A multidisciplinaridade é uma característica inerente aos cursos da UnB. Durante a Semana Universitária 2021 (Semuni), que segue com programação até sexta-feira (1º), os diversos saberes produzidos na UnB conduzem as atividades desenvolvidas para as comunidades interna e externa. Além do Darcy Ribeiro, os campi de Planaltina (FUP), Gama (FGA) e Ceilândia (FCE) tiveram programações específicas focadas nas áreas em que atuam.
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Debates, oficinas, minicursos e ações ao vivo e gravadas mostraram um pouco da diversidade do conhecimento produzido nas unidades. As atividades também focaram a temática desta edição da Semuni, que homenageou os 100 anos de Paulo Freire.
O diretor da Faculdade UnB Ceilândia (FCE), João Paulo Chieregato, reconhece o legado deixado pelo educador, o qual embasa a qualificação dos estudantes da unidade. “As contribuições de Paulo Freire extrapolam o campo da educação. Os princípios freirianos, entre eles o diálogo, a autonomia, a libertação e o de se fazer a partir do conhecimento do outro, compõem preceitos praticados no dia a dia da formação dos profissionais da saúde de nossa unidade acadêmica.”
Segundo Patrícia Rezende, coordenadora de extensão da FCE, na preparação para a Semuni, a coordenação estudou as concepções freireanas para produzir uma programação “ampla o suficiente para contemplar a diversidade de temáticas com as quais os professores trabalham na extensão, sem fugir da proposta central”.
A FCE ofereceu mais de 90 atividades, sendo 59 ao vivo, 10 com alusão direta a Paulo Freire e sete que dialogaram com a temática. A integração com a comunidade de Ceilândia, entre outras ações, foi fomentada com a participação do Centro de Educação Paulo Freire de Ceilândia (Cepafre), uma instituição sem fins lucrativos, criada em 1989, que já alfabetizou mais de 16 mil pessoas.
Já a Faculdade UnB Planaltina (FUP), que este ano completou 15 anos de existência, ofereceu 45 atividades. Oito eram diretamente relacionadas a Paulo Freire, divididas em mesas-redondas, rodas de conversa, oficinas de escrita e teatro. Todas as transmissões ainda podem ser acessadas pelo canal Semana UnB - Sala 03 no YouTube.
Para o diretor da FUP, Reinaldo Miranda Filho, é oportuna a comemoração em conjunto com o centenário de Paulo Freire. Segundo ele, há uma conexão entre os ensinamentos de Freire e a unidade acadêmica: “A prática baseada e inspirada no pensamento freireano faz parte do cotidiano da FUP, a partir de uma educação emancipadora, crítica e extremamente amorosa, e está materializada na rica programação proposta para a Semuni, alinhada com pensamento do esperançar trazido por Paulo Freire.”
“A diversidade é fundamental para encontrar público maior e mais diverso, além de configurar um circuito de atividades científicas e culturais. A Semana Universitária no campus de Planaltina é sempre uma grande oportunidade da comunidade conhecer o que ocorre dentro da UnB, com atividades para os mais variados públicos e faixas etárias, além do nosso fiel e sempre bem-vindo público interno”, alega Caroline Gomide, coordenadora de extensão FUP.
Educação emancipatória, dialógica e relação horizontal entre discentes e docentes são conceitos que fazem parte da filosofia de Paulo Freire. Apesar de programação da unidade não ter propostas diretamente ligadas ao centenário do educador, o coordenador acadêmico da FGA, Luciano Noleto, reconhece a presença desses elementos nas ações. “Ao organizarmos as nossas atividades e eventos, fomos notando que eles estavam organicamente se inserindo às filosofias de Paulo Freire involuntariamente”, menciona.
“Nós fomos percebendo esta inserção com a forte atuação discente na organização e na participação dos estudantes, e entendo que esta participação está em harmonia com o que Paulo Freire preconizava em sua filosofia de educação, por meio do protagonismo discente, do respeito à diversidade e da importância deles no processo de aprendizado”, avalia o coordenador.
O professor enfatiza que a FGA “sempre busca colocar o aluno como parte importante do processo de aprendizagem''. E completa: “Um engenheiro é ensinado a resolver problemas, e só podemos educar um aluno de Engenharia para este fim quando incentivamos o pensamento crítico e valorizamos sua individualidade, sempre no sentido de aprender coletivamente com alunos de outras Engenharias”.
VARIEDADE – As unidades acadêmicas têm autonomia na proposição de trabalhos que serão desenvolvidos durante a Semana Universitária, o que oportuniza a diversidade de ideias na formulação das ações.
“A FCE sempre foi uma das unidades acadêmicas que se destaca na Semuni, tanto pela quantidade como pela qualidade de suas propostas. Certamente, o fato de termos nosso campus em Ceilândia, considerado o caldeirão cultural do Distrito Federal, impulsiona essas ações e fomenta a criatividade da nossa comunidade acadêmica”, opina o diretor da FCE.
Reforçando o vínculo com Ceilândia como polo cultural, a programação da FCE incluiu o minicurso Capoeira: quebrando barreiras pelo bem viver, realizado pelo grupo Ginga Ativa. A atividade foi dividida em apresentação da história da capoeira na UnB, oficina de berimbau, treino de ginga e fundamentos da capoeira e do maculelê (dança de encerramento). A ação foi realizada ao vivo na segunda (27) e na quarta-feira (29), mas a transmissão ainda pode ser acessada no canal Semana UnB - Sala 04 no YouTube.
