VALORIZAÇÃO PELA ARTE

Resultado de projeto realizado em parceria com o Sesc-DF e a plataforma Vitrine sem Idade, obra reúne reflexões sobre o envelhecer

Leides Moura e Weila Almeida, coordenadoras do projeto Poesia em tempos de pandemia, durante o lançamento do livro digital Longevidade & Poesias de almas nada vazias. Foto: Arquivo Pessoal

 

No mês de outubro é celebrado o Dia Internacional do Idoso. Este ano, o marco é reforçado pelo lançamento da Década do Envelhecimento Saudável (2020-2030), proposta pela Organização Mundial da Saúde (OMS). É nesse contexto que integrantes do projeto Poesia em Tempos de Pandemia, desenvolvido por meio de parceria entre Universidade de Brasília, Serviço Social do Comércio do Distrito Federal (Sesc-DF) e plataforma Vitrine sem Idade, publicaram o livro digital Longevidade & Poesias de almas nada vazias

 

A obra tem como objetivo promover a valorização da pessoa idosa por meio da escrita poética. Trata-se de um compilado das poesias produzidas por idosos integrantes do projeto, durante o período de pandemia de covid-19. O lançamento ocorreu no Webinário em Longevidade: Dimensões do Envelhecimento Humano a Diversidade do Envelhecer, transmitido pelo canal do Sesc-DF no YouTube. 

 

Em encontros semanais, realizados desde agosto, o grupo dialogou sobre respeito ao idoso, pertencimento regional e preconceito contra pessoas dessa faixa etária. A proposta era também oferecer um espaço de resgate da memória, de reflexão sobre as experiências de vida e de expressão das emoções neste momento de pandemia a partir da ambiência poética. Das discussões, os participantes encontraram a inspiração para elaborar os registros que compuseram o e-book. 

 

A iniciativa foi coordenada por Leides Barroso de Azevedo Moura, professora o Departamento de Enfermagem (ENF) e do Programa de Pós-Graduação em Desenvolvimento, Sociedade e Cooperação Internacional (PPGDSCI/Ceam), com auxílio de Maria Weila Coêlho Almeida, mestranda no PPGDSCI e assistente social no Grupo dos Mais Vividos, do Sesc-DF, onde faz o acompanhamento de idosos.

 

"O projeto trabalha no enfrentamento ao ageismo, essa violência que separa a pessoa idosa e a coloca numa sociedade que não a recebe como pessoa capaz e cheia de talentos. A intenção, do ponto de vista da Universidade, é que ela mantenha sempre o seu compromisso com a comunidade e possa pensar a gestão da cidade, agora com pessoas idosas, que têm muito a contribuir", afirma a professora Leides Moura.

 

Além de promoverem discussões e apresentarem aos participantes diferentes poetas e poetisas para auxiliar na escrita criativa, as coordenadoras agregaram ao projeto um componente digital ao estimularem a inclusão cidadã dos 24 integrantes em plataformas e meios de comunicação computadorizados.

 

"É uma estratégia inovadora do Sesc-DF e da Universidade de Brasília, com intenção de reduzir o impacto do distanciamento social. Após as reflexões, os idosos eram convidados a produzir seus extratos poéticos, que hoje se materializam neste e-book", completa Weila Almeida.

Em suas poesias, Manoela de Souza busca refletir sobre circunstâncias sociais, inclusão e meio ambiente. Foto: Arquivo pessoal

 

VIVÊNCIA – A partir do que é registrado, a humanidade é capaz de tornar atual o que foi vivenciado ao longo dos séculos e expressar suas experiências de vida. Essa capacidade permite às pessoas aprenderem com quem as antecede de forma etária e deixar às futuras gerações premissas e orientações.

 

É nessa perspectiva de resgatar memórias que a dona de casa Manoela José de Souza (67) e a professora aposentada Maria das Graças Timbó (70) tiveram a oportunidade de integrar o projeto, mesmo vivenciando diferentes realidades. Mineira, Manoela reside no Distrito Federal há mais de 20 anos; já Maria das Graças é cearense e chegou na cidade há quatros anos.

 

Maria das Graças tem o nível superior completo; Manoela, por sua vez, não concluiu o ensino fundamental. A cearense não tinha afinidade com a poesia. Atualmente, Manoela tem quatro livros publicados. As aparentes barreiras socioeconômicas entre essas mulheres não são fortes o suficiente quando se trata de expressar sentimento e experiências de vida.

 

A professora aposentada lecionou por cerca de oitos anos no munícipio de Maranguape, no Ceará. O restante da sua carreira profissional foi à frente da gestão escolar. Devido à falta de afinidade, Maria das Graças não levou a poesia para a sala de aula, mas, como diretora, chegou a estimular a produção de cordéis, típicos e característicos da região nordestina. Foi a elaboração de um cordel que a aproximou da escrita de poesias.

 

Por outro lado, a mineira do munícipio de Arinos encontrou nos versos e em outros gêneros textuais a maneira de ocupar seu tempo, depois de ter dedicado a vida ao cuidado de seus filhos. Atualmente, ela mora com uma filha, que a apoia na materialização de seus textos em livros. Antes de participar do projeto, Manoela de Souza já havia publicado três obras: uma de contos variados (Contos da Cabrita); outra de poesias (Poesias de Manoela) e um livro infantil abordando o meio ambiente (Coroa da Natureza).

