Com currículo de peso e forte atuação na área de ecologia, a professora do Instituto de Ciências Biológicas (IB) da Universidade de Brasília Mercedes Bustamante recebeu com surpresa a notícia de que havia sido eleita membro da Academia de Ciências dos Estados Unidos (US National Academy of Sciences – NAS), no fim de abril.
“Sim, a eleição foi uma surpresa, mas que veio em um momento em que esse estímulo é muito necessário. A eleição abre possibilidade de ampliar a cooperação científica internacional e contribuir para debates importantes de política científica, relevantes para nossas instituições”, acredita a docente, que também integra o seleto grupo da Academia Mundial de Ciências desde 2018 e é membro da Academia Brasileira de Ciências desde 2014.
“Num momento tão crítico para nossa ciência e nossas universidades públicas, é um sinal da qualidade da pesquisa feita no Brasil e que reforça porque é preciso garantir seu fomento. Sem um apoio continuado e estável, é muito difícil construir linhas de pesquisa com foco em estudos de longa duração. Tais estudos são essenciais quando avaliamos mudanças ambientais”, avalia Mercedes.
Todos os anos há eleição de novos membros para a Academia Nacional de Ciências estadunidense (NAS) como reconhecimento às suas realizações distintas e contínuas em pesquisas originais. A associação é considerada uma das maiores honrarias que um cientista pode receber.
“Creio que um significado importante é o reconhecimento de um trabalho construído por um grande grupo de colaboradores, alunos em diferentes níveis e colegas, e ao longo de muitos anos. A ciência cresce com a cooperação e, em particular, a área de ecologia de ecossistemas, pois os estudos são de longo prazo e envolvem várias abordagens, como trabalho de campo, laboratório, modelagem. Assim, destaco o enorme privilégio que tive em aprender com todos esses colegas e trabalhos conjuntos”, ressalta a professora da UnB, que apareceu entre os cientistas mais citados do mundo em 2020, segundo o site Web of Science.
>> Relembre: Professora da Universidade de Brasília está entre as mais citadas do mundo em 2020
“O mérito não é individual, é realmente coletivo e contar com um espaço que incentiva a pesquisa, o ensino de alto nível e a pós-graduação foi central para que as colaborações pudessem avançar. Eu espero que isso seja um estímulo para nossos jovens pesquisadores mesmo diante das tantas incertezas que, atualmente, fragilizam as áreas de educação e ciência no Brasil”, acrescenta Mercedes Bustamante.
Ela também foi reconhecida em 2018 com a Ordem Nacional do Mérito Científico, condecoração máxima do país a profissionais com contribuições relevantes à ciência. A previsão é de que a docente tome posse na NAS na reunião da Academia em abril de 2022.
MEMBROS – A NAS é uma sociedade privada, sem fins lucrativos, de estudiosos ilustres, estabelecida em 1863 pelo presidente Abraham Lincoln. Dos 2.400 membros nativos e 500 internacionais que por lá já passaram, aproximadamente 190 receberam prêmios Nobel.
Embora muitos nomes sejam sugeridos informalmente, apenas os próprios membros da Academia Nacional de Ciências dos Estados Unidos podem enviar indicações formais para a eleição. A consideração de um candidato começa com essa etapa, seguida por um extenso e cuidadoso processo de verificação que resulta em uma votação final na reunião da Academia, em abril de cada ano.
Hoje, podem ser eleitos 120 membros, no máximo, a cada vez. Desses, apenas 30 podem ser membros internacionais, como Mercedes Bustamante – os demais devem ser necessariamente cidadãos americanos.
A afiliação dos membros se dá entre seis possíveis classes: Ciências Físicas e Matemáticas; Ciências Biológicas; Engenharia e Ciências Aplicadas; Ciências Biomédicas; Ciências Comportamentais e Sociais; Ciências Biológicas, Agrícolas e Ambientais Aplicadas.
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