Estudantes, técnicos e professores da Universidade de Brasília relataram piora na qualidade de vida durante o isolamento social decorrente da pandemia de covid-19. É o que aponta estudo realizado entre março e maio de 2021 pela equipe do Centro de Referência sobre Drogas e Vulnerabilidades Associadas (CRR), ligado à Faculdade UnB Ceilândia (FCE).
Pesquisadores efetuaram levantamento junto à comunidade acadêmica, por meio de formulário eletrônico, com o objetivo de avaliar o impacto psicológico das restrições sociais. O estudo conta com uma amostra de 2.790 respondentes dos três segmentos universitários.
Três grandes frentes foram abordadas na pesquisa: a qualidade de vida, a qual incorpora a satisfação consigo mesmo; o uso de álcool e outras drogas; e os papéis ocupacionais, o que envolve o desempenho em funções domésticas. Os dados também contemplam a diferenciação por sexo.
Dos quase 3 mil respondentes, 70% afirmaram que a qualidade de vida piorou durante o isolamento social e 12% disseram que houve melhora. Apesar de a maioria dos participantes ter reportado efeitos negativos da medida em suas vivências, entre os servidores técnico-administrativos, 25% enxergaram benefícios.
Coordenadora do CRR e professora do curso de Terapia Ocupacional da FCE, Andrea Gallassi explica alguns fatores que podem ter refletido na percepção de mudança positiva para a vida dessas pessoas: "Puderam estar mais em casa com seus familiares, com seus filhos. Para muitas pessoas, a socialização não era algo importante, o mais importante era estar em casa com a família. Também não estavam mais na correria do dia a dia de ir para o trabalho e de pegar transporte público”, analisa.
Em relação à adesão ao isolamento social, 49% da comunidade acadêmica adotou totalmente, 44% parcialmente e 8% não aderiu. Ao analisar por sexo, 51% das mulheres e 46% dos homens relataram ter seguido integralmente a medida. Já a avaliação por segmento universitário aponta adesão total entre 70% dos técnicos, 52% dos professores, 45% dos alunos de graduação e 56% dos estudantes de pós-graduação da UnB.
Mais da metade da comunidade acadêmica relatou que piorou a satisfação consigo mesmo na pandemia; para 15%, melhorou; e para 32%, permaneceu da mesma forma.
Os indicadores da pesquisa O impacto psicossocial do isolamento social na Universidade de Brasília demonstram que não houve aumento de consumo de álcool e outras drogas pela comunidade acadêmica. Entre as substâncias pesquisadas, além do álcool, estão tabaco e maconha. A maior parcela dos respondentes informou que manteve o mesmo padrão de consumo.
“O que mais me chamou atenção nos dados foi que o segmento dos estudantes de graduação teve o maior percentual de diminuição de uso de álcool e outras drogas. Isso foi surpreendente”, revela Andrea Gallassi.
A pesquisa foi selecionada e financiada em chamada prospectiva de projetos para enfrentamento ao novo coronavírus proposta pelos decanatos de Extensão (DEX) e de Pesquisa e Inovação (DPI), junto ao Comitê de Pesquisa, Inovação e Extensão de Combate à Covid-19 (Copei).
Além de Andrea Gallassi, integram o projeto as professoras do curso de Terapia Ocupacional Josenaide Engracia dos Santos, Flávia Mazitelli e Daniela Rodrigues e o professor do Departamento de Estatística da UnB Eduardo Nakano. Estudantes bolsistas também colaboraram.
PROMOÇÃO DA SAÚDE – Apesar de os dados contemplarem uma amostra da comunidade acadêmica da UnB – formada na sua integralidade por 39.228 estudantes de graduação, 8.563 discentes de pós-graduação, 3.203 servidores técnicos e 2.848 professores –, os resultados obtidos subsidiarão análises mais aprofundadas sobre as consequências psicossociais da pandemia e a proposição de iniciativas de apoio à saúde mental para a totalidade dos três segmentos.
