Na última semana, o Observatório PrEpidemia lançou seu segundo boletim técnico. No documento, especialistas multidisciplinares acompanham a evolução da disseminação do novo coronavírus com a avaliação do nível criticidade em regiões administrativas do Distrito Federal. Os boletins, assim como os relatórios feitos pelo grupo, contribuem com o governo local quanto à tomada de decisões referente à prevenção do contágio da doença.
Os dados incorporados no documento refletem as informações disponibilizadas pela Secretária de Saúde, sobre novos casos confirmados, hospitalizações e óbitos. Os boletins reúnem informações desde março, quando houve a notificação do primeiro caso no DF, seguido pelo estabelecimento de medidas de distanciamento até o fim de maio. Registros de óbitos feitos nos cartórios do DF também alimentam os dados avaliados pelo grupo.
De acordo com Edilson Bias, um dos coordenadores do PrEpidemia e professor do Instituto de Geociências (IG/UnB), o grupo se propõe a verificar a natureza espacial da disseminação, em razão da grande movimentação de pessoas. “Buscamos estimar a disseminação e a redução do novo coronavírus, que não podem ser vistas de outra forma senão por meio de modelos matemáticos e análise geográfica, com a estruturação de cenários, assim como é feito em nossos relatórios e nos demais produtos até agora produzidos”, aponta.
Os dados obtidos e o quadro de contaminação no DF fomentaram reflexões e estudos que culminaram na construção de Notas e Relatórios Técnicos, Boletins e Dashboard, publicados pelo Observatório. Na Nota Técnica 01, foram estabelecidos 11 princípios estratégicos para orientação do Governo do Distrito Federal no controle à covid-19.
"Na nota, consideramos a heterogeneidade da população, a persistência quanto ao acompanhamento destas diferenças (formas de agrupamento e organização urbana e socioeconômica) em cada região, monitoramento contínuo em ciclos curtos, além de solicitar atenção do governo quanto aos protocolos adotados e os processos de governança como indispensáveis ao combate ao vírus", detalha o docente.
Para os resultados, o observatório estipulou um número mínimo de casos para análises. As regiões investigadas apresentam mais de 90 ocorrências. No primeiro boletim técnico, divulgado na metade de maio, apenas oito regiões se enquadravam no escopo do estudo. Na última publicação, esse número saltou para 19 regiões administrativas avaliadas. As cidades analisadas foram classificadas em quatro níveis de criticidade (acompanhamento, alerta, atenção e emergência) variando de acordo com o valor estimado para o número de reprodução, R(t), em cada uma das regiões.
A média móvel do número de reprodução do vírus em relação ao tempo de disseminação, m(t), gera para os especialistas os seguintes quadros: regiões com números abaixo de 0,8 casos são enquadradas no grupo de acompanhamento. Cidades em que os casos saem da faixa de acompanhamento para uma classificação de atenção chegam a 1,2 dos casos. Quando as regiões administrativas atingem 1,5 são classificadas no grupo de alerta e acima deste valor representam regiões em situação de emergência.
ANÁLISE – As estimativas consideram o valor de reprodução (R) do vírus em decorrência do tempo (t), conforme notificações feitas pelos órgãos oficiais. Ou seja, a equipe mapeia os números identificados diariamente para criar uma linha do tempo, que permite analisar o avanço da covid-19 e, de acordo com as políticas de contenção adotadas pelo GDF, simular cenários futuros possíveis com reflexões e orientações.
No primeiro boletim técnico, observa-se uma queda contínua na disseminação do vírus no Distrito Federal, atrelada às medidas de distanciamento social e por uma possível subnotificação – uma vez que a testagem massiva refletiu, em seguida, em um aumento no número de casos em diversas regiões. Essa alteração fica evidente no fim de abril. Vale ressaltar que a testagem em massa expressa casos existentes e, segundo o estudo, não significa, necessariamente, um aumento da disseminação da Sars-Cov2.
"Nesse momento podemos dizer que estamos em um patamar controlado em função de medidas tomadas anteriormente. Agora, o que será daqui para frente vai depender essencialmente de como as coisas serão feitas. De como o governo vai flexibilizar as aberturas e quais serão os protocolos adotados”, expressa Bias.
O mesmo é observado no segundo estudo. Apesar do notório crescimento no número de casos em algumas regiões do DF, os números se encontram dentro de indicadores típicos apresentados no boletim técnico e sinalizados na Nota Técnica 01. Além do indicador típico, outros cenários simulados pelos boletins são os chamados quadros otimistas e pessimistas.
Em números, o cenário otimista do segundo boletim técnico representaria 29 hospitalizações, 13 internações em unidades de terapia intensiva (UTIs) para os casos mais graves e o número de óbitos seria de 32 até o fim de maio. No cenário típico, esses valores subiriam para 121 hospitalizações, 44 internações intensivas e 74 mortes. Para o cenário pessimista, esses valores foram estimados em 435 hospitalizações, 142 hospitalizações e 177 mortes. Segundo os dados oficiais de 25 de maio, ocorreram 248 hospitalizações, 114 ocupações em UTIs e 106 mortes.
A simulação acima faz uma estimativa até o fim de 2020, na qual os caso podem alcançar mais de 3.600 óbitos, caso não seja controlada a disseminação do vírus, o que implicaria em uma relação com as medidas de flexibilização do governo, assim como as medidas de contenção e os protocolos de proteção instaurados durante esse período.
>> Conheça mais o trabalho desenvolvido pelo Observatório PrEpidemia
Com o indicador típico, como tem seguido até o momento, estima-se um número expressivo de perdas. Cerca de 2.500 pessoas poderão perder a vida. Para tentar reduzir esse número, segundo o docente, reforça-se a necessidade de cooperação entre as instituições que acompanham a evolução da Covid-19 no Distrito Federal, com o estabelecimento das medidas orientadas por estudos feitos por especialistas.
*estagiário de Jornalismo na Secom/UnB
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