Equidade, liberdade, inclusão, qualidade e acessibilidade. Palavras que sintetizam os propósitos da educação aberta e sua missão de compartilhar saberes de forma autônoma, livre, gratuita e colaborativa. Alunos do curso de Pedagogia da Universidade de Brasília (UnB) e da Universidade do Estado de Minas Gerais (UEMG) abraçaram esse espírito e encamparam mais uma ação do projeto Escolha Livre. Lançada em 2020, a inciativa visa dar suporte à crescente necessidade do uso de recursos educacionais mediados pela tecnologia e pela internet, acelerada pelo contexto de pandemia de covid-19.
Desta vez, os discentes elaboraram tutoriais, disponibilizados na internet, que ensinam como usar plataformas de acesso aberto e gratuito bastante úteis para o dia a dia das pessoas. Entre as opções, estão ferramentas para realizar buscas na internet com privacidade e segurança, para publicar e fazer streaming, para assistir filmes e para enviar mensagens instantâneas.
Também tem orientações voltadas a recursos que funcionam como rede social e microblog, para o compartilhamento de fotos e stories, para o armazenamento de arquivos, para a realização de webconferências e para a prática de escrita colaborativa.
A iniciativa foi coordenada pelos professores Tel Amiel (UnB) e Janaína Diniz (UEMG), que propuseram o desafio aos alunos no âmbito de uma disciplina remota e conjunta sobre tecnologias em educação.
“Resolvemos fazer uma experimentação coletiva em torno desse tema e a construção desse material foi parte desse projeto. Hoje, a educação aberta busca trabalhar processos de inclusão voltados à educação de qualidade para todos. Podemos fomentar isso com a web, com a internet e com as práticas de cultura digital”, explica o docente da Universidade de Brasília.
Segundo Amiel, antes de elaborarem os manuais, os alunos foram provocados a conhecer um pouco mais sobre o universo do software ”gratuito e proprietário”, que muitas vezes trabalha sob a lógica da propaganda, da coleta de dados dos usuários e do pouco compromisso com a privacidade e a segurança das informações individuais.
“A partir daí, sugerimos que os discentes buscassem uma ferramenta de software livre e comparassem as soluções, tentando compreender limitações, potencialidades e o que está por trás da proposta dos recursos abertos e livres. Após a discussão teórica, dividimos a turma em grupos e propomos a construção dos tutoriais, uma forma concreta de ampliar o compartilhamento do conhecimento gerado.”
>> Para saber detalhes do funcionamento da disciplina conjunta entre a UnB e a UEMG, ouça a explicação de Tel Amiel.
EXPERIÊNCIAS – Aluna do 2º semestre do curso de Pedagogia da UnB, Isabela Farias conta que a participação na disciplina foi incrível e surpreendente. “Descobri que a complexidade dos termos de uso da maioria dos aplicativos proprietários é muito maior do que eu imaginava, principalmente em relação aos dados que fornecemos”, sintetiza.
A estudante ressalta que não conhecia o tema da educação aberta e que a disciplina impactou seu olhar sobre a atuação profissional dos pedagogos. “Percebi que é de suma importância abordar a problemática das redes sociais em todas as escolas, principalmente na educação infantil. Ensinar, desde cedo, que a internet pode ser usada com segurança contribui para a formação de uma real consciência sobre as lógicas das redes digitais”, opina Isabela.
Em âmbito pessoal, a futura pedagoga disse que passou a ler os termos de aplicativos que usa e a instalá-los apenas se for realmente necessário. “Também conversei sobre o tema com pessoas próximas a mim, e venho tentando me conscientizar mais a respeito do que acontece nas redes.”
A professora Janaína Diniz afirma perceber, no convívio com os alunos, essa mudança de comportamento. “Após o contato deles com a educação aberta, vários adotam o software livre no seu dia a dia, passam a ter um olhar mais crítico e a compreender as relações de poder presentes nas plataformas digitais”, aponta ela, que usa softwares livres há quase quinze anos.
A docente da UEMG relata que a urgência de se discutir, de forma mais estruturada nas disciplinas, os assuntos que permeiam o capitalismo de vigilância – termo que se refere à mutação deste sistema com a monetização de dados que usuários fornecem gratuitamente às empresas de tecnologia – se intensificou com o cenário de pandemia e a implantação acelerada do ensino remoto no país. Isso porque, neste contexto, muitas instituições públicas de ensino adotaram como oficiais as plataformas de grandes corporações de tecnologia.
“Por isso é fundamental mostrar que existem inúmeras ferramentas, recursos e opções muitas vezes não utilizados porque os gestores e os professores desconhecem as possibilidades e não sabem que tanto facilitam quanto promovem uma reflexão crítica acerca das práticas pedagógicas ensinadas, instituídas e reproduzidas”, complementa Tel Amiel.
>> Por que uma Escolha Livre? Ouça!
MAIS DO PROJETO – A elaboração dos tutoriais junta-se a uma série de ações desenvolvidas no Escolha Livre, que também integra a Iniciativa Educação Aberta, parceria entre a Cátedra Unesco em Educação a Distância (UnB) e o Instituto Educadigital.
>> Acesse o Guia de Bolso da Educação Aberta, material elaborado pela Iniciativa Educação Aberta
>> Confira outras produções sobre a educação aberta
Além da construção dos manuais, a turma de alunos da UnB e da UEMG elaborou um manifesto discutido e escrito coletivamente que pontuou questões relacionadas às grandes plataformas da educação e ao que significa, por exemplo, o capitalismo de vigilância.
A Iniciativa Educação Aberta também realiza a formação de líderes em educação aberta por meio de um curso de extensão da UnB com apoio da Unesco Brasil que visa formar gestores e educadores nesse tema para que eles possam difundir esse conhecimento.
>> Quer saber mais sobre educação aberta, recursos educacionais abertos, práticas abertas e licenças livres? Ouça a entrevista com o professor Tel Amiel, referência nacional de estudos sobre o tema.
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