COVID-19

Com o marco de meio milhão de vidas perdidas, cientistas ressaltam a importância da vacinação e da manutenção dos cuidados

O Brasil registra 500 mil mortos pelo novo coronavírus 481 dias após o primeiro caso confirmado no país. Arte: Marcelo Jatobá/Secom UnB

 

No dia 19 de junho, o Brasil atingiu a marca de meio milhão de mortos por covid-19. O total de óbitos registrado naquele dia foi de 500.868. Em um intervalo de apenas 51 dias até a data, 100 mil pessoas morreram no país em decorrência da doença. Três dias após o marco, o país ultrapassou a Índia e passou a ocupar o primeiro lugar na lista que sinaliza a média diária de mortes por covid-19 no mundo, segundo dados apurados pela plataforma internacional Our World In Data (OWD), ligada à Universidade de Oxford, no Reino Unido. Esta é a terceira vez que a nação ocupa o topo do ranking.

 

Já no dia 21, foi alcançado o somatório de 73.564 na média móvel nacional de casos – a pior alta desde março. Contribui para agravar a situação o ritmo da vacinação em território nacional, que tem sido considerado lento se comparado a outros países. Segundo dados do consórcio de veículos de imprensa do país sobre a pandemia, 12,27% da população brasileira recebeu duas doses de imunizantes e 34,25% apenas uma dose. A plataforma OWD aponta que os Estados Unidos vacinaram totalmente quase 50% da população com as duas doses e mais da metade com a primeira dose.

 

Diante do cenário preocupante, pesquisadores da Universidade de Brasília analisam a situação da pandemia e fazem projeções acerca do que pode vir a acontecer no país nos próximos meses caso o ritmo de vacinação continue lento e não haja a manutenção dos cuidados não farmacológicos – uso de máscara, higienização correta das mãos, isolamento e distanciamento social. Os especialistas consideram as medidas de prevenção e a vacinação as melhores estratégias para evitar o aumento da contaminação pelo Sars-Cov-2, agente causador da covid-19.

Edilson Bias defende que é necessário alertar e orientar a população para efetivar o processo de ação colaborativa contra a covid-19. Foto: Luis Gustavo Prado/Secom UnB

 

Edilson Bias, professor do Instituto de Geociências (IG) e coordenador do Observatório PrEpidemia, informa que as taxas de contaminação e de reprodução (Rt) – que determina a velocidade do contágio do coronavírus – estão vinculadas aos índices de liberação das atividades e da redução das medidas de biossegurança.

 

“No DF, temos apenas 11,22% da população vacinada com as duas doses, segundo o vacinômetro covid – InfoSaúde de 28 de junho. Agrega-se a este fato a flexibilização e o relaxamento das medidas de controle do distanciamento social, o que poderá trazer graves consequências, pelas incertezas que ainda temos sobre as novas variantes que circulam no país”, projeta Edilson Bias.

 

A equipe do Observatório faz o acompanhamento de epidemias como a de covid-19 e seus impactos sociais, econômicos e ambientais na sociedade brasileira.

 

>> Relembre: Observatório projeta cenários sobre crise na saúde no DF em decorrência da pandemia

 

O pesquisador frisa que desde o início da crise sanitária o PrEpidemia tem alertado sobre a necessidade do uso de inteligência epidemiológica geográfica e do controle ativo dos casos, além da importância da vacinação célere, aproveitando a experiência que o país possui em processos vacinais.

Tarcísio Rocha prevê cenário ainda pior caso a vacinação em massa não avance. Foto: Arquivo pessoal

 

AVANÇO DAS VARIANTES – De acordo com pesquisadores da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), mais de 90 cepas – ou seja, mutações do Sars-Cov-2 – circulam pelo país, mas três são mais preocupantes devido a uma maior taxa de transmissibilidade: a Gamma (P.1/Manaus), a Alpha (B.1.1.7/Reino Unido) e a Beta (B.1.351/África do Sul).

