Após o funesto período em que a covid-19 vitimou quase 700 mil pessoas no Brasil, as atividades cotidianas aparentam ter voltado à normalidade. É impossível dissociar este fato ao da adesão em massa à vacinação contra o coronavírus, que foi estimulada com esforços de institutos de pesquisa e universidades ao redor do mundo, inclusive da Universidade de Brasília. Neste 17 de outubro, Dia Nacional da Vacinação, especialistas da UnB reforçam a importância da ciência e da conscientização sobre a imunização para promover a saúde.
A professora Anamélia Lorenzetti, do Instituto de Ciências Biológicas (IB), relaciona o cenário atual de taxas de transmissão baixas da covid-19 à boa adesão da imunização por parte da sociedade. “A vacinação em massa, juntamente com a alta transmissão da ômicron meses atrás, que gerou uma imunidade nos pacientes, fizeram com que, neste momento, tenhamos um período de transmissão mais baixa.”
No entanto, Anamélia afirma que a situação pode mudar. “Se o vírus não sofrer uma nova mutação, podemos continuar neste cenário, mas se tivermos uma nova variante a partir da ômicron, podemos ter uma nova onda de transmissão alta, já que todos estamos vacinados com a vacina baseada na variante original”, completa a professora.
No dia 5 de março de 2022, o Distrito Federal completou dois anos do primeiro caso confirmado de covid-19. Nesse meio tempo, variantes surgiram e, entre elas, a ômicron, que causou uma rápida alta de casos e um recorde de pessoas infectadas pelo vírus. Assim como nos anos anteriores, houve a lotação dos leitos de enfermaria e de unidade de terapia intensiva (UTI), porém o número de mortes foi menor.
Dados apontam que desde o início da campanha de vacinação no Distrito Federal, no dia 19 de janeiro de 2021, mais de 7 milhões de doses foram aplicadas: 89,2% são da primeira dose ou dose única, e 84,16% referem-se à segunda dose ou aplicação única. Tomaram a terceira dose, ou dose de reforço, 1.469.936 pessoas, o que equivale a 20,77% do total de vacinados.
A Universidade de Brasília manteve-se a favor da imunização e produzindo ciência durante os períodos mais críticos da pandemia do coronavírus. A Faculdade de Medicina (FM) e o Hospital Universitário de Brasília (HUB) estiveram entre os 16 centros de pesquisa que participaram da fase 3 dos ensaios clínicos da Coronavac, vacina desenvolvida pelo Instituto Butantan em parceria com o laboratório chinês Sinovac, e aplicaram as primeiras doses da vacina nos profissionais de saúde. “As universidades federais foram essenciais neste processo de epidemia porque foram a base de vários projetos de pesquisa na área de covid”, reitera Anamélia Lorenzetti.
Este estudo rendeu à equipe do Centro de Pesquisa Clínica do Hospital Universitário de Brasília uma homenagem do Senado Federal, proposta pelo senador Izalci Lucas. O HUB também coordenou uma pesquisa nacional que testou a eficácia e a segurança das vacinas contra a covid-19 aplicadas em profissionais de saúde, a SevaCov-Pro.
RELEVÂNCIA DAS CAMPANHAS – Apesar de o Brasil ter uma longa tradição em vacinação e do sucesso na imunização contra a covid-19, campanhas mais recentes, como a da poliomielite, não tiveram os resultados esperados. Atualmente, a cobertura vacinal do público-alvo é de 63,69%, bem abaixo da meta estipulada, que é 95%.
Professora do Instituto de Ciência Política (Ipol), Michelle Oliveira afirma que durante a pandemia o Programa Nacional de Imunizações (PNI), criado ainda no contexto da ditadura militar, passou a ser questionado. “Ainda que as pessoas estejam se vacinando, a gente tem uma discussão sobre a hesitação vacinal que tem impactado na vacinação”, diz. “Quando a gente olha a vacinação infantil, por exemplo, isso é bem nítido. Ainda temos um grande número de crianças que não se vacinaram contra covid-19 em função da preocupação dos pais, ou inclusive por outros fatores”, completa.
Segundo a professora, a desconfiança e os movimentos antivacina não são os únicos responsáveis pela baixa adesão às campanhas de vacinação este ano. “A fragilização do Sistema Único de Saúde (SUS), com diminuição do orçamento e enfraquecimento da atenção primária à saúde (nível onde as vacinações acontecem e onde estão instaladas as salas de vacinação), por exemplo, também tem diminuído o acesso das pessoas à vacinação”, afirma.
“A restrição do acesso também tem impacto”, ressalta a professora do Ipol. “Se numa unidade de saúde no Distrito Federal a sala de vacina funciona uma vez por semana porque não tem profissional de saúde para abrir a sala de vacina todos os dias, e uma mãe leva o seu filho para vacinar justamente no dia que não está funcionando, dificilmente essa mãe vai voltar imediatamente no dia que a sala funciona para que aquela criança seja imunizada”, exemplifica Michelle. “Então, possivelmente aquela criança vai ficar por um tempo sem se vacinar, ou, inclusive, não vai.”
A professora ressalta a importância das campanhas de vacinação para incentivar a imunização das pessoas. “Elas servem como um chamamento para a população se vacinar e fazem com que a população tenha consciência da importância da vacinação”, salienta. “Por isso é tão preocupante quando a gente tem gestores públicos advogando contra a vacina, colocando dúvidas sobre a vacinação e, inclusive, não dando um exemplo de se vacinar. Isso gera uma desconfiança na população e faz com que as pessoas questionem a vacina”, analisa.
*estagiário em Jornalismo pela Secom/UnB.
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