenta o médico. “Onde estão essas pessoas? Elas estão em casa, silenciosamente aguardando a doença gritar, explodir, ao invés de trabalhar na parte preventiva.”
Exemplo da redução da prevenção pode ser visto no baixo índice de vacinação contra o HPV, que previne o desenvolvimento de câncer de colo do útero. Menos de 50% do público-alvo foi imunizado no Distrito Federal.
Todos os pesquisadores reforçam a importância da retomada das campanhas de prevenção e conscientização em lugares de grande movimentação, como a Rodoviária do Plano Piloto e nas regiões administrativas. “A gente não pode perder de vista que a maioria dos tipos de câncer são preveníveis”, lembra Doralina Rabello.
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