 

A variante Delta (B.1.617/Índia) – transmitida em maior velocidade em comparação às outras, segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS) – já foi identificada no Brasil e até o momento há menos de dez casos confirmados e pelo menos duas mortes. Possíveis contaminados estão sendo monitorados.

 

O professor do Instituto de Física (IF) da UnB Tarcísio Rocha é membro de grupo de pesquisa interinstitucional que monitora a situação da covid-19 no Brasil e que divulga regularmente notas técnicas com análises do cenário da pandemia no país. Ele ressalta a necessidade de agilizar o ritmo de vacinação, tendo em vista a presença da variante Delta no Brasil.

 

>> Saiba mais: Pesquisadores da UnB investigam variantes do novo coronavírus

 

“Qualquer demora na vacinação significa mais pessoas sendo infectadas e, infelizmente, morrendo. Mesmo quem sobrevive, tem alta chance de ter sequelas duradouras. Nos Estados Unidos, a variante Delta tem se propagado muito mais nos condados com menos de 30% de pessoas vacinadas com duas doses. Trata-se de uma variante que leva a uma maior proporção de pessoas hospitalizadas e maior mortalidade”, diz.

 

O professor do IF completa: "É questão de tempo para que o mesmo ocorra aqui. Portanto, vacinar rapidamente uma grande parcela da população é algo urgente para evitar um desastre sanitário ainda maior”.

Wildo Navegantes menciona a emergência de que quem tomou a primeira dose da vacina receba a segunda para completar a imunização. Foto: Arquivo pessoal

 

“Nossas projeções mostram que, se mantivermos o atual ritmo de vacinação e se as novas variantes, o contágio e a mortalidade não aumentarem significativamente, ainda teremos mais 100 mil mortes”, alerta Tarcísio Rocha.

 

Segundo o pesquisador, o afrouxamento da medida de distanciamento social e a ausência de campanhas efetivas de informação podem ser fatores que possibilitarão o avanço de uma nova onda da doença no Brasil.

 

IMPACTOS DA VACINAÇÃO – Wildo Navegantes, presidente do Comitê Gestor do Plano de Contingência em Saúde da Covid-19 (Coes) da Universidade de Brasília e professor de epidemiologia da Faculdade UnB Ceilândia (FCE), salienta a importância da manutenção dos cuidados para a contenção da covid-19, aliada à maior adesão à imunização.

 

“Eu diria que nós não estamos entrando numa primeira, numa segunda, numa terceira onda. Nós estamos numa grande onda, num grande maremoto em que as pessoas precisam entender a necessidade de permanecer respeitando as medidas de controle da covid-19. Ao mesmo tempo, de aderir às vacinas. O Distrito Federal, por exemplo, está desde o final de fevereiro com 85% ou mais de taxa de lotação de leitos clínicos e de UTI, o que demonstra a alta transmissibilidade local da doença”, aponta.

 

Na avaliação de Anamelia Lorenzetti, professora de imunologia do Instituto de Ciências Biológicas (IB), um dos benefícios de ter um maior número de pessoas vacinadas é a redução da circulação do vírus.

Anamelia Lorenzetti alerta que quanto maior o tempo para imunizar a população, mais o vírus circula na sociedade. Foto: Arquivo pessoal

 

“Nesse momento da pandemia, é importante que a gente consiga vacinar o maior número de pessoas possível, com qualquer uma das vacinas. Porque, com isso, a gente vai ter regiões com mais pessoas imunizadas e vai reduzir a capacidade de circulação do vírus. Dessa forma, o vírus vai encontrar pessoas já imunizadas e não vai conseguir infectá-las efetivamente”, explica a pesquisadora.

 

“O ritmo lento da vacinação favorece o surgimento das variantes de preocupação, que é o que estamos vendo nesse momento. Então, mesmo as pessoas vacinadas precisam continuar com todos os cuidados não farmacológicos”, enfatiza.

 

*estagiária de Jornalismo na Secom/UnB

 

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