O receio ou, até mesmo, a aversão a vacinas vem sendo pauta no Brasil desde antes a pandemia de covid-19. Segundo informações do Programa Nacional de Imunização (PNI) do Ministério da Saúde, o país vem enfrentando uma queda na cobertura vacinal há cerca de cinco anos, o que preocupa especialistas e traz à tona questões relacionadas às informações falsas que são disseminadas sobre o tema.
As estatísticas divulgadas mostram a queda no número das metas de imunização em adultos e, principalmente, em crianças. Agora, com a vacina contra a covid-19, estão sendo levantadas questões sobre segurança, eficácia, reações adversas e níveis de infecção. Tem-se observado também a explosão de boatos sobre a vacina ter potencial para acarretar mutações genéticas, deformidades, entre outras inverdades.
SEGURAS E EFICAZES – Por esta razão, é preciso destacar que as vacinas só são liberadas a partir de série de testes que asseguram sua segurança e eficácia. Wildo Navegantes, professor de epidemiologia e integrante do Comitê Gestor do Plano de Contingência da Covid-19 (Coes) da UnB, destacou que não é preciso temer as vacinas anti-covid-19.
“A tecnologia e a ciência vêm evoluindo com as novas estratégias e estão sendo produzidos produtos no mundo biológico cada vez melhores. De forma que as vacinas só são liberadas pelas agências de controle e fiscalização após um rigoroso ensaio clínico e um rigoroso depósito de documentos, de análises que são feitas nesses estudos que se passam, que começam desde a fase 1, mostrando a sua segurança (que não cause dano humano e da biodisponibilidade de ela ficar viável no corpo humano). São vacinas extremamente seguras. Nós já temos diversas vacinas muito seguras no Brasil e no mundo sendo utilizadas para várias doenças sejam elas transmitidas por vírus ou bactérias”, disse o professor.
PANORAMA – Para combater os males da covid-19, estão sendo desenvolvidas vacinas em várias partes do mundo. A primeira fora dos ensaios clínicos de fase 3 (momento em que é avaliada a eficácia do estudo) a ser aplicada foi a vacina de RNA, BNT162b2, da empresa Pfizer e BioNtech, ainda em dezembro. De lá para cá, outras têm trilhado caminho semelhante.
“Os ensaios clínicos de fase 3 das vacinas de mRNA não apresentaram efeitos adversos graves e demonstraram uma ótima taxa de eficácia, acima de 90%”, comenta Anamélia Lorenzetti, professora associada do Programa de Pós-Graduação em Biologia Microbiana na UnB, com experiência na área de imunologia.
A docente lembra que a vacina Sputnik V começou a ser aplicada na Rússia antes da finalização dos ensaios clínicos de fase 3 e agora também está sendo aplicada na Argentina. “Esta vacina deve ser produzida no Brasil. A Sputnik V, assim como a vacina desenvolvida pela Oxford-AstraZeneca (denominada de ChAdOx1 S), é uma vacina de adenovírus contendo DNA do vírus Sars-Cov-2. A vacina da Oxford-AstraZeneca é a preparação vacinal que mais vendeu doses no mundo. No entanto, somente foi aprovada para utilização no Reino Unido em dezembro. Os dados apresentados até o momento são de alta eficácia e com baixos efeitos colaterais”, destacou Anamélia Lorenzetti.
“Baseados nos dados obtidos até o momento, podemos dizer que são seguras, uma vez que as preparações que utilizam mRNA e o adenovírus não foram utilizadas para a imunização de humanos para qualquer outra doença e têm apresentado dados de alta eficiência e com baixos efeitos colaterais”, completou.
Com o intuito de combater o Sars-Cov-2, o Brasil firmou contrato com a AstraZeneca para produção da vacina na Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) e disponibilização pelo Sistema Único de Saúde (SUS). Além disso, o Instituto Butantan começará, de acordo com previsões, a aplicação ainda em janeiro da vacina CoronaVac, em parceria com a empresa Sinovac.
Anamélia Lorenzetti esclarece que a CoronaVac utiliza o vírus morto e apresenta baixos efeitos colaterais e eficácia de 78% para prevenção de casos leves e 50,35% de eficácia global. Para a professora, as vacinas desenvolvidas até o momento são um grande exemplo de inovação na área.
Para Anamélia, as informações sobre as novas vacinas poderiam gerar certa resistência na população, tendo em vista que pouco se conhece em relação aos efeitos a longo prazo. Mas não há motivo para isso. “Até o momento, mais de 17 milhões de doses de vacinas já foram aplicadas pelo mundo, sendo a maior parte de mRNA, e os efeitos colaterais relatados confirmam os dados apresentados nos ensaios clínicos de fase 3, ou seja, a grande maioria dos efeitos adversos foram relatados como brandos/moderados, o que é absolutamente aceitável diante da gravidade desta doença”, destacou a professora.
PÓS-VACINA – Mesmo com o andamento das ações para o Brasil iniciar a vacinação, ainda é preciso manter os cuidados de prevenção contra a covid-19 (como distanciamento social e uso de máscaras), já que ainda não se sabe quanto tempo levará para que toda a população seja imunizada. O professor Wildo Navegantes acredita que existirá uma demora para que sejamos “liberados” das medidas de controle.
“Isso porque a vacina não vai chegar em quantidade necessária, já que o governo não conseguiu fazer isso organizadamente", explica o docente. "Então, nós não teremos uma quantidade de doses para ofertar à população de forma a produzir uma resposta, que nós chamamos de um cordão, uma tentativa de aumentar as pessoas imunes para evitar que a doença não se transmita de uma pessoa para outra”, completa.
“Assim, eu diria que pelo menos em 2021 inteiro, talvez 2022, nós tenhamos que conviver ainda com o uso de máscaras, preferencialmente evitando contatos interpessoais, e essa infelizmente é uma notícia não boa, mas é o que o governo federal tem proposto para a sociedade brasileira”, alertou.
Leia também:
>> HUB abre dez leitos de saúde mental e amplia vagas de hemodiálise
>> UnB integra projeto de tradução de maior dicionário jurídico on-line mundial
>> UnB recebe matrículas pelo SIGAA
>> UnB divulga guia de recomendações para prevenção e controle da covid-19
>> Casa Niemeyer leva prêmio por transpor exposição de arte presencial para formato digital
>> Mutação do novo coronavírus: qual é o real perigo?
>> Cepe aprova resolução com regras para o próximo semestre
>> Iniciada segunda rodada da pesquisa social com a comunidade acadêmica acerca do semestre remoto
>> UnB manterá aulas em modo remoto no próximo semestre
>> Artistas apoiam mobilização da Universidade de Brasília por recursos contra a covid-19
>> Webinário apresenta à sociedade projetos de combate à covid-19
>> Copei divulga orientações para trabalho em laboratórios da UnB durante a pandemia de covid-19
>> Coes publica cartilha com orientações em caso de contágio pelo novo coronavírus