ECOLOGIA

Imagem foi captada no final de setembro, mesmo após incêndio na unidade de conservação. Animal, ameaçado de extinção, não era visto na área desde 2017

Animal foi registrado com câmera-trap em área de preservação afastada dos pontos de visitação do Parque. Foto: Priscilla Petrazzini

 

Desde 2020, a doutoranda em Ecologia pela UnB Priscilla Petrazzini desenvolve parte de sua pesquisa no Parque Nacional de Brasília. Ela monitora a distribuição do tamanduá-bandeira com o apoio de armadilhas fotográficas espalhadas no interior da unidade de conservação. Em setembro, após mais de um ano de observação, ao “baixar” as imagens de uma das câmeras, a pesquisadora se deparou com fotos de uma onça-pintada.

 

O registro reforça a presença da espécie, ameaçada de extinção, no Parque Nacional. A primeira e única imagem que veio a público de uma onça-pintada na unidade de conservação foi feita no final de 2017 e divulgada no ano seguinte.

 

“Naquele ano, pesquisadores do grupo Brasília É o bicho encontraram pela primeira vez a espécie na região nova, incorporada ao Parque nos últimos anos. O nosso registro é o primeiro com câmera-trap (que consiste em uma caixa de plástico camuflada com lentes e sensores de movimento) dentro dos antigos limites da unidade, a menos de 30 km do Plano Piloto”, explica a pesquisadora. A captação, entretanto, ocorreu na área de preservação, em local afastado de onde ocorre visitação.

 

“É um registro muito positivo, pois demonstra que, apesar do crescimento urbano do entorno e do aumento do impacto antrópico, a espécie persiste na região. É um indicativo de que a unidade de conservação está cumprindo a sua função, servindo de abrigo, um sinal de saúde do ecossistema. Contudo, a ameaça da permanência do indivíduo na área existe. Com a conversão das áreas naturais do entorno, a dispersão é dificultada e os indivíduos acabam se isolando, o que compromete a viabilidade dessas populações”, aponta a orientadora da pesquisa e professora do Instituto de Ciências Biológicas da UnB, Ludmilla de Souza Aguiar.

 

As imagens da onça-pintada captadas pela equipe da Universidade de Brasília foram feitas mesmo após os focos de incêndios registrados no Parque no início de setembro. As queimadas ameaçam a fauna direta e indiretamente, pois no período de pico da seca, há baixa quantidade de recursos naturais disponíveis e baixa umidade do ar. “Nessa situação, as presas se deslocam mais, e o predador também”, conta a doutoranda.

 

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Predador de topo de cadeia, a espécie é responsável por regular o crescimento populacional das suas presas, contribuindo para o equilíbrio da rede trófica. Por exemplo, em alguns locais do Cerrado, onde a espécie está criticamente ameaçada, a sua ausência é um dos fatores que contribuiu para o crescimento das populações de catetos e queixadas que, em busca de mais alimentos, acabam invadindo plantações e gerando prejuízos.

 

Além disso, como a onça requer grandes áreas para sobreviver – sendo, por isso, denominada de espécie guarda-chuva –, a sua preservação contribui para a proteção de diversas outras espécies e sua presença é um bioindicador de qualidade ambiental.

 

ABRIGO PARA ESPÉCIES DO CERRADO – Prestes a completar 60 anos, o Parque Nacional de Brasília é um abrigo para outros animais em perigo de extinção, entre eles o tatu-canastra, o tamanduá-bandeira e a onça-parda – espécies também registradas pelas câmeras da pesquisa, assim como o veado-campeiro, a anta e o morcego da espécie Lonchophylla dekeyseri.

 

>> Acesse às imagens de alguns dos mamíferos registrados no local

 

No entanto, as pesquisadoras relatam constantes ameaças externas, como caçadores, cachorros domésticos e pessoas que invadem as áreas de acesso restrito da unidade.

 

“Isso afeta a distribuição da fauna, restringindo-a às áreas centrais da unidade. A presença de cachorros domésticos em áreas de proteção, por exemplo, tem sido motivo de alerta, pois estes animais competem com outros carnívoros por alimento e transmitem doenças, como cinomose e sarnas, para as espécies nativas”, diz Priscilla Petrazzini.

 

Por causa das invasões, as pesquisas com a fauna e flora no Parque Nacional também têm sido prejudicadas. Há relatos de roubos e destruição de equipamentos de pesquisa. “Além de prejudicar os estudos, é um prejuízo econômico para uma área que já não possui muitos recursos”, completa.

 

Para manter a conservação dos recursos hídricos e das espécies que habitam o Parque, a professora Ludmilla sugere, entre outras medidas, aumentar a vigilância, realizar projetos de castração/vacinação de cachorros dos moradores do entorno, e contar com a contribuição da população para visitar apenas as áreas permitidas.

 

“Com a colaboração de todos os setores, será possível garantir a qualidade ambiental do Parque, e a permanência das populações das espécies que ali vivem a longo prazo”, afirma.

 

Confira vídeo de lobo-guará no Parque Nacional:

 

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