EXTENSÃO ACADÊMICA

Panorama histórico sobre processo de dizimação das comunidades por epidemias e relato sobre a realidade do povo suruí paiter foram destaques

Webinário integra ciclo de palestras realizado pela UnB junto com a Fundar. Imagem: Reprodução/Extensão UnB

 

O Decanato de Extensão (DEX) transmitiu nesta quarta-feira (28), em seu canal no YouTube, o segundo webinário do ciclo de debates O Brasil como problema. O evento discutiu o papel das universidades perante à vulnerabilidade de indígenas às pandemias e também evidenciou os problemas que são enfrentados diariamente por essas populações, em especial no atual contexto da covid-19. A série de palestras é realizada em parceria com a Fundação Darcy Ribeiro (Fundar), no âmbito do Programa Estratégico de Extensão Darcy Ribeiro e a UnB: legado, pensamentos e fazimentos

 

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Ao dar início ao webinário, a diretora de Difusão Cultural do DEX, Flávia Motoyama, falou sobre o falecimento, no sábado (24), de Paulo Ribeiro, sobrinho de Darcy Ribeiro, que presidiu a Fundar entre os anos de 2008 e 2017. “Foi por meio dele que iniciamos os diálogos entre UnB e Fundar que resultaram no nosso acordo de cooperação [para o programa]. Como nos lembrou o atual presidente da Fundar, José Ronaldo Cunha, Paulo Ribeiro foi o responsável por realizar o sonho de seu tio de trazer para o campus Darcy Ribeiro um memorial – o Beijódromo – para abrigar o seu acervo e ideário”.

  

A reitora Márcia Abrahão solidarizou-se com as perdas ocasionadas pela covid-19 e com o falecimento de Paulo Ribeiro. Ela destacou que a temática do webinário não se esgota em um único evento. “Nós sabemos que as populações indígenas têm sido as mais afetadas por esta pandemia", ressaltou.

 

Durante o debate, a professora Mônica Nogueira, coordenadora do Mestrado Profissional em Sustentabilidade junto a Povos e Territórios Tradicionais (Mespt/UnB), deu um panorama histórico sobre a incidência de epidemias entre os povos indígenas do Brasil. A docente abordou o genocídio contra as comunidades e pontuou que foi um processo complexo, ocorrido por ação dos colonizadores europeus e com a disseminação de doenças, o que resultou em uma redução expressiva da população ameríndia.

 

“São perdas extraordinárias ao longo da história. A barreira epidemiológica era favorável aos europeus. Agentes patogênicos provocaram não só a morte de muitos indivíduos indígenas, mas também a desestruturação social e extinção de diversos povos”, apontou.

 

Em sua análise das últimas décadas, Mônica frisou a ocorrência de uma inversão demográfica nas populações indígenas, que dos anos 1990 até 2010 voltaram a crescer, passando de 294 mil para 896 mil pessoas. Entretanto, com a pandemia de covid-19, as perdas voltaram a se acentuar.

 

Segundo a coordenadora do Mespt, neste momento, os indígenas têm sofrido com a negligência do Estado nacional. "Vínhamos em um movimento de transformação da realidade dos povos indígenas, com uma crescente afirmação de direitos, de protagonismo, e agora assistimos a um assustador retrocesso histórico”, disse.

 

RELATO – Ao trazer um retrospecto da situação de sua comunidade, Almir Suruí, uma das lideranças do povo suruí paiter, mencionou que, após o contato com os colonizadores, diversas epidemias, como a de sarampo, gripe, entre outras, quase extinguiram sua etnia. Ele lembrou ainda que, na década de 1970, a ocupação indevida de terras indígenas no Brasil ocasionou em muita pressão sobre os nativos, o que resultou posteriormente na extinção de inúmeras etnias.

Líder indígena da etnia suruí paiter, Almir Suruí lembrou os impactos causados por epidemias em sua comunidade. Imagem: Reprodução/Extensão UnB

 

As lideranças do povo suruí paiter têm buscado alternativas para garantir que os direitos indígenas sejam respeitados e defendidos. “Não basta só criar os espaços e políticas de saúde, é necessário implementar com responsabilidade e com participação. Muitas aldeias estão passando por um problema sério, sem o mínimo de estrutura que evite o impacto que vem da covid-19”, alertou Almir Suruí.

 

Com o testemunho de quem vive a realidade da pandemia dentro de um território indígena, ele pontuou que embora haja equipes do governo atuando no enfrentamento da pandemia, elas não estão preparadas para impedir os efeitos da crise sanitária nas inúmeras populações indígenas.

 

Para a liderança, é necessário que haja a preocupação de melhorar essa atuação, e, por isso, a capacidade de debate é muito importante. “A política [pública] é feita para atender à necessidade da população como um todo. As necessidades que nós povos indígenas estamos passando é que muitas vezes a política pública está ausente. Acreditamos que é necessário buscar melhorá-las”, concluiu Almir Suruí.

 

PARCERIA – A UnB e a Fundar firmaram acordo de cooperação que tem como objetivo proporcionar a realização de atividades relacionadas a projetos de ensino, pesquisa e extensão, buscando desenvolver iniciativas que envolvam arte, cultura, preservação do acervo e acesso à biblioteca do Memorial Darcy Ribeiro. A parceria resultou no Programa Estratégico de Extensão Darcy Ribeiro e a UnB: legado, pensamentos e fazimentos

 

A ideia é tornar o Memorial, gerido pelas duas instituições, espaço de promoção de eventos, cursos e oficinas com caráter extensionista. Além do ciclo de palestras, outras atividades vêm sendo realizadas atualmente em modo remoto. É o caso do Cineclube Beijódromo, que foi reativado recentemente.

 

Confira o webinário:

 

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