“Vamos relacionar os dados das três frentes de pesquisa para tentar identificar um perfil da comunidade acadêmica antes e depois da pandemia com relação a todos esses aspectos. Tentaremos associar esses dados para entender de que jeito a pandemia impactou os membros da Universidade”, explica Andrea Gallassi.
As associações serão feitas para observar se o aumento ou a diminuição de frequência em uma frente da pesquisa está relacionada à melhora ou à piora da qualidade de vida das pessoas.
A diretora de Atenção à Saúde da Comunidade Universitária, Larissa Polejack, reforça ainda o potencial de pesquisas como essa para que a unidade conheça melhor os integrantes da UnB e construa, junto a outros setores, a política institucional de promoção da saúde.
“Esses dados são muito importantes para que a gente possa, cada vez mais, entender o que está acontecendo com a nossa comunidade e poder propor ações tanto de prevenção quanto de promoção de saúde mental”, ressalta.
PESQUISA DE SAÚDE MENTAL – A Diretoria de Atenção à Saúde da Comunidade Universitária (Dasu) também lançou, em março deste ano, pesquisa mais ampla no âmbito da saúde mental, com a participação dos três segmentos da Universidade. O estudo possui dois eixos: um quantitativo e outro qualitativo.
O primeiro envolveu a obtenção de dados por meio de questionário aplicado entre 1.037 estudantes, 69 docentes e 70 técnicos administrativos – a amostra foi selecionada por sorteio. No eixo qualitativo, foi realizada pesquisa em grupos focais com discentes LGBTQIA+, negros, moradores da Casa do Estudante Universitário (CEU), quilombolas e que têm filho.
Larissa Polejack destaca que os grupos focais contribuem “para que possamos ter uma dimensão maior, não só quantitativa, com relação a aspectos da saúde mental, mas também ressaltar a experiência de grupos específicos para identificar maiores vulnerabilidades”. A expectativa é que os resultados preliminares sejam obtidos no início de julho.
ASSISTÊNCIA – A UnB tem realizado diferentes ações de apoio à saúde mental dos membros da comunidade acadêmica. Vinculada ao Decanato de Assuntos Comunitários (DAC), a Dasu está à frente das iniciativas institucionais, e possui coordenações que têm desempenhado atividades direcionadas a estudantes, docentes e técnicos, além de público externo, neste momento de pandemia.
A Coordenação de Articulação de Redes para Prevenção e Promoção da Saúde (CoRedes) é um dos setores que oferece atividades voltadas à saúde mental. Entre elas está a Terapia Comunitária On-line, promovida em parceria com a Secretaria de Saúde do Distrito Federal (SES-DF).
As práticas são realizadas três vezes por semana, via plataforma Zoom. As inscrições para os encontros virtuais estão suspensas temporariamente, por conta das férias acadêmicas, mas a Dasu disponibiliza alternativas para quem precisar de atendimento on-line neste período.
A atividade também passou a ser oferecida no âmbito da disciplina Terapias comunitárias e práticas integrativas, do Departamento de Saúde Coletiva. Estudantes da graduação matriculados têm direito a receber créditos.
Composta por psicólogos escolares e pedagogas, a Coordenação de Articulação da Comunidade Educativa (CoEduca) é voltada a fortalecer o sentimento de pertencimento à Universidade e promover o desenvolvimento humano.
Outra das coordenações, a de de Atenção Psicossocial (CoAP), realiza, em parceria com o Hospital Universitário (HUB) e com a Faculdade de Medicina (FM), acolhimento psicossocial, atendimento psicológico e nutricional aos estudantes, técnicos e docentes da UnB. Além de promover ações psicossociais, a Dasu também tem atuado na vigilância ativa da covid-19 na UnB, com o apoio de profissionais da enfermagem, por meio da Coordenação de Atenção e Vigilância em Saúde (CoAVS), criada em 2020.
No perfil @dasu_unb, no Instagram, é possível se atualizar das novidades elaboradas pelas coordenações. Comunidades acadêmica e externa também podem se informar sobre as ações de promoção à saúde mental da Dasu pela página oficial e pelo linktr.ee da diretoria.
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