Em janeiro de 2021, foi descoberta uma nova variante do Sars-Cov-2, vírus causador da covid-19, conhecida como P.1. Encontrada originalmente em Manaus, a cepa tem atraído a preocupação de autoridades, pesquisadores e profissionais da saúde por possuir maior transmissibilidade. Um grupo interinstitucional de pesquisa, que conta com colaboração de cientistas da UnB, vem conduzindo estudos para avaliar a efetividade de prevenção de vacina contra essa nova variante brasileira.
A equipe do Vebra Covid-19 observou os efeitos da CoronaVac após 14 dias da aplicação da primeira dose do imunizante em profissionais de saúde de Manaus (AM), onde a variante P.1 é predominante. O estudo contou com a participação de 67.718 trabalhadores da área. Foi identificado que o imunizante tem 50% de efetividade na prevenção contra a covid-19.
“O estudo aponta que a vacina tem efetividade para evitar hospitalização e óbitos, mesmo na presença de uma variante classificada como de preocupação internacional pela Organização Mundial da Saúde”, aponta Wildo Navegantes, professor de epidemiologia da Faculdade UnB Ceilândia (FCE) e pesquisador do grupo Vebra Covid-19.
O docente foi responsável por tratar com os demais pesquisadores sobre a metodologia do estudo e a discussão dos dados obtidos. A pesquisa levou em conta informações da Secretaria Municipal de Saúde de Manaus e da Fundação de Vigilância em Saúde do Estado do Amazonas.
A vacina CoronaVac foi desenvolvida em um contexto em que a variante brasileira ainda não havia sido descoberta. Silvano Oliveira, doutorando do Programa de Pós-Graduação em Saúde Coletiva da UnB e membro do Vebra Covid-19, ressalta a importância da avaliação da efetividade do imunizante, sobretudo com o surgimento de novas cepas com alto potencial de contágio.
“É de suma importância fazermos uma avaliação da efetividade da vacina considerando também este contexto. Por esse motivo, iniciamos o estudo no Amazonas, primeiro local onde foi identificada a variante P.1”, pontua.
O estudo desenvolvido pelo grupo Vebra Covid-19 tem como foco a efetividade vacinal, para avaliação do impacto da vacinação na redução de casos, mortalidade e hospitalizações por covid-19. O professor Wildo Navegantes explica que esse tipo de pesquisa é conduzida para que seja observado o que acontece na vida real após o processo de liberação da vacina.
O docente lembra que a abordagem é diferente da adotada no estudo de eficácia, que avalia o desempenho da vacina, em uma situação controlada – a exemplo dos ensaios clínicos –, em um número muito menor de pessoas e respeitando requisitos experimentais.
AMPLIAÇÃO DAS ANÁLISES – Este foi o primeiro resultado obtido pelo grupo em termos de avaliação da efetividade de um imunizante. O estudo terá continuidade para avaliação da proteção da CoronaVac entre os profissionais de saúde de Manaus, considerando a aplicação da segunda dose.
Além disso, a expectativa é também avaliar a efetividade das vacinas desenvolvidas pela Sinovac Biotech e pela Oxford/AstraZeneca em idosos de Manaus e de outras cidades brasileiras. “O grupo tem interesse em estudar a efetividade das vacinas [contra covid-19] em uso no Brasil em outras cidades que tenham interesse. Já estamos trabalhando com dados de São Paulo e Campo Grande”, enfatiza Wildo.
O pesquisador Silvano Oliveira explica que a ampliação do campo de análise da pesquisa, a princípio para as cidades de São Paulo (SP) e Campo Grande (MS), possibilitará que o grupo avalie outros fatores de proteção de cada uma das vacinas, inclusive o efeito da primeira e da segunda doses. Dados sobre a efetividade pós-segunda dose ainda estão sendo coletados.
“Como precisamos da ocorrência de eventos (pessoas vacinadas adoecendo e também pessoas não vacinadas não apresentando quaisquer sintomas) e devido também ao interesse de obter os resultados o mais breve possível, estamos ampliando o escopo do estudo”, informa Silvano.
O grupo de estudo Vebra Covi-19 é formado por pesquisadores de diversas instituições nacionais e estrangeiras, como Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz); Universidade de Brasília (UnB); Universidade Federal do Mato Grosso do Sul (UFMS); Barcelona Institute for Global Health, na Espanha; e Yale School of Public Health, Stanford Medicine e University of Florida, as três nos Estados Unidos.
O coletivo conta com apoio da Organização Pan-Americana de Saúde (Opas), além de ter entre os membros servidores das secretarias estaduais e municipais de saúde do Amazonas e de São Paulo.
GARANTIA DA EFICÁCIA – A Universidade de Brasília e o Hospital Universitário de Brasília (HUB) têm contribuído no combate à covid-19 em diversas frentes. Em agosto de 2020, a instituição e o HUB participaram da terceira fase do estudo de testagem da vacina CoronaVac, produzida pela empresa chinesa Sinovac Biotech em parceria com o Instituto Butantan. Profissionais da saúde do Distrito Federal que trabalham no atendimento à pacientes com covid-19 foram voluntários nos experimentos para garantir a eficácia e segurança do imunizante. Eles serão acompanhados por 12 meses após a vacinação.
Segundo Gustavo Romero, diretor da Faculdade de Medicina (FM) e coordenador dos estudos clínicos realizados no DF, o acompanhamento dos participantes é muito importante para identificar a duração do efeito protetor da vacinação contra a covid-19 e dados complementares da segurança do produto a longo prazo.
“Sabemos que o alcance do trabalho realizado transcende os limites do Distrito Federal e do Brasil. E tenho certeza que, caso sejamos desafiados a responder, a trabalhar no desenvolvimento de outras vacinas, a UnB estará pronta e disponível para acolher a demanda”, diz.
O docente reforça que a UnB e o HUB têm conseguido auxiliar no desenvolvimento de uma vacina que já está em uso em diferentes países do mundo. “A sinergia entre a Faculdade de Medicina e o HUB permitiu contribuir de forma significativa no desenvolvimento e estudos clínicos da vacina CoronaVac e os resultados revelaram que a vacina é eficaz para reduzir o risco de adoecer com covid-19 e, principalmente, para evitar os casos moderados ou graves que exigem internação hospitalar”, ressalta Gustavo Romero.
O diretor da FM também destaca que o HUB está plenamente inserido na rede de atenção à saúde do Distrito Federal, oferecendo cuidado a pacientes que exigem internação pela covid-19.
No começo de 2021, o sistema de saúde de Manaus entrou em colapso e o hospital universitário participou de uma ação humanitária que acolheu amazonenses que necessitavam de internação. O HUB recebeu 15 pacientes com covid-19 vindos da capital do Amazonas. Para isso, a infraestrutura e os insumos necessários foram preparados na Unidade de Pronto-Socorro do HUB, onde já estavam em funcionamento dez leitos exclusivos para a covid-19 – hoje esse número aumentou para 40.
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Além dessas ações, a UnB tem pesquisas em andamento para analisar as variantes do novo coronavírus. Entre as cepas estudadas, três são brasileiras: a P.1, a P.2 (encontrada no Rio de Janeiro) e a N.9 (encontrada em São Paulo). Os estudos têm o objetivo de obter novas informações e avaliar o impacto dessas mutações do vírus em circulação no Distrito Federal.
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