O surgimento e propagação do novo coronavírus ao redor do mundo mobilizou cientistas de diferentes áreas e vários países com objetivo de desvendar os mecanismos responsáveis pelo pior desfecho clínico observado nos pacientes do chamado grupo de risco.
Pesquisadores do Laboratório de Neurovirologia Molecular da Faculdade de Ciências da Saúde (FS) da UnB, em parceria com o Departamento de Neurociência, Biomedicina e Ciências do Movimento da Universidade de Verona (Itália), publicaram um artigo científico na revista Fronitiers in Immunology que aponta a participação das proteínas celulares ACE2/ADAM17/TMPRSS2, diretamente envolvidas na infecção pelo Sars-Cov-2. Essas proteínas seriam os principais fatores responsáveis pelas formas mais graves da covid-19, em pacientes idosos do sexo masculino com determinadas comorbidades (como doenças cardiovasculares, hipertensão, diabetes e doenças pulmonares crônicas).
HISTÓRICO – "A parceria com o professor Donato Zipeto da Universidade de Verona se deu por ocasião de um trabalho em colaboração relacionado à infecção pelo vírus da imunodeficiência humana, o HIV-1. Em 2019, um aluno de graduação de nosso grupo, o Julys, se encontrava no laboratório do professor Donato quando a infecção pelo Sars-Cov-2 se espalhou pelo mundo, o que nos obrigou a redirecionar nosso foco para a covid-19", afirma o professor Enrique Argañaraz, docente da UnB no estudo, na companhia do também docente Gustavo Argañaraz e outros pesquisadores.
Segundo os professores, o trabalho surgiu com o objetivo de responder duas questões que intrigavam a comunidade científica.
A primeira é sobre a observação de que pacientes com algumas doenças crônicas – como por exemplo, cardíacas, hipertensão arterial, diabetes, doenças pulmonares e renais crônicas –, assim como fumantes e idosos do sexo masculino, apresentavam uma evolução desfavorável quando infectados com o novo coronavírus.
A segunda questão é sobre o papel ambivalente desempenhado pela proteína celular ACE2, a qual, por um lado, é o principal receptor do vírus Sars-Cov-2 e, pelo outro, é um importante fator de proteção tecidual contra processos inflamatórios agudos nos tecidos cardíacos e pulmonar, assim como na coagulação intravascular disseminada, principais alterações observadas na covid-19.
"A partir dessas observações e com objetivo de desvendar os mecanismos moleculares subjacentes à covid-19, realizamos um estudo sistemático dos mecanismos fisiopatológicos envolvidos na gênese da covid-19 e das diferentes comorbidades", detalha o docente.
"Dessa forma, foi possível identificar algumas características fisiopatológicas comuns às diferentes comorbidades e à covid-19. Todas as doenças, ao igual que o observado na covid-19, apresentam alterações fisiopatológicas associadas ao desequilíbrio do sistema renina-angiotensina (SRA) ocasionado pela diminuição da expressão tecidual da molécula ACE2", continua. E prossegue: "essa diminuição da expressão de ACE2 ocorre pela superativação da protease celular desintegrina e domínio de metaloproteinase 17 (ADAM17)", explica Enrique Argañaraz.
SEXO MASCULINO – De acordo com os docentes Enrique Argañaraz e Gustavo Argañaraz, deve-se salientar que a expressão da molécula ACE2 é vital para manter o equilíbrio do SRA e, assim, proteger os tecidos cardíaco, pulmonar e renal de processos inflamatórios. Um outro achado, segundo os pesquisadores, foi a verificação de que a serina protease transmembrana do tipo II (TMPRSS2), uma outra protease fundamental para a infecção pelo Sars-Cov-2, apresenta uma maior expressão em pacientes do sexo masculino, o que pode ser um outro fator importante no pior desfecho clínico da covid-19 nestes pacientes.
"A partir desses dados, propomos um possível mecanismo para explicar o efeito deletério da superativação das proteases ADAM17 e TMPRSS2 e sua relação com a diminuição da expressão da molécula ACE2 na covid-19, com o consequente efeito deletério em pacientes com determinadas comorbidades. Dentro desse contexto, o delicado equilíbrio entre as interações ACE2, ADAM17 e TMPRSS2 apresentado por cada comorbidade, juntamente com fatores genéticos específicos, associados à maior expressão de TMPRSS2 em pacientes do sexo masculino, podem ser decisivos no desfecho clínico de covid-19", prossegue Enrique Argañaraz.
Sobre possíveis terapias que possam reverter esse quadro ou o desequilíbrio crônico, os docentes comentam que o estudo levanta a possibilidade de que abordagens terapêuticas direcionadas a melhorar a expressão da molécula ACE2 nos tecidos e a diminuir a atividade das proteases ADAM17 e TMPRSS2 poderiam ser eficazes para diminuição da mortalidade e morbidade em pacientes com doenças crônicas afetados pela covid-19.
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