HOMENAGEM

Mesa teve presença de Nita Freire, viúva do educador, e de Luís Carlos de Menezes, amigo de longa data

Nita Freire e Luís Carlos Menezes relembraram histórias e contribuições do pedagogo Paulo Freire para a educação brasileira. Imagem: Reprodução/UnBTV

 

Não faltaram histórias sobre a vida e militância de Paulo Freire durante o encerramento da Semana Universitária de 2021. Afinal, estavam presentes duas figuras especiais na vida do educador: sua viúva, Nita Freire, e seu amigo de longa data Luís Carlos Menezes. A mesa O legado de Paulo Freire e o Brasil contemporâneo: educação emancipadora e os tempos do negacionismo marcou o final da 21ª edição da Semuni, na última sexta-feira (1º).

 

Decana de Extensão da UnB, Olgamir Amancia exaltou a presença dos dois convidados, que tiveram oportunidade de conviver e partilhar com Paulo Freire as suas reflexões e elaborações teóricas. “Eles também partilharam a convivência simples, do cotidiano, o que lhes permitiu conhecer o educador para além daquilo que está escrito”, disse.

 

Lembrando os 60 anos da UnB, que serão completados em 2022, a reitora Márcia Abrahão destacou a influência de Freire para a Universidade de Brasília, em especial para a extensão universitária. “A UnB tem a certeza de que as lições do patrono da educação brasileira são eternas. E esse aprendizado faz parte da existência da nossa universidade desde o seu nascimento”, disse Márcia Abrahão.

 

Doutora em Educação pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP), Nita Freire recebeu de Paulo a missão de dar continuidade ao seu legado: o seu testamento passou a ela os direitos de suas obras. Eles se casaram em 1988, e desde a morte de Paulo Freire, em 1997, ela é responsável por sua obra, que inclui clássicos como Extensão ou Comunicação? e Pedagogia do Oprimido.

 

Nita contou diversas histórias sobre a vida e militância do educador. Ela lembrou que quando Darcy Ribeiro projetava a UnB, convidou insistentemente Paulo para vir até Brasília. Depois de algum tempo, ele aceitou e conheceu todo o projeto. Ficou entusiasmado com as inovações propostas. Segundo ela, Paulo Freire disse a Darcy Ribeiro que ele idealizava uma universidade realmente necessária ao Brasil – para o desenvolvimento cultural, científico e econômico. Diante da insistência de Darcy para que trabalhasse na Universidade como professor, Paulo disse que, fora de Recife, não sabia pensar.

 

Pouco depois da criação da UnB, Paulo Freire foi investigado, preso e exilado pela ditadura militar. O Programa Nacional de Alfabetização, idealizado e coordenado por ele, não chegou a ser implementado. A iniciativa, que tinha a meta de alfabetizar ainda naquele ano 1,8 milhão de brasileiros, foi extinta pouco após o golpe militar de 1964. Para Nita, ele era uma das figuras mais odiadas pela ditadura. “O regime não quer alfabetização, gente sabida por aí. Não quer gente que saiba defender seus direitos.”

 

Exilado, Paulo morou na Bolívia e depois no Chile, onde participou de um programa de alfabetização rural. “Paulo era um homem que sabia superar as crises com uma facilidade enorme. É uma qualidade que ele conquistou para si”, disse Nita.

 

Luís Carlos de Menezes é doutor em Física pela Universidade de Ratisbona, na Alemanha, professor do Instituto de Física e membro da Coordenação da Cátedra de Educação Básica do Instituto de Estudos Avançados da Universidade de São Paulo (USP). Também é consultor da Unesco (Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura) para propostas curriculares.

 

Menezes também conviveu com Paulo Freire, tendo mantido uma amizade de muitos anos com o educador. Ele contou que seu primeiro contato com Paulo foi quando comprou o livro Pedagogia do Oprimido em uma livraria alemã, há 50 anos. “Assim como no Brasil ele é parceiro de Anísio Teixeira e Darcy Ribeiro, internacionalmente, Paulo faz parte desse conjunto de pensadores da educação e da sociedade do século XX.”

 

A longa amizade dos dois começou em um comício contra ditadura. Mais tarde, estiveram juntos na gestão do Instituto Wilson Pinheiro, que também contava com nomes como Antonio Candido, Paul Singer e Hélio Bicudo. “Foi uma amizade de fazeres conjuntos”, avalia. “Quando ele virou secretário de Educação da Prefeitura de São Paulo na gestão de Luiza Erundina, ele tomou todos os meus orientandos. Foram todos trabalhar com Paulo."

 

Para ele, Paulo Freire faz falta nesses tempos atuais. “Ele tinha uma enorme delicadeza no trato, mas era completamente intransigente contra qualquer desrespeito, e portanto o autoritarismo. Essa atitude deve nos guiar, ao mesmo tempo ajuda a lidar de uma maneira acolhedora com nossos pares, mas com os tiranos que estão deformando cultura e educação nesse país, temos que ser intransigentes. É um momento de batalha muito dura nesse país.”

 

Menezes também disse que a UnB é pioneira no pensar educação com vocação social, com uma militância em que se educa para produzir consciência. “A construção do futuro depende muito de uma educação engajada”, completou.

 

Confira a mesa de encerramento da Semuni 2021:

 

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