 

O fato de não ter concluído os estudos não foi limite para as possibilidades que Manoela poderia alcançar. No interior de Minas Gerais, ela fez até a terceira série do fundamental e, posteriormente, participou do Movimento Brasileiro de Alfabetização (Mobral), programa instituído na década de 1970, pelo qual pôde lecionar para crianças nos primeiros anos e auxiliar na alfabetização primária de sua região.

 

Ambas são participantes do Grupo dos Mais Vividos, do Sesc-DF, e devido a suas experiências textuais, foram convidadas pelas assistentes sociais de suas unidades a integrarem o projeto Poesias em Tempos de Pandemia. Para elas, a iniciativa foi fundamental por colocar em diálogo pessoas com realidade socioeconômica diferentes. “São pessoas muito diversificadas, uns são intelectuais, outros têm poucos estudos, e essa variedade trouxe muitos assuntos para os encontros”, aponta Manoela.

 

Maria das Graças ressalta que, mesmo entre realidades divergentes, a oportunidade de demonstrar os sentimentos foi igual para todos. “As diferenças se anulam a partir do instante que falamos de experiências e de percepções de vida e, nesse sentido, todos temos como contribuir, independente da escolaridade, da função exercida e da condição social."

Maria das Graças Timbó se aproximou da poesia no projeto. Foto: Arquivo pessoal

 

PRECONCEITO – Em cada encontro do projeto, sempre às quintas-feiras, as coordenadoras abordaram um tema diferente com o grupo. Um dos assuntos foi o ageismo, caracterizado pela discriminação etária, pelo descaso com idosos e, em muitos casos, por uma série de violências sofrida por cidadãos em função de sua idade. 

 

Segundo Maria das Graças Timbó, esse tema trouxe aos debates muitos sentimentos e ressentimentos, pois, apesar de os idosos terem exercido papéis fundamentais na sociedade ao longo de suas vidas, as novas gerações não reconhecem essas ações e retribuem adequadamente.

 

“Alguns colegas mencionaram como são destratados pelos netos e outros familiares, enquanto nós sabemos que o nosso senso crítico e a nossa experiência nos permitem avaliar com mais propriedade as consequências da vida”, expressa a professora aposentada.

 

“O projeto nos deu esse suporte e agora, quando encontrarmos alguém depois da pandemia, a gente tem mais conhecimento e mais material para falar às pessoas idosas sobre os direitos delas, para que elas possam procurar ajuda e meios de não ficar à mercê de pessoas injustas que as maltratem”, destaca Manoela de Souza.

 

PERTENCIMENTO – Para a construção da obra, os participantes também debateram suas visões sobre Brasília, uma vez que todos nasceram antes da inauguração da nova capital.

 

Maria das Graças Timbó compartilha um certo desconforto pelo fato de morar há poucos anos na cidade. “A grande maioria chegou aqui durante a construção da cidade e, por isso, o pessoal tinha mais afinidade com a cidade e falava com propriedade e sentimento de pertencimento que eu ainda não possuo. Meu olhar foi totalmente diferente e, de certa forma, senti como se não tivesse propriedade para falar da cidade”, detalha.

O livro digital possui mais de 90 poesias escritas por idosos integrantes do projeto. Acesse aqui. Imagem: Reprodução

  

Em sua poesia sobre Brasília, ela expõe o despreparo da cidade nos cuidados com os idosos e expressa que deseja conhecê-los para fazer valer seus direitos de viver uma vida repleta de benefícios, de modo que a idade avançada não seja considerada um transtorno e possa ser aproveitada com tranquilidade.

 

A capital federal foi o único local onde Manoela de Souza morou, além de sua cidade natal, em Minas Gerais. Segundo ela, é um ótimo lugar para se viver, independente das dificuldades com a segurança e a instabilidade política. “Brasília é um lugar que eu vim para visitar e não consegui mais voltar”, expressa.

 

Uma das poesias de Manoela no livro reflete sobre a vida de pessoas que moram fora do centro. Ela toca em temas importantes, como combate à corrupção, diversidade intelectual e religiosa e as experiências ricas que as regiões do DF podem proporcionar aos cidadãos brasilienses e visitantes, além de enaltecer os cuidados necessários durante a pandemia.

 

As participantes agradeceram o empenho da professora Leides Moura e da assistente social Weila Almeida na construção do projeto, assim como a integração com os demais colegas. “Foi um aprendizado muito forte, essa parceria foi muito valiosa, pois, apesar de eu fazer poesia há algum tempo, eu aprendi a fazer de uma maneira mais prática”, relata Manoela de Souza.

 

“O livro foi incrível e superou minhas expectativas. Entre outros e-books que já li, nunca encontrei um tão bonito quanto o nosso, feito com tanto carinho e tratamento igual para todos que participaram. Foi algo muito democrático e bem divulgado. Eu só tenho a agradecer a dedicação dos organizadores”, conclui Maria das Graças Timbó.

 

*estagiário de Jornalismo na Secom/UnB

 

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