Em 2020, comemorou-se os 60 anos da criação da primeira escola parque do Distrito Federal. Para celebrar a construção pedagógica, os programas de Pós-Graduação em Educação (PPGE) e em Educação Física (PPGEF) da UnB realizaram um colóquio para evidenciar os aspectos inovadores do projeto concretizado por Anísio Teixeira, criador também da nossa Universidade, ao lado de Darcy Ribeiro.
Organizado pelo Imagem – Grupo de Pesquisa sobre Corpo e Educação, o evento, ocorrido no final de novembro, contou com a participação da professora aposentada da UnB e pesquisadora associada à Faculdade de Educação, Eva Wairos, atual dirigente do Museu de Educação do Distrito Federal. Também participaram representantes da Fundação Anísio Teixeira, além de estudantes, docentes e pesquisadores que puderam prestigiar as palestras on-line, transmitidas pelo canal do PPGEF, no YouTube. Ao total, o colóquio contabilizou mais de cem participantes.
>> Confira aqui as mesas do colóquio
HISTÓRIA – Fundamentadas nas bases pragmáticas do filósofo americano John Dewey, as escolas parque constituídas por Anísio Teixeira, quando ocupou o cargo de diretor do Instituto Nacional de Estudos e Pesquisa (INEP), tinham como objetivo a formação escolar em seu sentido amplo, integrada ao desenvolvimento artístico, físico e recreativo da criança e ainda sua iniciação para o trabalho.
O primeiro centro educacional nesses moldes foi inaugurado em Salvador, Bahia, em 1950. A repercussão positiva da Escola Parque da Bahia, ou Centro Educacional Carneiro Ribeiro, é reconhecida como um dos maiores feitos do entusiasta pedagógico. Em 2020, Anísio foi reconhecido como Patrono do Conselho Estadual de Educação da Bahia.
INTEGRAL – A escola parque tem como principal eixo a educação integral. Assim, a proposta era que os alunos frequentassem o ambiente escolar durante oito horas: quatro horas de aulas nas escolas classes, com o método tradicional de ensino; e o restante no exercício de atividades complementares, de caráter cultural, social e artístico, nas escolas parque.
De acordo com Rafaella Lira de Vasconcelos, doutoranda do PPGE, a arte-educação nas escolas parque de Brasília representam um marco da inventividade de Anísio Teixeira para a educação brasileira, visto que precederam as diretrizes educacionais para esse ensino (que se estabeleceram na Lei de Diretrizes Base da Educação, de 1971). Assim, o conjunto pedagógico foi inovador e tornou-se referência, consolidada pela experiência no DF.
“Esse plano tão bem elaborado expressa a qualidade desse tipo educativo, com a valorização da identidade, em que o indivíduo tenha capacidade de fazer escolhas críticas. Ou seja, que ele possua autonomia para buscar aquilo que queira”, ressalta a pesquisadora.
Durante o colóquio, a doutoranda apresentou reflexão sobre os desafios enfrentados para a continuidade do projeto. Atualmente, existem cinco unidades de escola parque no Distrito Federal. No planejamento original, contudo, deveriam ser construídas 28, para atender as comunidades das superquadras de Brasília. Segundo Rafaella, processos políticos, econômicos e ideológicos interromperam a conclusão do plano.
Ainda assim, a essência da proposta permanece forte: espaços humanizados, amparados e defendidos pela comunidade seguem presentes nos dias atuais. A Escola Parque Anísio Teixeira, em Ceilândia, é um exemplo do modelo adaptado conforme as necessidades da comunidade local. A unidade atende alunos desde a sexta série do ensino fundamental até o ensino médio e preconiza a atividade social.
EXPERIÊNCIA BRASILIENSE – De acordo com Ingrid Dittrich Wiggers, professora do PPGE e do PPGEF, a eficiência do modelo não foi diferente em Brasília.
A primeira escola parque de Brasília foi inaugurada na entrequadra 307/308 Sul. De acordo com a docente, o modelo implantado aqui, no mesmo ano de inauguração da capital, possui características originais e revolucionárias.
A criação de Brasília, em 1960, representou um marco para a modernidade no mundo. Desta forma, o projeto de escola parque elevou suas dimensões devido aos aspectos arquitetônicos e urbanísticos da cidade.
As escolas parque foram planejadas e construídas compondo o conjunto chamado de unidade de vizinhança, que é formado por quatro superquadras do Plano Piloto. “Desse modo, a escola parque, assim como as escolas classe, os jardins de infância e todos os equipamentos educacionais do sistema pedagógico de Brasília se integraram de forma a simbiótica com essa unidade de vizinhança, que era a comunidade de convívio das famílias e, portanto, das crianças”, detalha a docente.
“A construção de Brasília permitiu a Anísio Teixeira elaborar esse plano de construções escolares de modo muito interessante que não se viu em nenhum outro lugar por causa justamente do desenho urbanístico da cidade”, completa Ingrid Dittrich Wiggers.
De acordo com Eva Wairos, essas características refletem avanços no modelo proposto por Anísio Teixeira, uma vez que estimula o processo de cidadania, humanização e coletividade, além de estabelecer processos democráticos na instituição da educação, desde a sua base.
“Anísio Teixeira sempre defendeu a educação democrática, acessível e universal, compatível com a educação moderna. Não se tratava de uma escola tradicional, mas de um espaço onde o aluno era o centro do processo educativo”, destaca Wairos.
SAIBA MAIS – No Museu de Educação do Distrito Federal, há centenas de documentos textuais, fotográficos e audiovisuais que registram diferentes períodos dos projetos pedagógicos de Brasília. O espaço é um projeto da Faculdade de Educação e atua há mais de 20 anos na catalogação de arquivos e informações sobre os primórdios da construção da capital federal.
A importância das escolas parque para a educação do DF também é analisada em artigo produzido pela docente Ingrid Dittrich Wiggers e Tayanne da Costa Freitas para a revista científica Linhas Críticas, da Faculdade de Educação (FE/UnB). O tema também é debatido em entrevista feita com as autoras no podcast do periódico.
*estagiário de Jornalismo na Secom/UnB
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