COVID-19

Cenário de aumento de casos e superlotação de UTIs é mais grave que o da primeira onda. Isolamento social ainda é melhor opção para conter o vírus

Especialistas da UnB acreditam que medidas de apoio social e econômico podem ser um estímulo para que pessoas fiquem isoladas. Foto: Lucio Bernardes Jr./Agência Brasília 

 

O aumento no número de casos de covid-19 no Distrito Federal nas últimas semanas tornou a falta de leitos em Unidades de Terapia Intensiva (UTIs) uma realidade. Para evitar colapso nos sistemas de saúde público e privado, o Governo do Distrito Federal (GDF) editou, nesta segunda-feira (8), decreto que estabelece medidas restritivas para o funcionamento de serviços e comércio até 22 de março, com toque de recolher da população das 22 horas até as 5 horas. A regra atualiza determinações anteriores que já dispunham sobre restrições a serviços não essenciais desde 28 de fevereiro.

 

A situação é inédita para o Distrito Federal como um todo – a região administrativa de Ceilândia passou por restrições semelhantes em junho de 2020, durante um momento de escalada dos casos. Com a elevada taxa de transmissão do novo coronavírus localmente, ampliou-se a sensação de que a doença pode estar chegando mais perto, mesmo daqueles que seguem as medidas de segurança desde o início da pandemia.

 

Segundo o epidemiologista e professor do Departamento de Saúde Coletiva (DSC/FS) da Universidade de Brasília Jonas Brant, é necessário entender que o cenário atual talvez seja mais grave do que aquele da primeira onda da pandemia de covid-19. Isso porque, nesse momento, as pessoas têm mais dificuldade de permanecer em casa em decorrência do agravamento da crise econômica. O panorama de sobrecarga hospitalar também é um fator que se apresentou com mais intensidade em comparação ao primeiro momento da pandemia.

 

Na manhã de quinta-feira (4), o índice de ocupação de leitos públicos nas UTIs do DF chegou a 97,52%, dado atualizado pela Secretaria de Saúde (SES-DF) às 06h10. Esse percentual corresponde aos leitos que contam com suporte de ventilação mecânica. Do total de leitos, 252 estão ocupados por pacientes com covid-19; 231 leitos, por pacientes que não têm a doença; 13 estão vagos; e oito aguardam liberação ou estão bloqueados.

Wildo Navegantes destaca que as medidas não farmacológicas de prevenção à covid-19 precisam ser seguidas e ainda são as mesmas: uso de máscara, higienização das mãos e distanciamento social. Foto: Arquivo pessoal

 

ENFRENTAMENTO – A  falta de organização dos governantes para estruturar planos de enfrentamento à covid-19 é um dos principais problemas identificados por especialistas da UnB para conter o avanço da doença. Para Wildo Navegantes, professor de epidemiologia da Faculdade UnB Ceilândia (FCE) e presidente do Comitê Gestor do Plano de Contingência da Covid-19 (Coes) da UnB, caso não sejam estabelecidas medidas duras e firmes, os prejuízos à sociedade poderão ser prolongados.

  

“Se não voltarmos a reforçar a necessidade da medida de distanciamento social, somada ao uso de máscaras; soluções para limpeza das mãos; suporte social aos mais necessitados; injeção de linhas de financiamento a pequenos e microempresários com juros baixos e longo período de carência, poderemos estender o sofrimento da nossa sociedade", destaca.

 

O docente acredita, ainda, ser necessário investir em aumento da quantidade de doses de vacina, aliando a imunização aos mecanismos de rastreamento de contatos e diagnóstico em massa com inteligência para análise dos dados, como forma de apoiar a tomada de decisões dos gestores.

 

“Nós não conseguimos nos organizar no Brasil e aqui no DF, isso fica nítido. As ações básicas de vigilância que podem contribuir na contenção de uma epidemia são o aumento da testagem, o rastreio de contatos e o fortalecimento da fiscalização”, acrescenta o professor Jonas Brant. 

 

>> Relembre: Especialistas da UnB comentam sobre a segurança das vacinas contra a covid-19

 

“Houve uma série de falhas do ponto de vista da preparação [da população] que não permitiram a contenção da epidemia. As pessoas foram banalizando as medidas de biossegurança, o que culminou em eventos [resultantes] dos jogos e campeonatos [de futebol], que levaram a comemoração para a rua", analisa Brant. Na avaliação do pesquisador, as autoridades seguiram com medidas pontuais de resposta, mas insuficientes. "Ou seja, tentou-se mitigar, minimizar o impacto da pandemia, e não realmente enfrentá-la e controlá-la”, opina.

 

O professor Wildo Navegantes ressalta que há possibilidade de piora no quadro epidemiológico sem a devida imunização da população. “Ainda há uma parcela absurdamente pequena da sociedade brasileira vacinada, e não podemos atribuir a quaisquer vacinas a magnitude dos casos e óbitos que vêm acontecendo. Infelizmente, o cenário pode se agravar mais ainda”, alerta. 

 

SOLUÇÕES – Para os docentes da UnB, as vacinas surgem como uma grande esperança nesse momento, mas ainda são escassas e o número de infectados continua crescendo. “A menor preocupação da população em observar as medidas de controle não farmacológicas, bem como a incompleta agenda de comunicação dos governantes, que optam por não deixar clara a gravidade desta doença e o quanto ela vem permanecendo entre nós, impactam não só a saúde das pessoas, como também a economia”, afirma Navegantes.

Jonas Brant reforça que é necessário que a população siga adotando o isolamento social para que as atividades comerciais possam ser retomadas o mais rápido possível. Ela frisa, ainda, a necessidade de fortalecer a vigilância em saúde no DF. Foto: Luis Gustavo Prado/Secom UnB

 

Jonas Brant diz que é importante pensar a vacina como uma ferramenta de controle epidemiológico, uma vez que ela não vai erradicar o vírus – já foi demonstrado que não existe uma eficácia de 100% dos imunizantes e que o vírus pode sofrer mutações. Na opinião do epidemiologista, a sociedade terá uma doença endêmica, assim como a influenza, que necessita de vacinação a cada ano para que o impacto da transmissão seja minimizado.

 

“De qualquer forma, quero deixar claro que o ponto chave é que nós precisamos fortalecer a vigilância [em saúde], ela vai conter o vírus e é nossa esperança. A vacina é uma das ferramentas da vigilância”, completou. Para ele, com o incremento da capacidade de vigilância, o aumento da testagem e o apoio social e econômico à população, há condições para enfrentar o novo coronavírus.

 

Os especialistas acreditam que o isolamento social continua sendo a melhor prevenção contra a covid-19, já que a falta de contato com outras pessoas diminui a chance de infecção. Sendo impossível ficar isolado, é preciso seguir com a adoção das demais medidas sanitárias.

 

“É preciso estar atento às medidas de biossegurança, como o uso de máscara. Se possível, busque acesso a máscaras N95 ou PFF2, que garantem maior filtração em ambientes com alta densidade e com risco de contaminação. Para quem está em um ambiente de menor risco, o uso da máscara cirúrgica ou a de pano é uma alternativa interessante”, aconselha Brant. 

 

DICAS DE PREVENÇÃO – Certifique-se que exista circulação de ar nos ambiente que frequenta; deixe as janelas e portas abertas; e faça uso constante de máscaras e álcool 70% para desinfecção de objetos ou das mãos. Lembre-se de higienizar as mãos sempre que for manipular a máscara e evite tocá-la.

 

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