PIONEIRISMO

Seminário na Faculdade UnB Planaltina celebrou a data. Universidade foi uma das pioneiras na implementação do curso no país

Seminário em comemoração aos 15 anos do curso durou quatro dias, com intensa programação para celebrar feitos, rememorar trajetórias e debater políticas. Foto: Raquel Aviani/Secom UnB

 

Neste mês de maio, o curso de Licenciatura em Educação no Campo (Ledoc) da UnB completou 15 anos. Dos dias 17 a 20, a Faculdade UnB Planaltina sediou o seminário Educação é Direito e não mercadoria, que celebrou o aniversário da graduação destinada a formar pessoas do campo para a atuação docente em suas comunidades. A programação abrangeu palestras, feiras e apresentações culturais.

A professora Mônica Molina, organizadora do seminário e docente nos programas de Pós-Graduação em Educação e de Pós-Graduação em Meio Ambiente e Desenvolvimento Rural da Faculdade de Planaltina, redigiu artigo de opinião sobre a trajetória de luta, resistência e conquistas que permeia esses 15 anos da Ledoc.

Fundada sobre raízes mais profundas, como as da Política de Educação do Campo e do Programa Nacional de Educação na Reforma Agrária (Pronera), a Ledoc está enquadrada no rol do decreto nº 7.352/2010 da Presidência da República. E foi antes mesmo da formatação final deste texto legal que a história começou.

Mônica Molina, Elizana Monteiro dos Santos e Tawanne Prado: mulheres da Ledoc. Fotos: Raquel Aviani/Secom UnB

 

Em 2007, a UnB foi uma das quatro instituições de ensino superior que realizaram experiências-pilotos para viabilizar turmas de Ledoc, ao lado das federais de Bahia (UFBA), de Minas Gerais (UFMG) e do Sergipe (UFS). No processo, foi criado o Programa de Apoio à Formação Superior em Licenciatura em Educação do Campo (Procampo).

Hoje, 33 instituições estão com ofertas ativas do curso, que oferece uma experiência universitária ímpar a residentes do campo, indígenas, quilombolas, assentados, ribeirinhos, gerazeiros e membros de outras comunidades, resultando na construção da Educação Básica Brasil afora. Um ponto diferencial da dinâmica é a chamada Pedagogia da Alternância.

Dentro dessa lógica, cada semestre letivo acontece em dois períodos: Tempo Universidade e Tempo Comunidade. No Tempo Universidade, estudantes moram no campus por 60 dias, tendo aulas em período integral. Já no Tempo Comunidade, passam 90 dias atuando em projetos de pesquisa e extensão imersos em sua própria região de origem.

“Eu sou assentada há mais de 20 anos e buscava um curso que atendesse essa demanda da carência educacional no campo. Na minha comunidade, os professores precisavam viajar mais de cem quilômetros para dar aula. A possibilidade da alternância foi o que me fez decidir e conseguir ficar”, explana Elizana Monteiro dos Santos, egressa da Ledoc e morada do Assentamento Barreirinho, em Unaí, Minas Gerais.

“Esse formato não obriga o aluno a abandonar o campo. Você vem, cumpre o tempo na instituição e volta desenvolvendo pesquisando e ajudando a comunidade. Essa dinâmica me permitiu me formar”, acrescenta Elizana, que hoje é doutora pela Faculdade de Educação da Universidade de Brasília e ativista pela causa do campo em movimentos como o dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST).

Tawanne Prado, estudante do segundo semestre, partilha da mesma conclusão. “O nosso curso mantém o sujeito do campo dentro do campo e nos devolve para nossas comunidades prontos para educar os nossos.”

Ela se emociona ao contar mais sobre a Ledoc. “Vemos uma história de massacre e diminuição de povos camponeses, negros e indígenas e afirmamos que não é normal essa discriminação. Nós pertencemos ao ensino superior também e eu tenho um sentimento de orgulho muito grande por estar aqui”, ressalta.

Na atividade de abertura do Seminário, em 17 de maio, representantes desfraldaram estandartes com as personalidades que representam cada turma. Foto: Raquel Aviani/Secom UnB

 

Orgulho que é ilustrado por cada uma das turmas já formadas na Ledoc. Cada uma escolheu uma figura histórica para representar e homenagear. Ao longo desses 15 anos, nomes como Zumbi dos Palmares, Marielle Franco, Dandara, o professor Bernard Hess e mais personagens e grupos essenciais para a luta pela igualdade estão representados.

Outra particularidade presente no cotidiano de estudantes da Ledoc é a chance de contar com o apoio do Projeto de Extensão Educação Infantil Ciranda, que apoia a permanência das discentes que são mães no ciclo de dois meses em que elas estão longe de casa.

O projeto oferece um espaço educativo de cultura e formação, de cuidado e de recreação para os filhos das estudantes da Ledoc. “Eu fui beneficiada por esse projeto e depois da formatura me voluntariei para ajudar. Durante o período em que fui professora substituta aqui na UnB, estive à frente como coordenadora. Hoje o projeto está sob a coordenação da professora Eliete Wolff, que atua ativamente nele desde a sua fundação, em 2008”, destaca Elizana.

SERVIÇO – Até 29 de maio, estudantes da Ledoc podem se inscrever no Programa de Auxílio Transporte para Cursos de Alternância. Há cem vagas. As regras estão no edital, publicado no site da DDS/DAC.

 

 A abertura do seminário está disponível no YouTube:

 

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