SAÚDE

Fruto de projeto de extensão com envolvimento de estudantes de Nutrição da UnB, serviço oferece alternativa para cuidado em casos de difícil controle

Serviço oferecido pelo HUB já tem atendido pacientes com epilepsia secundária a algumas condições de saúde. Foto: Beto Monteiro/Secom UnB

 

O Hospital Universitário de Brasília (HUB-UnB), vinculado à Empresa Brasileira de Serviços Hospitalares (Ebserh), oferece um novo serviço para pacientes que apresentam epilepsia de difícil controle medicamentoso. O ambulatório é resultado de um projeto de extensão universitária de autoria da professora Lisiane Seguti, da Faculdade de Medicina da Universidade de Brasília, e é coordenado pelo neurologista infantil Paulo Lobão. A iniciativa conta ainda com a participação efetiva da nutricionista do HUB, Juliana Rolim, e da nutricionista voluntária Shila Hargreaves, além dos médicos residentes da Neurologia Infantil do HUB e de alunos bolsistas e voluntários do curso de graduação em Nutrição da UnB, como os tutores Tauã Veloso Araújo e Fernnanda Sá Rodrigues.

 

A dieta cetogênica (DC) é um tratamento alternativo indicado para o controle de crises epilépticas, especialmente quando os resultados obtidos com os medicamentos não são satisfatórios. É uma dieta com elevado teor de gorduras, pobre em carboidratos, adequada em proteínas, que mimetiza no organismo os efeitos bioquímicos benéficos do jejum. Trata-se de uma dieta complexa, que demanda esforço e colaboração multiprofissional, com equipe médica e nutricional bem integrada, além do apoio e da participação ativa da família do paciente, a fim de favorecer a adesão e minimizar os efeitos adversos.

 

Desde a implantação do serviço no HUB, em maio deste ano, algumas crianças foram elegíveis para tratamento com DC. Foram atendidos pacientes com epilepsia secundária a algumas condições, como: esclerose tuberosa, síndrome de Lennox-Gastaut, deficiência da GLUT-1, hiperglicinemia não cetótica, entre outras.

 

Thaiza Ribeiro Costa é uma das pacientes atendidas pelo projeto. Ela apresenta a síndrome de Lennox-Gastaut, uma encefalopatia epiléptica grave, e já tinha utilizado 14 diferentes fármacos anti-crise. Apresentava até oito crises diárias, quando chegou ao serviço. Atualmente, chega a ficar alguns dias sem apresentar nenhuma crise. Gislene, sua mãe, diz estar muito satisfeita com os resultados obtidos com a DC: “Desde agosto, quando começamos com a dieta, consegui notar melhora não somente na frequência das crises, mas também no comportamento. Embora trabalhosa, tem valido muito a pena, levando em consideração os avanços alcançados”.

 

“É muito comum que, num primeiro contato, os pacientes e seus familiares estranhem a grande quantidade de alimentos gordurosos da dieta”, explica Tauã Veloso, estudante de Nutrição e tutor no projeto. No entanto, apesar da proporção de gordura ser maior em relação aos outros alimentos, a necessidade nutricional de cada paciente é calculada individualmente, e a proposta de dieta é construída levando em consideração as preferências e limitações dos pacientes.

 

É importante lembrar também que, após dois ou três anos de tratamento com a DC, muitos pacientes alcançam resultados tão satisfatórios que conseguem flexibilizar a dieta ou até mesmo voltar à alimentação normal, mantendo bom controle da epilepsia. Essa proposta de tratamento por meio da mudança de hábito alimentar propicia redução, ou mesmo suspensão, dos medicamentos, diminuição de internações e visitas hospitalares e dos custos relacionados, o que impacta, de forma notável, a qualidade de vida do paciente.

 

Os estudantes do curso de Nutrição vêm trabalhando intensivamente para a real efetivação do projeto, promovendo reuniões semanais para revisão de literatura e discussão de casos clínicos, o que resultou na elaboração de um protocolo nutricional de atendimento. A equipe de alunos, juntamente com os nutricionistas responsáveis, organizaram um guia da dieta cetogênica, que é fornecido ao paciente. Além disso, foi criado um caderno de receitas para suporte da equipe e divulgação aos pacientes e seus familiares. Um perfil no Instagram (@dietacetogenicahub) está disponível para esclarecer algumas dúvidas e fornecer explicações sobre o tipo de tratamento e como os pacientes podem se beneficiar dele.

 

Para os alunos de Nutrição, o projeto enriqueceu a formação acadêmica, oferecendo oportunidade única de aprendizado, experiência e prática, os quais foram muito prejudicados com a pandemia. O contato direto com o paciente é gratificante, já que beneficia não apenas a formação do futuro profissional, mas também a toda população, que será atendida por um profissional melhor capacitado.

 

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