FORMAÇÃO CIENTÍFICA

Discentes aprendem na prática a utilizar ferramenta para rastrear infectados e conter disseminação do novo coronavírus

A partir do rastreamento, participantes do projeto identificam pessoas com quem infectados mantiveram contato e orientam-nas a manter o isolamento social. Imagem: Freepik

 

A Universidade de Brasília tem se mobilizado em torno de projetos e ações que auxiliem a sociedade no combate à covid-19. Entre eles, está uma pesquisa realizada em parceria com o Instituto de Gestão Estratégica de Saúde do Distrito Federal (Iges-DF). A iniciativa consiste em acompanhar casos de covid-19, confirmados pelo teste RT-PCR, para reduzir a disseminação do novo coronavírus de pessoas infectadas para sadias. 

 

O projeto Contact tracing - rastreamento de contatos para COVID-19 já foi aprovado no Comitê de Ética em Pesquisa e está em andamento nas unidades de saúde: o Hospital Regional de Santa Maria (HRSM), o Hospital de Base e mais seis unidades de Pronto Atendimento (UPAs) espalhadas pelo DF.

 

Ao longo deste semestre letivo, estudantes de graduação matriculados na disciplina Pesquisa Científica em Grandes Temas 2, coordenada pelo professor da Faculdade de Agronomia e Medicina Veterinária (FAV) Ricardo Titze, têm a oportunidade de participar da pesquisa e ampliar os conhecimentos voltados à formação científica.

 

A disciplina, proposta pelo Comitê de Pesquisa, Inovação e Extensão de combate à covid-19 (Copei), possibilita a discentes conhecer, de forma prática, projetos científicos, de extensão e inovação desenvolvidos pela UnB no enfrentamento à pandemia e suas consequências. 

 

"A disciplina Pesquisa Científica em Grandes Temas, atualmente, tem foco na pandemia, justamente para colocar estudantes em contato com questões relevantes em relação à covid-19. Com base neste tema central, irão aprender a dinâmica da solução de problemas importantes para sociedade, assim enriquecendo a formação acadêmica na graduação", explica o professor Ricardo Titze, também à frente da pesquisa.

 

O docente também coordenou o treinamento de profissionais do Hospital das Forças Armadas (HFA) para realização do exame RT-PCR, adotado no diagnóstico de casos de covid-19, o que contribuiu para a ampliação da rede de testagem no DF.

 

>> Relembre: UnB auxilia Hospital das Forças Armadas na implementação de exames de RT-PCR para testagem da covid-19

 

Segundo Ricardo Titze, a proposta da disciplina é agregar estudantes de diferentes áreas do conhecimento para atuarem, de forma integrada, na pesquisa. Durante as atividades, eles são direcionados para acompanhar casos positivos de covid-19, aprendendo mais sobre a ferramenta de rastreamento de contatos, utilizada para conter a disseminação do novo coronavírus.

 

APRENDIZADO EM PRÁTICA – Toda semana, os alunos recebem dois novos casos de infectados, oriundos dos hospitais de Base e de Santa Maria, e realizam o contato telefônico com os pacientes para identificar as pessoas com quem possivelmente eles interagiram presencialmente. Os casos e os resultados das abordagens são discutidos em grupo, o que oportuniza aos estudantes sanar dúvidas e buscar soluções para questões levantadas pelos pacientes.

 

"Fazemos contato com esses indivíduos que testaram positivo para covid-19, apresentamos recomendações para isolamento e, principalmente, tentamos localizar quem foram as pessoas com as quais eles tiveram contato até dois dias antes de ter sintomas, os chamados de contactantes, que podem estar infectados com o Sars-CoV2 e, assim, disseminar a doença", descreve Ricardo Titze.

 

"Os contactantes possivelmente podem ter adquirido o vírus desta pessoa positiva, desde que estejam a menos de dois metros por mais de 15 minutos, conversando, tendo contato físico ou estando dentro de um mesmo domicílio, o que chamamos de contactante natural. E, então, entramos em contato com eles e recomendamos que fiquem em quarentena por duas semanas", completa.

O estudante de Medicina Veterinária Pedro Henrique Lacerda viu na disciplina a oportunidade de pensar soluções para problemas na prática. Foto: Arquivo pessoal

 

O estudante Pedro Henrique Lacerda, do curso de Medicina Veterinária, participa da disciplina e aponta que o envolvimento no projeto o ajudou a melhor aplicar os conhecimentos aprendidos em aula.

 

"É poder levar o conhecimento que o aluno aprendeu e colocar em prática, saber diferenciar e conseguir ter um desdobramento melhor durante uma conversa com um paciente, conseguir lidar com os problemas, o que, para os estudantes, é uma coisa muito difícil, pois quando você tem um problema, precisa pensar rapidamente em uma solução para aquele caso", afirma o discente.

 

Já para a aluna de Fisioterapia Thaylise Ramalho da Cunha, a experiência nas aulas e no projeto foi importante para compreender melhor como a Universidade interage com a sociedade e atua extrapolando os conhecimentos produzidos para além de seus muros.

 

"Acredito que os estudantes e a Universidade tenham um papel de colaboração com a saúde local. A Universidade não é um local fechado para quem estuda/trabalha lá. É um centro de estudo e pesquisa que está aberto para a comunidade, oferecendo serviços como esse com o objetivo de diminuir a transmissão do vírus e orientar a população", observa.

 

PREPARAÇÃO – Antes de iniciar o trabalho, os discentes passam por treinamento em curso on-line oferecido pela Universidade Johns Hopkins (Estados Unidos) – referência mundial no monitoramento dos casos de covid-19. Esse é um pré-requisito para a continuidade nas atividades. Em seguida, eles são orientados pela equipe do projeto em relação às particularidades locais da pandemia e para realizar as primeiras ligações.

 

É o passo final para que recebam os chips telefônicos e efetuem o monitoramento dos casos. Segundo Ricardo Titze, os membros do projeto também oferecem apoio às famílias dos indivíduos infectados e seus contactantes.

 

Todas as informações recebidas pelos participantes da disciplina e da pesquisa são colocadas em um banco de dados na nuvem, que são armazenados em servidores estadunidenses com backup e dados criptografados, para garantir o sigilo das informações.

Professor Ricardo Titze e alunos da disciplina Pesquisa Científica em Grandes Temas 2 estão acompanhando casos confirmados de covid-19 no DF. Imagem: Reprodução

 

O coordenador do projeto explica o impacto direto da metodologia de monitoramento no comportamento da pandemia. "Dessa forma, o isolamento social do indivíduo positivo, somado à quarentena dos contactantes, que podem ou não estar infectados, permitirá a diminuição da transmissibilidade do vírus na sociedade e, assim, do número de casos, da circulação do vírus, por fim, ocasionando uma redução da epidemia."

 

Outra contribuição importante da iniciativa é orientar a população sobre seus direitos no que diz respeito à saúde pública. A estudante Thaylise da Cunha fica satisfeita em poder contribuir no acesso a informações relevantes neste momento de pandemia.

 

"Com as ligações, percebi que muitas pessoas não têm conhecimento sobre os serviços oferecidos pelo SUS [Sistema Único de Saúde]. Acaba que podemos orientar sobre direito a atestado, prontuário eletrônico e possibilidade de recorrer à unidade de saúde mais próxima sempre que necessário, etc.", relata.

 

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