BOAS-VINDAS

Jornalista, escritora, tradutora e presidenta da Fundação José Saramago falará a calouros, graduandos e pós-graduandos em 19/07, pelo YouTube da UnBTV 

No #InspiraUnB do 1º/2021, Pilar del Río abordará os desafios para cidadania em tempos de pandemia. Arte: Igor Outeiral/Secom UnB

 

Superar desafios e atuar na construção coletiva de uma nova realidade, propondo caminhos e possibilidades. Esse é o convite que a Universidade de Brasília faz à comunidade, sobretudo neste período de pandemia de covid-19, por meio da campanha A UnB quem faz é a gente, em que conclama estudantes, professores e técnicos administrativos a seguir em frente, pautados no conhecimento, na empatia, na paciência e na esperança.

 

Em 19 de julho, terá início o primeiro semestre letivo de 2021 – adiado devido à interrupção, por alguns meses, do calendário acadêmico em 2020, quando foi decretada a pandemia mundial causada pelo novo coronavírus. Mais de 4 mil novos estudantes serão acolhidos virtualmente no #InspiraUnB junto a veteranos da graduação, estudantes da pós-graduação e professores.

 

Nesta data, às 17h, todos são convidados a acessar o canal da UnBTV no YouTube para assistir à palestra especial de Pilar del Río, jornalista, escritora, tradutora e presidenta da Fundação José Saramago, localizada em Portugal.

 

Nascida em Sevilha (Espanha) em 1950, Pilar trabalhou em diversos meios de comunicação, como a emissora La Voz del Guadalquivir, a revista Triunfo e a Rádio e Televisão Espanhola. Também colaborou com veículos como Canal Sur, Cadena Ser e El País e foi correspondente em Portugal por vários anos.

 

Conheceu o escritor José Saramago em 1986, com quem se casou dois anos depois. A partir de 1997, começou a traduzir os livros do autor português para o espanhol e, em 2010, após a morte do marido, passou a presidir a Fundação José Saramago.

 

Desde 2013, está pessoalmente envolvida na elaboração e divulgação da Declaração Universal dos Deveres Humanos, a qual foi pensada para ser um complemento à Declaração Universal dos Direitos Humanos. Em forma de carta, o documento foi entregue dois anos atrás por Pilar à Universidade de Brasília. 

 

No Inspira UnB, a convidada especial Pilar del Río abordará o tema E se fôssemos capazes de criar outro paradigma? Os desafios que se apresentam à cidadania num mundo em pandemia. A apresentação será seguida de bate-papo com a comunidade acadêmica da UnB.

 

Confira a seguir a entrevista que Pilar concedeu à Secretaria de Comunicação (Secom) da Universidade:

Na avaliação de Pilar del Río, educação, cultura e responsabilidade são essenciais para combater as fake news na era digital. Foto: Bruno Colaço

 

Além de ter realizado diversos trabalhos de sucesso, que lhe renderam grande destaque ao longo da vida, também percorreu diversos lugares com a missão de dar continuidade ao pensamento de Saramago e defender a pluralidade, a liberdade, a justiça social e a harmonia entre seres humanos. Neste momento de enfrentamento à pandemia de covid-19, quais desafios acredita serem os maiores para a sociedade em geral?
A falta de peso da sociedade em geral: somos tratados como estatística, e não como seres humanos com vidas únicas e irrepetíveis. A mim me parece que as saídas encontradas para enfrentar a pandemia servem mais para preservar o sistema do que as vidas daqueles que formam a base que termina por sustentá-lo. O abismo entre ricos e pobres é cada vez maior; a falta de esperança e o medo acabarão por colocar-nos uns contra os outros. O sistema já tinha apostado pelo embrutecimento geral e a pandemia não mudou esse projeto, embora agora disponhamos de meios que poderiam nos tornar mais cultos, com melhores condições de vida e com perspectivas para afrontar o desconhecido.

 

Como jornalista e defensora do pensamento e das ideias, qual sua leitura sobre a atuação da imprensa hoje? E dos cidadãos? Acredita que estamos buscando de fato a participação ativa no nosso mundo coletivo e individual?
A imprensa, os meios de comunicação nunca foram tão potentes como agora. A capacidade de dirigir a sociedade nunca foi tão imediata como agora. Os jornais, em geral, ainda conservam algum lugar de reflexão, muito mais do que as redes de televisão e as redes sociais, que se transformaram em fábricas de cidadãos desinteressados pelo social, com ofertas de programas de entretenimento que se alimentam dos instintos mais baixos para que os passivos consumidores possam esquecer das suas próprias vidas. Não gosto do papel dos meios nem da minha profissão na configuração atual da sociedade. Poderíamos ter contribuído para forjar uma sociedade mais ativa, participativa, mas optamos por uma sociedade alienada.

