SUSTENTABILIDADE

TCC de egressa impulsionou medidas para reduzir o impacto no meio ambiente. Pesquisa oferece modelo sustentável para outras edificações 

Foto: divulgação do projeto
Fachada da porta de entrada do Centro de Excelência em Turismo foi adesivada para evitar o choque de aves nos vidros. Foto: Divulgação 

 

De casas térreas aos imponentes arranha-céus, as fachadas de vidros estão cada vez mais presentes na paisagem dos centros urbanos. Modernidade, leveza e otimização energética são benefícios desse material. Usar o vidro de forma sustentável na construção envolve vários temas. Um deles é a presença de aves nas cidades. Isso porque as fachadas envidraçadas são uma das maiores causas de mortalidade aviária no mundo, contribuindo para um desequilíbrio ecológico que atinge a todos os seres vivos. 

 

Existem diversos métodos para contornar o impacto negativo do material no meio ambiente, e a Universidade de Brasília começou a adotá-los, em fase de teste, no campus Darcy Ribeiro. O Bloco de Salas de Aulas Sul (BSAS) e o Centro de Excelência em Turismo (CET) são os primeiros prédios a receber medidas mitigatórias.

 

“Um dos prédios mais altos da UnB, o Bloco de Salas de Aulas Sul, tem vidros laminados e espelhados que refletem a vegetação e o céu, dando a impressão aos pássaros de que o habitat deles continua ali. Já os vidros do CET são totalmente translúcidos, ocasionando o choque das aves que tentam atravessar o material por não perceber essa barreira”, explica a egressa Ilza Fujiyama, que desenvolveu pesquisa sobre o tema em seu trabalho de conclusão de curso (TCC) em Ciências Ambientais.

 

Segundo o docente do Instituto de Ciências Biológicas (IB) e orientador do estudo, Roberto Cavalcanti, estimativas apontam que “entre 120 e 150 espécies de aves transitam no campus, o que corresponde praticamente a um quarto da população de avifauna do Distrito Federal”. Ele ressalta que por ter bastante área verde, especialmente nas proximidades do Centro Olímpico, o Darcy Ribeiro é uma importante rota de aves.

 

A pesquisa foi apoiada pela Secretaria de Meio Ambiente (SeMA) da UnB e pela Prefeitura da UnB (PRC). “Nossa intenção é institucionalizar ações que deem continuidade à pesquisa em outros pontos do Darcy Ribeiro e dos demais campi”, conta o secretário da SeMA, Pedro Zuchi.  

A pesquisadora Ilza Fujiyama coletou várias aves que morreram após choque em vidraças de prédios do campus Darcy Ribeiro. Foto: Divulgação

 

DIMENSÃO DO PROBLEMA – Estudos apontam que, somente nos Estados Unidos e Canadá, cerca de um bilhão de aves morrem por ano em decorrência de colisões com construções envidraçadas. No continente europeu, a estimativa é de 250 mil mortes por dia. No Brasil ainda não há estudos suficientes sobre o tema.

 

Outro fator a ser considerado é a crescente urbanização e degradação dos ambientes naturais. No Brasil, por exemplo, a taxa de urbanização entre 1940 e 2010 quase triplicou, subindo de 31,2% para 84,3%, de acordo com Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).

 

“As cidades, que antes eram razoavelmente secundárias para a conservação das espécies, hoje têm importância cada vez maior. Transformá-las em ambientes seguros para espécies nativas melhora a qualidade da experiência humana, já que fatores como poluição do ar, contaminação das águas e redução de áreas verdes impactam todos os seres viventes”, observa o docente Roberto Cavalcanti.

 

“A pesquisa evidencia que muitas construções humanas inadvertidamente têm um impacto negativo forte para as espécies nativas. Mostra também que o conhecimento científico permite combinar duas necessidades: a de criar construções sustentáveis e modernas para pessoas e menos agressivas para outras espécies”, completa.

 

MEDIDAS MITIGATÓRIAS – Não é preciso abrir mão do uso de vidros nas construções para garantir que as aves possam vivenciar o ambiente urbano de modo seguro. Diversas soluções já têm eficácia cientificamente comprovada para mitigar a mortandade de aves em vidraças.

 

“Para fachadas com vidros translúcidos, o uso de cortinas ou persianas no ambiente interno já sinaliza à ave que existe uma barreira ali. Outra opção é a aplicação de películas com eficácia comprovada para esse fim”, cita Fujiyama sobre recursos para edificações já existentes. 

