Uma nova tecnologia que está sendo aplicada no Hospital Universitário de Brasília (HUB-UnB) permite identificar qual é a variante presente em uma determinada amostra de covid-19. A técnica está sendo testada desde maio de 2021 e já foi usada para realizar a genotipagem de 811 amostras com resultado positivo para covid-19 coletadas desde março deste ano. Das 811 amostras analisadas, 264 são de profissionais e pacientes do HUB e 547 de moradores da Cidade Estrutural, região administrativa do Distrito Federal.
O projeto de pesquisa chamado Zica, Arbovírus and other Infections Cohort Studies (ZARICS) está acompanhando os casos de covid-19 na Estrutural desde março de 2020. O projeto é coordenado pela Faculdade UnB Ceilândia (FCE), em parceria com o HUB e a Secretaria de Saúde do Distrito Federal (SES-DF), e conta com o financiamento dos ministérios da Educação e da Saúde e da Fundação de Apoio à Pesquisa do Distrito Federal (FAP-DF).
Os moradores com suspeita de covid-19 são testados pelos pesquisadores, e os casos positivos passam pela genotipagem no Laboratório de Diagnóstico Molecular do HUB. Os resultados mostram as variantes predominantes na região administrativa desde março de 2021. No mês de julho, 79% dos casos eram da variante Gama (P1). A variante Delta começou a aparecer em agosto e ao final do mês já provocava 56% dos casos. Em setembro, a Delta foi responsável por 88% das infecções, enquanto a Gama (P1) foi identificada em apenas 2% das amostras.
“Essa parceria reforça o apoio do HUB e da UnB no entendimento da dinâmica de transmissão da covid-19. A variante Delta está se expandindo cada vez mais e esses dados representam um sinal de alerta para o surgimento de possíveis novos casos graves da doença”, afirma o professor da Faculdade UnB Ceilândia (FCE) Wildo Navegantes, coordenador da pesquisa e presidente do Comitê Gestor do Plano de Contingência da Covid-19 (Coes) da Universidade de Brasília.
“Esses resultados corroboram o papel fundamental da ciência na investigação e compreensão dos problemas em saúde que afligem a sociedade e na busca e construção de soluções baseadas em evidências sólidas”, acrescenta Dayde Mendonça, gerente de Ensino e Pesquisa do HUB e docente da Faculdade de Ciências da Saúde (FS) da UnB.
TECNOLOGIA – A tecnologia utilizada é a mesma usada para a detecção do coronavírus, chamada de RT-PCR ou PCR em tempo real. Cada variante possui um conjunto de mutações específicas e a análise feita pelo RT-PCR é capaz de identificar essas mutações das variantes Alfa, Gama (P1) e Delta. A técnica foi desenvolvida por pesquisadores da Faculdade UnB Ceilândia (FCE) e do HUB.
O método mais comum para a detecção de variante é baseado no sequenciamento genético, que exige um processo mais caro, demorado e com maior estrutura de equipamentos e pessoal. A genotipagem por RT-PCR é 90% mais barata, chega ao resultado em duas horas e meia e pode ser feita em qualquer laboratório que possua uma máquina de RT-PCR. “Com essas facilidades, conseguimos analisar uma quantidade maior de amostras, o que é essencial para o acompanhamento da predominância das variantes e para fins epidemiológicos”, explica Alex Pereira, professor da FCE e coordenador do estudo.
“Esse trabalho fortalece o compromisso do HUB com a pesquisa, oferecendo novas tecnologias que possam responder perguntas importantes para o hospital e para a sociedade”, afirma o chefe da Divisão de Apoio Diagnóstico e Terapêutico do HUB, Rodrigo Haddad.
POLÍTICAS PÚBLICAS – Os dados da pesquisa estão sendo encaminhados para a Secretaria de Saúde do Distrito Federal a fim de contribuir no acompanhamento da disseminação das variantes e no controle epidemiológico da doença. De acordo com o diretor de Vigilância Epidemiológica em Saúde da SES-DF, Fabiano Martins, a Estrutural é local estratégico e reflete o cenário vivenciado hoje no Distrito Federal. O estudo determina o comportamento do vírus na população e permite pensar em novas estratégias de vigilância, visando a otimização dos recursos públicos.
“São dados preocupantes porque se trata de uma variante nova e com perfil de alta transmissibilidade. O estudo nos ajuda a fomentar políticas públicas e realizar novas estratégias de vigilância sentinela. É uma tecnologia capaz de dar respostas rápidas, que é o que precisamos neste momento”, explica Fabiano Martins.
“Facilitar a identificação das variantes de covid-19 pode trazer grande impacto no entendimento do comportamento da doença e no planejamento de ações para sua prevenção. A Ebserh tem participado de forma ativa em pesquisas relacionadas à covid-19 desde o início da pandemia”, corrobora o diretor de Ensino, Pesquisa e Atenção à Saúde da Empresa Brasileira de Serviços Hospitalares (Ebserh), Giuseppe Cesare Gatto.
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