MEMÓRIA

Em 5 de setembro de 1971, o espaço abria as portas para a abertura de jogos estudantis. Este ano, o Jubileu de Ouro será lembrado com uma programação virtual, que começa em 8 de setembro

Abrigando espaço para diversas modalidades, como atletismo, futebol, vôlei, o complexo esportivo tem atendido ao ensino, à pesquisa e à extensão na Universidade. Arte: Ana Grilo/Secom UnB

 

Uma aglomeração marcava a estreia do Centro Olímpico (CO) da Universidade de Brasília há cerca de 50 anos. No espaço ladeado pela via L4 e as margens do Lago Paranoá, o clima era de dupla confraternização. A solenidade em torno da obra ainda inacabada dividia o 5 de setembro de 1971 com a abertura dos Jogos Estudantis Brasileiros (JEBs).

 

As delegações de jovens esportistas, as autoridades e o público apinhavam-se na pista de atletismo do CO para acompanhar a cerimônia. Meio século depois, a visão é contrastante: um espaço maior e mais bem equipado, mas vazio pela necessidade de isolamento social decorrente da pandemia de covid-19. Ainda assim, a comemoração do Jubileu de Ouro está confirmada e será virtual.

 

“Não é a situação mais feliz para as pessoas que gostam e que trabalham no Centro Olímpico”, lamenta o professor Alexandre Chan-Vianna, chefe do CO, sobre a impossibilidade de um encontro presencial. A agenda que celebra os 50 anos terá início em 8 de setembro, às 14h, com uma Sessão Solene do Conselho da Faculdade de Educação Física (FEF), que contará com transmissão da UnBTV (confira programação ao final da matéria).

 

No encontro, o colegiado irá oficializar o Centro de Memória da FEF, que recebe o nome de Maria Helena Siqueira, a primeira mulher a assumir a chefia do Departamento de Educação Física. O Centro reunirá fontes históricas e poderá propiciar, até mesmo, a criação de uma linha de pesquisa em história na Pós-Graduação da Faculdade.

 

Será também apreciada a decisão de nomear a pista de atletismo como Mário Ribeiro Cantarino Filho, pioneiro da Faculdade e do atletismo de Brasília. Outros eventos terão espaço na agenda da Semana Universitária da UnB, que vai de 27 de setembro a 1º de outubro.

 

MEIO SÉCULO DE IMPACTO – Entre outras instalações, o CO abriga pistas de atletismo, campos de futebol, ginásio, parque aquático e quadras de areia, de vôlei, de tênis e poliesportivas. O espaço evoluiu desde 1971, tanto em estrutura quanto nos três pilares da atuação universitária: ensino, pesquisa e extensão.

 

No Plano de construções escolares de Brasília, publicado na Revista Brasileira de Estudos Pedagógicos em 1961, Anísio Teixeira propunha a construção de instalações dedicadas à atividade física na Universidade. “Campos de recreação e desportos (estádio, ginásio, piscina, etc.)”, descreveu.

Segundo a professora Wiggers, a obra foi inaugurada incompleta e, no decorrer do tempo, o espaço cresceu tanto em infraestrutura quanto em função social. Foto: AtoM/Arquivo Central UnB

 

O Plano Orientador da UnB, de 1962, faz referência à implantação de um estádio no campus Darcy Ribeiro. A observação também constava em decreto de 1962, que aprovou estatuto da Universidade, e descrevia como um espaço destinado “às atividades desportivas e à preparação de especialistas em educação física”.

 

Inaugurado como Centro Desportivo, a instalação cresceu na década 1970 rumo à função atual, como lembrou a chefe da Comissão da FEF pelos 50 anos do CO, Ingrid Wiggers. A professora coordena o projeto de pesquisa História e Memória da Faculdade de Educação Física.

 

“Ele representa, já na inauguração, um projeto mais avançado no sentido de que, além de oportunizar espaços, equipamentos, técnicos e professores disponíveis, atua também para promover a formação integral dos estudantes de nível superior da UnB”, conta Wiggers, sobre o contexto de criação da Escola Superior de Educação Física, que viria a se tornar a FEF.

 

A investigação guiada pela docente contou com entrevistas de pioneiros e a análise de documentos institucionais. Um resultado inusitado consiste na descoberta da data exata de inauguração do CO a partir de um decalque comemorativo guardado por um professor desde a década de 1970. “[O projeto] tem como objetivo recuperar a cultura material e as fontes históricas da FEF e da educação física, esporte e lazer da UnB e, com isso, propiciar projetos de extensão e de pesquisa”, resume Wiggers.

 

DEDICAÇÃO À COMUNIDADE – “Hoje trabalhamos com uma concepção alargada de esportes, para além dessas modalidades tradicionais do esporte olímpico e de representação”, relata Fernando Mascarenhas, diretor da FEF. Através dos clubes esportivos e projetos de extensão, as atividades atingem a comunidade externa, consagrando ao CO o papel de difusor do esporte na população do DF e Entorno.

