Uma mulher que ensina a cada gesto e que passa, para sala de aula e produção acadêmica, aquilo que tem para si como correto. Uma pessoa íntegra, inteligente, articulada e atenta a detalhes, que dá liberdade de expressão, ao mesmo tempo que está presente com rigor para auxiliar na construção do caminho que um orientando deseja seguir. Essas são apenas algumas das características atribuídas por colegas e ex-alunos a Mariza Peirano, a mais nova professora emérita da Universidade de Brasília.
Homenagem feita àqueles que alcançaram posição eminente em atividades universitárias, a honraria foi entregue à antropóloga, professora titular aposentada e pesquisadora associada da UnB em cerimônia virtual, nesta terça-feira (20), transmitida no canal no YouTube e na página no Facebook do Departamento de Antropologia (DAN).
Além de familiares, colegas e alunos, participaram os professores eméritos e antropólogos Roque Laraia e Júlio Cézar Melatti, como membros da comissão de saudação da homenageada. A outorga do título foi aprovada pela resolução nº 36/2019 do Conselho Universitário (Consuni), em reunião realizada no dia 6 de dezembro de 2019.
O público comentou cada momento da cerimônia virtual. Tereza Barbosa e Lucca Barbosa Peirano, nora e neto de Mariza, parabenizaram-na pela conquista. Miriam Grossi, presidente da Associação Nacional de Pós-Graduação e Pesquisa em Ciências Sociais (Anpocs), lembrou que Mariza inspirou muitas gerações da antropologia brasileira.
A mesa de honra virtual contou com a presença da reitora Márcia Abrahão e dos professores do Departamento de Antropologia (DAN) Carla Teixeira, Carlos Alexandre Plínio dos Santos e Carlos Sautchuk. Em homenagem a Mariza Peirano, o servidor técnico-administrativo e estudante do bacharelado em Música Jorge Máximo executou as peças Gavottes I e II da Suíte Inglesa número 3 do compositor Johann Sebastian Bach.
CONDUTA QUE INSPIRA – O discurso de apresentação da homenageada foi feito pela professora do DAN Christine de Alencar Chaves, que além de colega, foi orientanda de Mariza. "Procuro trazer, da postura dela para a minha experiência como docente, especialmente sua capacidade de ouvir. É uma postura generosa e aberta, que estimula a capacidade criativa de cada aluno", relatou. Christine lembrou que Mariza Peirano é sempre muito respeitosa e que essa qualidade é parte tanto de seu lado pessoal quanto profissional.
Essa mesma impressão é compartilhada por Antonádia Borges, também ex-orientanda e colega de departamento. "Ela não faz objeções a nada, nem a ninguém, mas encara como se cada um tivesse uma forma única e singular, tecendo comparações ricas e dando espaço para reflexão", acrescentou. Para elas, uma das características marcantes de Mariza é a elegância com que sabe se colocar e a limpidez de seu discurso, presentes tanto em sua fala quanto em sua produção intelectual.
Carlos Sautchuk afirma que ela participou diretamente da formação de pelo menos um quarto dos docentes que hoje atuam no DAN e que essa é uma das marcas de sua ação pedagógica. "Sua articulação entre rigor e sutileza, que são duas características muito marcantes dela, permitem um olhar arquitetônico – talvez também por sua formação em arquitetura –, no sentido de compreender as articulações presentes na constituição do conhecimento antropológico, levando à promoção da reflexão autônoma dos seus estudantes", menciona.
Ainda hoje, Mariza segue ensinando e estimulando a reflexão. Em seu discurso de agradecimento, ela lembrou que a UnB passou por momentos dramáticos nos anos 1960 e os superou ao longo das décadas seguintes. Chamou a atenção para o atual momento político, difícil para a vida universitária. "Oxalá, possamos manter o respeito próprio, a dignidade, as condições básicas para continuarmos a missão. Se a universidade é o lugar da liberdade como utopia e da responsabilidade como princípio, é mister resistir e persistir", disse.
A homenageada falou ainda sobre o papel que a antropologia continua a ter, em um mundo dominado por maniqueísmos e juízos de valores: o de uma possibilidade de reflexão sobre os fenômenos sociais. A antropóloga acrescentou ainda que parte complementar da produção acadêmica vem justamente do caráter intenso e vibrante do contato com os jovens.
VIDA E OBRA – Mineira de Muriaé, Mariza Gomes e Souza Peirano cursou três anos na primeira turma de Arquitetura e Urbanismo da Universidade de Brasília, antes de iniciar e concluir o bacharelado em Ciências Sociais na Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ). De volta à Brasília, ela foi aluna da turma inaugural do mestrado em Antropologia da UnB, em que foi orientada pela também professora emérita, a antropóloga indigenista Alcida Ramos.
A tese de doutorado de Mariza, conduzida na Universidade de Harvard, nos Estados Unidos, propôs um olhar sobre a antropologia brasileira, e seu trabalho permanece um marco para se pensar o desenvolvimento da área no país.
Para ela, teoria e etnografia são inseparáveis, de forma que o que existe são questões teóricas renovadas por meio de pesquisas etnográficas. É do método que nascem novos projetos, como notas arquitetônicas e artísticas.
Detentora de uma perspectiva plural, ela traçou, ao longo de sua carreira, em especial na década de 1990, comparações entre antropologias no Brasil, Estados Unidos e Índia. Foi vice-presidente da Associação Brasileira de Antropologia, professora visitante do Museu Nacional (UFRJ), da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) e do Instituto Rio Branco, além de visiting scholar no Massachusetts Institute of Technology (MIT) e nas universidades de Harvard e Columbia – estas três, instituições estadunidenses.
Igualmente importante é sua contribuição para o estudo dos rituais, tanto como fenômenos quanto como conceitos. Ela entende que a vida humana é ritualizada e enxerga essas manifestações como uma conjugação ética e estética que permite formar um posicionamento analítico em relação ao mundo. O trabalho da recém-emérita possibilita novas análises etnográficas de fenômenos aparentemente corriqueiros que marcaram gerações de antropólogos e constam na bibliografia de diversos cursos no país, entre eles, no da própria Antropologia da UnB.
>> Saiba mais sobre a obra da emérita Mariza Peirano
Entre os prêmios e homenagens recebidos por Mariza Peirano estão, além do título de professora emérita, a Comenda da Ordem Nacional do Mérito Científico, a medalha Roquette Pinto de Contribuição à Antropologia Brasileira e o Prêmio Gilberto Velho de Antropologia.
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