Na tentativa de combater a disparidade de gênero no meio científico, pesquisadoras brasileiras lançaram a rede Mulheres na Zoologia, que apoia e promove a participação das mulheres na ciência. A iniciativa reúne um grupo de cientistas da área de biologia que percebeu padrões que dificultam o trabalho de mulheres e de outros grupos sub-representados, principalmente no campo de estudos da zoologia, que é o foco do coletivo.
Um artigo publicado pela professora do Departamento de Zoologia da UnB Veronica Slobodian na revista Zoologia, periódico internacional da sociedade brasileira da área, foi o incentivo para que a rede fosse criada. Intitulado Why we shouldn’t blame women for gender disparity in academia: perspectives of women in zoology – em tradução livre, Porque não podemos culpar as mulheres pela disparidade de gênero na academia: perspectivas das mulheres na zoologia –, o trabalho levanta a discussão sobre como as mulheres acabam abandonando mais a carreira na ciência em comparação aos homens, fenômeno conhecido como “vazamento de duto”.
Veronica Slobodian ressalta que, embora as mulheres estejam mais presentes no ensino superior, elas estão em menor número em mestrados e doutorados, além de terem menos representatividade ainda no desempenho de funções como docentes e pesquisadoras contratadas.
“A literatura pertinente aponta várias causas, mas algumas delas são que as mulheres são sistematicamente menos reconhecidas pelo seu trabalho e são muito mais sobrecarregadas que seus colegas homens, principalmente durante este período de pandemia”, destaca a professora.
Dados da Organização dos Estados Ibero-americanos (OEI) mostram que 72% dos artigos científicos publicados no Brasil são de autoria feminina, ou seja, as mulheres predominam à frente das publicações ou como coautoras. Ainda assim, elas estão em desvantagem nas posições de poder na ciência. A exemplo da Sociedade Brasileira de Zoologia, em que a primeira presidente mulher foi eleita apenas em 2012, 34 anos após a entidade ser criada.
Para Slobodian, as situações de assédio e a própria pressão de estereótipos sociais acabam gerando o afastamento das mulheres da ciência de uma maneira geral, mas principalmente nas áreas tecnológicas, de exatas, biológicas, engenharias e medicina. “Dentro da zoologia, comentários sobre situações de assédio são recorrentes; mulheres em posições de poder são minoria. São esses cenários de desigualdade que queremos entender melhor para propor soluções”, defende a docente.
Para enfrentar este panorama, a rede Mulheres na Zoologia busca facilitar a comunicação entre pesquisadoras, além de unir os esforços que antes estavam espalhados.
A ação colaborativa também envolve a elaboração de pesquisas relacionadas à representatividade desigual de mulheres na ciência e a proposição de iniciativas que possam proporcionar o equilíbrio na participação delas.
ADESÃO – O grupo reúne 78 biólogas e está com inscrições abertas para novas integrantes. O formulário de cadastro ficará disponível por tempo indeterminado. Ao preenchê-lo, a interessada pode dizer se pretende apenas acompanhar e apoiar as atividades, ou se tem a intenção de participar de algum dos grupos de trabalho.
“Com ele [o formulário], queremos ter uma noção de quem são as mulheres na zoologia, além de pessoas não-binárias e definidas por gênero ou de gênero fluído; quais são seus perfis e anseios”, pontua a autora do artigo que resultou na criação da rede.
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PRÓXIMOS PASSOS – A rede está em estágio inicial e as integrantes ainda querem entender melhor o cenário de disparidade de representatividade de grupos sub-representados na zoologia brasileira. Um dos próximos passos é investigar e identificar se esta situação ocorre de forma homogênea ou não, e em quais grupos, dentro da zoologia, existe maior disparidade.
O coletivo também está se organizando para propor um manual de conduta para eventos científicos na área, além de estudar temas sensíveis aos grupos sub-representados que possam ser propostos para atividades virtuais.
Veronica Slobodian esclarece, ainda, que informações sobre o projeto podem ser encontradas no perfil no Instagram @mulheresnazoologia, que visa dar a visibilidade às mulheres que atuam na zoologia e a seus trabalhos.
MÊS DA REFLEXÃO – Até o dia 31 de março, a Universidade Brasília (UnB) e o Instituto Federal de Brasília (IFB) realizam programação unificada para homenagear, discutir e relembrar o protagonismo das mulheres na ciência e na sociedade, sobretudo em tempos de pandemia: é o Mês da Reflexão. Mesas-redondas, webinários, rodas de conversa e escuta e atividades culturais ocorrem remotamente, com transmissão pelos canais da UnBTV e da TV IFB no YouTube. Participe!
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