 

Como vê a extensão e o impacto das fake news e da desinformação no mundo atual?
Terrível, e isso só pode ser enfrentado por meio da educação e da cidadania, mas nem na Europa nem na América, na sociedade e nos governos há força social para insistir nesses valores. Falo da educação, da civilidade, da ética, da responsabilidade. Só a partir da formação baseada nesses valores poderemos enfrentar o assédio, a violência, as violações sistemáticas de direitos que as fake news  causam.

 

Como combater ambas, fake news e desinformação, em uma era digital em que tudo parece ser imediato e efêmero?
Insisto na minha resposta, com educação e cultura. E responsabilidade. Há muitos e muitos anos venho defendendo que as escolas devem ensinar as pessoas a lerem os jornais, a assistirem à televisão para saberem decodificar o que os meios de comunicação dizem e o que querem dizer. Agora o assunto é mais complexo, é preciso aprender a identificar as notícias falsas, saber contrastar informações, encontrar as fontes, ter capacidade de resposta. Mas não sei quem vai ensinar isso, já que as escolas, muitas vezes, são só um expediente para ocupar alguns anos dos jovens e depois lançá-los pela vida sem que tenham sido formados devidamente nem tenham consciência do próprio valor que têm.

 

Quais desafios acredita que a universidade enfrenta hoje para seguir com seu papel não apenas de educadora profissional, mas, sobretudo, de “educadora para a vida”?
A universidade não deve ser apenas um lugar de preparação para que as pessoas exerçam uma profissão, mas um espaço onde se dêem ferramentas para entender o mundo e as suas complexidades. O que acontece é que a opção foi por transformar as universidades em fábricas de profissionais, fábricas com compartimentos estanques onde uns ignoram a existência dos outros. As humanidades foram marginalizadas, um médico supostamente não precisa saber filosofia e um arquiteto não tem por que conhecer os escritores do século XX. Os debates universitários sobre os grandes assuntos que afetam a sociedade, as assembleias, os teatros, os recitais que comoviam os campi, isso que um dia serviu para definir uma universidade não me parece estar na ordem do dia nos nossos tempos. E é uma pena, porque as pessoas acabam saindo da universidade sem que o universo tenha sido instalado nas suas mentes e corações. São universitários sem universo.

 

Que valores Saramago – hoje por meio da Fundação que leva seu nome – gostaria de levar aos jovens estudantes?
A necessidade da lucidez. José Saramago sempre dizia que nós, os seres humanos, nos distinguimos dos demais seres vivos porque temos à nossa disposição o uso da razão e da consciência. Razão e consciência, a lucidez necessária para vivermos plenamente e com responsabilidade.

 

Que tema pretende abordar na palestra do #InspiraUnB, que abarcará calouros e veteranos da Universidade no início do semestre letivo? 
Falaremos sobre responsabilidade, sobre a responsabilidade que nós, que fomos beneficiados com a possibilidade de frequentar uma universidade, temos. RESPONSABILIDADE, com maiúsculas, para com o nosso entorno, com o nosso tempo e com a nossa própria vida.

A jornalista, escritora e tradutora foi responsável pela elaboração da Declaração dos Deveres Humanos, documento que dialoga com a Declaração dos Diretos Humanos. Foto: Bruno Colaço

 

Qual mensagem ou recado gostaria de deixar aos jovens universitários que ingressam agora e àqueles que já cursam a graduação ou mesmo a pós-graduação?

Não gosto de deixar recados, mas como me pediram, digo aos jovens que agora entram na Universidade que exerçam a curiosidade, perguntem, procurem, não se contentem com as explicações simples ou simplistas. Que vivam o desassossego de querer compreender as coisas e de participar nas soluções. Os universitários, por definição, estão sempre na origem das soluções. Que tenham agora também propostas para vencermos as crises sanitária, econômica e moral que estamos passando. São três pandemias que nos ameaçam e que devemos vencer se queremos que o planeta não se afunde, e, para isso, temos, repito, a razão, a consciência e a responsabilidade.


BOAS-VINDAS – A aula inaugural do primeiro semestre de 2021 poderá ser acessada por todos os interessados no canal da UnBTV no YouTube. A palestra da convidada especial Pilar del Río será ao vivo, às 17h do dia 19 de julho, e terá transmissão simultânea em espanhol e em português.

 

No dia 23, também às 17h, a Universidade de Brasília oferece no mesmo canal o Happy Hour de Boas-Vindas, no qual estudantes, professores e músicos se cruzarão on-line para um bate-papo descontraído, regado a informações sobre a UnB e ao som da pluralidade da boa música brasileira. Estão previstas a Batalha da Escada – virtual – e as participações dos cantores Zé Roraima e Ellen Oléria.

 

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