A temática dos direitos humanos está sempre pulsando na Universidade de Brasília. Em 2022, foram instituídas a Câmara e a Secretaria de Direitos Humanos (SDH), para liderar as ações institucionais relacionadas ao assunto, debaixo da Política de Direitos Humanos da Universidade. Os Prêmios Anísio Teixeira e Mireya Suárez reconheceram iniciativas da comunidade acadêmica que promovem os direitos humanos. Nesta série de reportagens, você lê detalhes sobre cada um desses projetos vencedores. O primeiro material é sobre o Negras Antropologias.
Criado em 2017, o Negras Antropologias é um evento acadêmico anual promovido pelo Coletivo Zora Hurston, do Programa de Pós-Graduação em Antropologia Social (PPGAS) da Universidade de Brasília. A iniciativa promove – por meio da realização de mesas-redondas, grupos de trabalho, conferências e oficinas – um espaço de centralidade científica para pessoas negras.
O projeto foi vencedor da categoria Igualdade, Diversidade e Não Discriminação do Prêmio Anual de Direitos Humanos Anísio Teixeira, em 2022. José Lidomar Nepomuceno, integrante da equipe de comunicação do Zora Hurston, diz que a premiação destaca a importância de ouvir e apoiar as iniciativas de coletivos discentes.
“Receber esse reconhecimento da própria UnB traz o peso do respeito que o nosso trabalho merece, além de sinalizar para nosso departamento e programa a relevância dele na construção de uma antropologia mais plural, tanto nos temas e na epistemologia, quanto na diversidade das pessoas que integram o programa.”
O projeto Negras Antropologias, desde a criação, tem trazido reconfigurações para o conhecimento científico produzido na Universidade por reforçar a centralidade do pertencimento racial dos pesquisadores, bem como a potência de uma educação plural e compromissada com a transformação da sociedade. O objetivo é dialogar sobre temas e demandas acadêmicas e sociopolíticas de pesquisadores negros e negras da UnB.
Segundo Nepomuceno, a iniciativa mostra como é possível realizar um evento acadêmico que contemple os mais variados temas, com protagonismo negro e ampliação de debates. “Nós, enquanto acadêmicos negres, estamos acostumados a ver eventos que contam com a presença majoritária ou mesmo exclusiva de pessoas brancas compondo as mesas, as conferências e os debates, muitas vezes sob a alegação de que não há ou há poucos pesquisadores e pesquisadoras negras sobre determinado tema. O Negras Antropologias tem quebrado essa lógica”, afirma.
Os eventos têm participação aberta ao público e visam, também, estimular o pensamento crítico dos ouvintes. Ao longo dos cinco anos de realização, o projeto abriu portas de visibilidade para pesquisas de estudantes negros do PPGAS e possibilitou a expansão de demandas, rompendo com o ciclo histórico de silenciamento do fazer antropológico dessa população. A iniciativa valoriza produções negras e estimula o engajamento de práticas cidadãs que sejam efetivamente antirracistas.
“Tivemos, pela primeira vez nas edições do Negras Antropologias, uma exposição fotográfica com os trabalhos de integrantes do Coletivo. As mesas-redondas também tiveram debates muito relevantes para a antropologia ao longo dos três dias. Teve, ainda, a conferência de encerramento, com a queridíssima professora Rosana Castro, uma das fundadoras do Zora Hurston”, resgata Nepomuceno, sobre a edição de 2022.
O integrante do coletivo comenta que uma das maiores conquistas da última edição foi a presença de Arivaldo Lima, antropólogo formado na UnB que foi vítima de racismo em 1998 e motivou o debate que resultou na implementação pioneira das cotas raciais na Universidade. “Poder ouvir o professor Ari, depois de tantos anos, naquele espaço que o marcou negativamente, tendo a possibilidade de aprender com ele, enquanto professor, antropólogo, pesquisador, negro, gay e candoblecista foi lindo, muito potente e de alto nível”, celebrou.
O primeiro encontro do Negras Antropologias foi realizado em novembro de 2017. Nos anos de 2020 e 2021, foi adaptado ao modelo remoto, sendo transmitido em âmbito nacional por meio do canal do YouTube do Coletivo Zora. Desde então, foram registradas 667 visualizações nas edições.
PRÊMIO – O Prêmio Anual de Direitos Humanos Anísio Teixeira reconhece ações de excelência realizadas no ensino, na pesquisa e na extensão universitária. São três categorias: Igualdade, Diversidade e Não Discriminação; Saúde, Meio Ambiente e Bem-estar; e Democracia e Participação. Na edição de 2022, os projetos vencedores em cada área, respectivamente, foram: Negras Antropologias: promovendo epistemologias antirracistas e o protagonismo negro na produção do conhecimento antropológico; Cravinas – prática em direitos humanos e direitos sexuais e reprodutivos durante a pandemia de covid-19; e Se o grileiro vem, pedra vai: pra todo mundo ouvir.
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