Com a proposta Paulo Freire em terapia ocupacional social, a FCE promoveu uma discussão entre as teorias do educador e este campo de conhecimento. Já De Paulo Freire a bell hooks: por uma formação em saúde antirracista, antisexista e antiLGBTQIfobica foi atividade que visou mostrar a importância de uma formação em saúde engajada politicamente.
Seguindo a tradição consolidada nas duas últimas edições da Semuni, a programação de quarta-feira (29) foi totalmente dedicada à saúde mental e ao bem-estar. Na FCE, a ação Movimente-se: um corpo ativo ajuda a mente a enfrentar os desafios do home office trouxe um alerta quanto aos riscos de hábitos sedentários, orientações para uma rotina mais dinâmica e apresentação de exercícios de relaxamento. A atividade contou com mais de cem participantes no YouTube e foi muito elogiada pelo chat.
A tarde de quarta também foi embalada pela oficina A música e a arte na Saúde Mental, transmitida pela plataforma Zoom. A proposta foi oferecer um momento de bem-estar e relaxamento, além de discutir a saúde mental por meio da música, neste período de ensino remoto.
Já a FUP, elencou a ação e o pensamento como nortes para um momento acolhedor da programação, com o Ateliê Tecer o Ser: tecidos, linhas e agulhas para falar sobre afeto e resistência criativa. Foi mostrado como o bordado, a costura e outros tipos de artesanato que utilizam tecido podem ser uma prática política de elaboração e de resistência individual e coletiva.
O referencial da atividade foi o trabalho da artista Betsy Greer, inventora do termo craftivism – junção entre artesanato e ativismo que define uma forma de ver a vida em que a expressão da criatividade pode capacitar o fortalecimento da voz e a busca por justiça.
O Coletivo Professores Negras e Negros da FUP teve espaço para dialogar e mapear problemas citados pelos membros e participantes. A partir dos pontos mencionados, o grupo pretende elaborar eventos, trabalhos e agendas de estudo firmando o compromisso da equipe de uma ação política antirracista. O objetivo é construir coletivamente estratégias formativas e de ações na comunidade.
A diversidade de atividades promovidas pela FUP também foi reforçada pela ação Filtros do Instagram: uma oficina de introdução à programação, em que promoveram o letramento digital básico dos interessados e a produção de um novo filtro de Instagram para o participante. A gravação da oficina ainda pode ser acessada.
PROTAGONISMO FEMININO – A FGA ofertou cerca de 25 ações, entre lives e eventos gravados. Também foram promovidos eventos para que alunos de ensino médio interagissem com os graduandos.
Com a oficina gravada Experimentos de Química para alunos de ensino médio, o objetivo foi despertar o interesse dos alunos pela disciplina e também disseminar conteúdos. A proposta é oriunda do projeto Elas na Engenharia do campus UnB Gama, desenvolvido pela FGA no Centro Educacional 08 do Gama.
Jornada: jogos remotos de Matemática para os anos iniciais do Ensino também é atividade que integra a programação. A proposta é expor os jogos on-line produzidos no projeto de extensão Meninas, hora do jogo, além de relatar as experiências da equipe e apresentar tutorias de elaboração desses recursos.
Outra iniciativa para promoção da presença das mulheres nas engenharias é a apresentação do projeto Projeto Meninas Velozes – que nasceu, entre outros aspectos, para buscar mitigar a disparidade de gênero nos cursos de Engenharia. O evento fomentou discussões a respeito dos aspectos que envolvem os planos de ação da iniciativa.
Mais um destaque da FGA foi a retrospectiva do Projeto Mia Ajuda, que desenvolveu um aplicativo para facilitar a aproximação de quem precisa de ajuda daqueles que desejam ajudar na pandemia. Também foram apresentadas as novas linhas de pesquisa do grupo.
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SEMUNI REMOTA – As unidades acadêmicas possuem coordenações de extensão individuais. Os integrantes colaboram com a organização e suporte na realização das atividades.
Na FGA, a coordenação de extensão montou uma equipe com discentes e servidores técnicos, que seguiram as orientações da circular conjunta dos decanatos de Ensino de Graduação (DEG) e de Extensão (DEX) nº 01/2021 para os trabalhos na Semuni. “Sempre buscamos envolvimento de discentes nas atividades para, justamente, estimular o comparecimento de mais estudantes, seja da FGA ou de outras unidades”, ressalta Luciano Noleto.
A coordenadora de extensão da FUP, Caroline Gomide, conta que a equipe foi atendida pelo DEX e pela Secretaria de Tecnologia da Informação (STI), mas a maior dificuldade enfrentada foi o suporte técnico. Ela cita que a FUP contou com dois bolsistas para a divulgação, organização, acompanhamento das atividades e apoio técnico na Semuni.
Já para a coordenadora de extensão da FCE, Patrícia Rezende, o apoio do DEX, em especial na área da comunicação, viabilizou a realização da Semuni na unidade. Aliado a este suporte, houve a colaboração de 15 bolsistas – sete de apoio técnico, sendo três oriundos do DEX, e oito de libras –, além de dois discentes voluntários para as necessidades tecnológicas. "Sem eles, nada disso estaria acontecendo. Os estudantes são fundamentais para o sucesso da execução do evento. Super responsáveis, proativos, pacientes para ajudar e ensinar”, elogia.
“Com a pandemia, tivemos todos que reaprender e reinventar um novo formato de Semuni, e hoje, na programação da semana, é possível constatar que esse contexto de desafios nos deu uma grande oportunidade de aprimorar ainda mais esse momento”, afirma João Paulo Chieregato.
*estagiária de Jornalismo na Secom/UnB.
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