 

Outra possibilidade é adaptar soluções. “Com uso de fita adesivas encontradas em papelarias, é possível aplicar adesivos em formatos circulares, faixas verticais ou horizontais que funcionam como um sinalizador”, elenca a graduada sobre medidas paliativas. Um contraponto dessas abordagens é a baixa durabilidade. No caso da adoção de adesivos ou faixas, é indispensável seguir um padrão na aplicação. “Na aplicação horizontal, o espaçamento máximo é de até 5 cm e, na vertical, esse espaço não pode ultrapassar 10 cm. Esse é o intervalo percebido dentro do campo de visão das aves”, esclarece Fujiyama.

 

Para obras ainda em execução, uma opção é escolher vidro serigrafado. “Nele, é impresso o padrão desejado, a exemplo de linhas bem finas que não têm grande impacto do ponto de vista estético, mas que são de grande eficácia para sinalizar aos pássaros sobre a vidraça”, pontua Fujiyama. Outras possibilidades são vidros foscos ou vidros pouco reflexivos.  

Fachada da portal lateral do Bloco de Salas de Aula Sul foi sinalizada com adesivos na parte inferior e com cordões na parte superior para evitar o choque das aves ocasionado pelo reflexo da paisagem no vidro espelhado. Foto: divulgação do projeto
Fachada da portal lateral do Bloco de Salas de Aula Sul foi sinalizada com adesivos na parte inferior e com cordões na parte superior, para evitar o choque das aves ocasionado pelo reflexo da paisagem no vidro espelhado. Foto: Divulgação

 

TESTES – O primeiro prédio do campus Darcy Ribeiro a receber a instalação das medidas mitigatórias foi o Centro de Excelência em Turismo (CET). A área sinalizada é a porta de entrada do prédio, que recebeu adesivos circulares de 1,9 cm de diâmetro, com espaçamento de 10 cm entre eixos.

 

A sinalização seguinte foi implementada na porta lateral do Bloco de Salas de Aulas Sul (BSAS). O método escolhido para a parte superior da fachada foi o Acopian BirdSavers, conhecido como cortina de vento, com a aplicação de cordões (paracords) de 4 mm. Na parte inferior, partindo da altura da porta, foram aplicados adesivos circulares seguindo o mesmo padrão adotado no CET.

 

No CET, a instalação ocorreu em novembro de 2020, seguido pelo BSAS, em dezembro. “Desde então, não houve mais colisão de aves nestes locais. É o primeiro passo para que a Universidade de Brasília amplie a adoção das medidas para outros prédios de seus campi e se torne um modelo para a cidade e para o país”, comenta Ilza Fujiyama.

 

O secretário de Meio Ambiente da UnB garante que há o desejo de instituir uma política para evitar a mortandade aviária nos campi. “Queremos atuar em parceria com a Secretaria de Infraestrutura para viabilizar uma normativa que nos leve a pensar adequadamente o processo de envidraçamento de nossas edificações”, disse Pedro Zuchi.

FUTURO SUSTENTÁVEL – Transformar as cidades em ambientes amigáveis à convivência das espécies é uma pauta que mobiliza pessoas por todo o mundo. 

 

No mercado estadunidense já são ofertados adesivos de alta durabilidade próprios para evitar a mortandade aviária, chamados de CollidEscape. Já a Alemanha desenvolveu uma tecnologia de vidros translúcidos com uma camada que reflete os raios UV imitando teias de aranhas, invisíveis ao olho humano mas percebidas pelas aves.

 

Para Ilza Fujiyama, a pesquisa realizada na UnB pode contribuir para a visibilidade do assunto no país. “Chama a atenção o quanto esse assunto é desconhecido pela população. São mortes silenciosas, que atingem muitas aves, sem que as pessoas percebam. Queremos mobilizar a comunidade, legisladores, arquitetos e construtores para juntos tornarmos esse assunto visível e adotarmos soluções sustentáveis.”

 

O docente Cavalcanti reforça que a pesquisa “aponta soluções efetivas e economicamente acessíveis”. Ele acrescenta que a “UnB pode se tornar pioneira enquanto instituição acadêmica a adotar uma política normativa sobre uso de vidraças amigáveis às aves”.

 

O detalhamento completo da pesquisa, bem como a metodologia adotada, constam no trabalho de conclusão de curso Análise dos padrões de mortalidade de aves nas vidraças dos prédios da Universidade de Brasília - Campus Darcy Ribeiro. Em breve o documento estará disponível para consulta no repositório da Biblioteca Central da UnB (BCE).

 

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