Reflexões sobre violência de gênero, racismo e equidade deram o tom do encerramento da agenda #8M, programação da Universidade de Brasília em comemoração ao mês da mulher. Realizada de forma virtual nesta quinta-feira (31), com transmissão pelo canal da UnBTV no YouTube, a mesa-redonda A luta continua: perspectivas da Política de enfrentamento à discriminação e à violência de gênero e sexual no âmbito da Universidade de Brasília trouxe propostas de combate a desigualdades na instituição.
Os discursos no evento endossaram a importância da conscientização trazida pelo Dia Internacional da Visibilidade Trans, celebrado em 31 de março, e reforçaram a necessidade de inclusão de mulheres trans nas comemorações do mês das mulheres. Para Ariel Pimenta, mulher trans e graduanda do sétimo semestre de Artes Cênicas na UnB, a inclusão em ambientes acadêmicos é uma das formas de combater a transfobia e retirar essa população da situação de rua.
“Eu sou a primeira mulher trans do curso de Artes Cênicas. Eu entrei em 2016. Por que demoramos tanto tempo para incluir esses corpos, para termos estudantes trans na Universidade? Aos poucos estamos entrando nesses espaços e saindo do submundo do subemprego em que estamos inseridas. Eu sou exemplo disso. Graças ao auxílio da Universidade de Brasília eu consigo me manter. Eu estava em situação de rua, mas fui acolhida. É muito importante ser reconhecida como somos”, contou.
A afirmativa vai ao encontro da Política de Enfrentamento à Violência de Gênero na UnB. O documento foi desenvolvido após a I Conferência de Combate à Violência de Gênero da Universidade de Brasília, em 2020. Segundo a professora da Faculdade de Direito Ela Wiecko, representante da comissão que desenvolveu a proposta, é preciso considerar a violência contra as mulheres como um problema interseccional, isto é, que está estruturado junto a questões de classe, de gênero, de geração/idade, de vulnerabilidade socioeconômica, de raça/etnia e de orientação sexual.
“Mesmo que nossa política fale de violências de gênero, estamos compreendendo a violência que acontece com as mulheres, no plural. Não existe apenas ‘a mulher’ como uma categoria única que possa expressar todas as diversidades de mulheres. Toda a discriminação constitui uma violência. E essa perspectiva da violência de gênero se dá em várias dimensões porque se você é negra, trans, lésbica, pobre ou idosa, as opressões são multiplicadas”, observou.
>> Confira os textos que subsidiaram as propostas de Política de Combate a Violência de Gênero da UnB
A docente também propôs uma institucionalização de ações de enfrentamento com representações em todas as esferas da comunidade acadêmica. “Precisamos atender às múltiplas dimensões de violência. Devido a nossa construção e vivência em uma sociedade patriarcal e machista, muitas vezes praticamos violências de gênero contra as mulheres sem termos consciência disso. Esperamos, com o apoio de alunos, professores, técnicos administrativos, institucionalizar ações de promoção dos direitos humanos e de erradicação de atos discriminatórios de qualquer natureza do âmbito da Universidade de Brasília”, concluiu Ela Wiecko.
Além da proposta, a diretora da Diversidade (DIV/DAC) da UnB, Susana Xavier, realizou a síntese de um trabalho de cinco anos que afirma o compromisso da UnB em combater a violência de gênero na Universidade.
“Desde 2016 desenvolvemos três eixos para essa luta: temos o acolhimento de vítimas, com uma equipe de psicólogos e assistentes sociais; o desenvolvimento de políticas; e o eixo de ações para minimizar as violências na UnB. A nossa primeira política foi o Programa de Atenção à Diversidade (PADiv), para acolher vítimas de violência de gênero, depois adotamos o uso do nome social e também destinamos 40% das vagas de estágio para mulheres negras, trans e indígenas”, detalhou.
>> Conheça o Programa de Atenção à Diversidade (PADiv)
Para aumentar a participação feminina nesse contexto, a professora Lígia Pavan Baptista, do Instituto de Ciências Humanas e da Rede de Mulheres Filósofas da América Latina da Unesco, convidou as mulheres a serem parte da rede, que é uma resposta ao objetivo de igualdade de gênero e desenvolvimento sustentável da ONU.
“Vamos marcar uma nova era nesses 60 anos da UnB, um marco de tolerância zero com a violência de gênero na instituição. A partir dessa rede, queremos pensar em boas práticas para promover a igualdade. Estamos em 20 países, temos mais de 700 pesquisadoras das mais diversas áreas de conhecimento. Nossa proposta é visibilizar a produção de um heterogêneo coletivo filosófico feminino no nível nacional, regional e internacional”, afirmou.
Também participaram da mesa-redonda a reitora Márcia Abrahão, o decano do DAC, Ileno Izídio da Costa, a professora do Instituto de Letras María del Mar Paramos Cebey, a mestranda do Departamento de Sociologia Gabriela da Costa Silva e a presidente da Associação dos Acadêmicos Indígenas da UnB (AAIUnB), Nayra Kaxuyana. A mediação foi da coordenadora da Codim, Roberta Cantarela.
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