 

Os docentes Alexandre e Fernando celebram a responsabilidade que o complexo desportivo assume ao disponibilizar atividades com pouca oferta no mercado. Os atendimentos direcionados a pessoas com diabetes, degeneração neuronal ou da terceira idade são exemplos da atenção da unidade a quem carece de atendimento especializado.

O professor Alexandre Jackson Chan-Vianna, chefe do CO, destaca o papel que o complexo tem em atender, de forma robusta, o público mais necessitado. Foto: Beatriz Ferraz/Secom UnB

 

“O Centro Olímpico tem uma grandeza de espaços e instalações, mas também tem esse compromisso social com as pessoas mais necessitadas e menos atendidas”, pontua Alexandre Chan-Vianna.

 

A pandemia, porém, impactou diretamente essas atividades de ensino, pesquisa e extensão. Manteve-se aberto o Centro de Excelência em Saltos Ornamentais, para que atletas olímpicos continuassem os treinamentos, e atividades comunitárias voltadas aos alunos que permaneceram na Casa do Estudante Universitário (CEU).

 

Parte considerável das atividades estão dedicadas ao estudo e planejamento do retorno presencial, mas algumas adotaram sistema remoto, por exemplo, aquelas voltadas à terceira idade. No caso das disciplinas de prática desportiva, houve redução significativa no número de turmas ofertadas. ''O CO continua ativo, mesmo que tendo sua estrutura, neste momento, fechada”, pondera o diretor da FEF.

 

CENTRO OLÍMPICO RENOVADO – Mesmo com a circulação restrita devido ao isolamento social, a Universidade tem preparado o Centro Olímpico para que receba os estudantes com segurança e revitalizado assim que o Conselho de Ensino, Pesquisa e Extensão (Cepe) autorizar as atividades presenciais.

 

O diretor lembrou que a Faculdade de Educação Física tem cumprido as demandas em consonância com o Plano Geral de Retomada das Atividades e com o Plano de Contingência da FEF. “Nós estamos preparando a infraestrutura do CO, no que diz respeito às orientações de biossegurança, para o melhor acolhimento dos alunos quando retornarmos", destaca Fernando Mascarenhas.

 

Até o momento, banheiros receberam manutenção, bebedouros foram equipados com sensores de proximidade, houve a aquisição de dispensadores de álcool em gel e foi elaborada a sinalização para os frequentadores. Além dessas ações, o professor observa que têm sido pensados protocolos de biossegurança para cada modalidade esportiva.

 

Também programa-se para o retorno presencial a reinauguração do complexo de atletismo. A previsão é de que a primeira fase termine neste mês de setembro, seguindo, assim, para a instalação do piso de borracha e dos equipamentos e para pintura.

Diretor da FEF, Fernando Mascarenhas lamenta a comemoração de uma data tão importante de portas fechadas, mas destaca que o retorno tem sido planejado cautelosamente. Foto: Luis Gustavo Prado/Secom UnB

 

Algumas quadras receberam pintura nova, houve manutenção do telhado do ginásio de esportes e, a partir de uma parceria com o Decanato de Assuntos Comunitários (DAC), cerca de R$ 700 mil foram destinados à compra de materiais esportivos.

 

Programado para ser implementado em 2020, o projeto UnB Esportes está em compasso de espera. A iniciativa é fruto de uma parceria com a Fundação de Empreendimentos Científicos e Tecnológicos (Finatec) e visa aplicar no esporte da Universidade um sistema parecido com o do UnB Idiomas. Com todas as etapas de formalização já cumpridas, o diretor da FEF entende que o início deve acompanhar a retomada das atividades presenciais.

 

“É um projeto que visa também estabelecer um novo modelo de gestão. Ele não concorre com a prática desportiva para os estudantes e com os clubes esportivos”, observa Fernando. O professor explica que o surgimento parte da percepção da ociosidade de alguns equipamentos da FEF, como piscina, sala de dança e quadra de futebol. Mas, uma vez que não teriam como arcar com o custo de manutenção desses equipamentos, propuseram a parceria com a Finatec e a criação do UnB Esportes.

 

A coordenadora de extensão da FEF, Lídia Bezerra, garante que, assim que for autorizada a volta da comunidade universitária ao espaço do CO, cada coordenador de projeto, programa ou evento fica responsável por fazer valer a boa prática dos protocolos. A docente tira uma lição do fechamento: “Acredito que a paralisação por conta da pandemia faz valorizar um espaço tão necessário, não somente para a saúde física, mas também para a saúde mental”.

 

PROGRAMAÇÃO – Além do Jubileu de Ouro do Centro Olímpico, neste ano, a Faculdade de Educação Física comemora os 15 anos do Programa de Pós-Graduação em Educação Física (PPGEF) e os 15 anos da Educação a Distância (Ead) na FEF. Confira a programação preparada para celebrar as datas:

Programação comemorativa dos 50 anos do Centro Olímpico. Arte: Divulgação

 

*estagiário de Jornalismo na Secom/UnB.

 

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