CUIDADO EMOCIONAL

Professora da UnB assina trabalho publicado na revista The Lancet que aponta que consultas psicológicas e psiquiátricas foram abaixo do previsto na pandemia

De março a agosto de 2020, houve uma média mensal de cerca de 1,2 milhão de atendimentos relacionados à saúde mental, enquanto previa-se pouco mais de 1,6 milhão. Foto: Nik Shuliahin/Unsplash

 


Acumulados mais de 600 mil mortes e um cenário de caos social, o Brasil ainda não pode planejar um futuro sem considerar os possíveis desdobramentos da pandemia de covid-19. Consequências tanto diretas quanto indiretas da infecção pelo coronavírus prometem desafiar o Sistema Único de Saúde (SUS) pelos próximos anos. Cientistas preveem, em especial, uma “pandemia paralela” de doenças psiquiátricas e estimam que pode ser mais ampla, longa e com consequências inesperadas.

 

Um estudo produzido no Brasil e publicado, em setembro, pela revista The Lancet delimitou o cenário dos atendimentos em saúde mental nos primeiros seis meses de pandemia no país. O trabalho contou com a colaboração de pesquisadores alocados no Hospital de Clínicas de Porto Alegre, na Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) e na Universidade de Brasília (UnB).

 

>> Acesse o estudo publicado pela The Lancet

 

Integrante da equipe da pesquisa, a professora da Faculdade de Medicina da UnB Helena Moura observa que os dados apontam para uma dificuldade de acesso ao apoio profissional na área durante a pandemia. “As pessoas podem ter ficado com medo de ir às consultas ou tiveram dificuldade em conseguir vaga porque alguns profissionais da saúde mental foram deslocados para a linha de frente”, destaca.

Professora da UnB, a médica Helena Moura relata que o contexto de desigualdade social acentuou as dificuldades no acesso à atenção em saúde mental. Foto: Gustavo Umeno

 

DESIGUALDADE ACENTUADA – O estudo, que contou com o financiamento da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes), parte das constatações de que a ampla difusão da covid-19 demandaria maior cuidado psicológico e psiquiátrico em diferentes localidades. “Mesmo no início da pandemia já tínhamos previsões de aumento de ansiedade e depressão, além de outros transtornos psiquiátricos. Durante a crise sanitária de fato, vários estudos têm demonstrado esse aumento”, lembra Helena Moura.

 

As dimensões continentais e disparidades socioeconômicas são desafios extras no desenvolvimento de uma estratégia nacional de acesso ao tratamento de saúde mental no Brasil. “Isso traz uma complexidade adicional para desenvolver políticas públicas. É possível que as populações vulneráveis sejam as mais afetadas, havendo inclusive dados apontando para o aumento da violência e do uso de substâncias durante a pandemia”, alerta a docente.

 

Segundo a doutora em Psiquiatria e Ciências do Comportamento, o Brasil tem taxas de transtornos mentais entre as mais altas do mundo. “Apesar da rede de atenção à saúde mental estar distribuída por todo o país, uma grande parte dos municípios pequenos têm rede inexistente ou insuficiente. Possivelmente, esses são justamente os locais mais afetados pela crise e onde poderá haver demanda extra.”

 

PANDEMIA PARALELA – As informações que embasaram a análise dos pesquisadores provêm do Departamento de Informática do Sistema Único de Saúde, conhecido como DataSUS. Os dados englobam registros da produção hospitalar e ambulatorial de janeiro de 2016 a agosto de 2020. Vale lembrar que estes correspondem somente à rede pública de saúde.

 

Os cinquenta primeiros meses (de janeiro de 2016 a fevereiro de 2020) foram utilizados para estimar as projeções de tratamentos relacionados à atenção psiquiátrica para os seis meses seguintes, ou seja, de março a agosto de 2020. Em seguida, as previsões foram comparadas aos dados consolidados no DataSUS. Na maior parte dos atendimentos considerados, o número foi abaixo do que era projetado para o mês.

 

Registou-se uma redução de 28% no atendimento ambulatorial de saúde mental quando comparado ao que era esperado. Houve uma média mensal de 1.188.860 atendimentos relacionados à saúde mental, enquanto previa-se 1.660.308, ou seja, cerca de 471 mil atendimentos ficaram comprometidos. A maior redução ocorreu nos atendimentos em grupo, que tiveram uma queda de 68%, e nos tratamentos psiquiátricos diários, de 66%.

 

No caminho contrário, as consultas de emergência em saúde mental e o atendimento domiciliar, conhecido como home care, superaram as expectativas em cerca de 36% e 52%, respectivamente. Confira a tabela abaixo, que lista os procedimentos analisados pela publicação, com a média de atendimentos mensais na pandemia e a estimativa dos pesquisadores:

 

 
 
 

*estagiário de Jornalismo na Secom/UnB.

 

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